Falas no plenário da Câmara da Serra foram direcionadas a Raphaela e Elcimara Loureiro
Um dos principais opositores do prefeito da Serra, Weverson Meireles (PDT), o vereador Pastor Dinho (PL) usou a tribuna da Câmara Municipal para atacar a colega de plenário Raphaella Moraes (PP) e a ex-vereadora Elcimara Loureiro (PT), chamando-as, respectivamente, de “histérica” e “descabelada”. Os insultos ocorreram em meio ao debate sobre o vídeo de uma moradora do município grávida, que questionava o prefeito sobre a falta de médicos e dentistas em uma unidade de saúde.
O caso começou nessa segunda-feira (29), quando o vereador Agente Dias (Republicanos) exibiu o vídeo em plenário. Nele, a moradora pede melhorias no atendimento e o prefeito aparece tentando impedir a gravação. A mulher reage, afirmando que Weverson estaria tentando tirar o celular da mão dela, classificando o fato como “agressão”.
Agente Dias transmitiu um vídeo em que analisava a gravação quadro a quadro, detalhando a expressão facial de Weverson como um “sinal de incômodo” e apontando a mão do prefeito, que, segundo ele, tinha uma aliança, tentando interromper a gravação da moradora. Ele, no entanto, ressaltou que não estava afirmando que o prefeito era um agressor de mulheres, mas que a postura não era compatível com a de um chefe de Executivo. As críticas também recaíram na vice-prefeita, Delegada Gracimere (MDB). “O primeiro ano de mandato nem aconteceu. Ele só não entrega esse cargo para a Gracimere porque não confia nela. Se confiasse, entregava e iria para casa”, declarou.
Raphaella Moraes se manifestou sobre o episódio, destacando a necessidade de acolhimento e seriedade no trato com os temas de violência e com as famílias, mas ampliou o debate para a questão da agressão e violência contra a mulher no ambiente político. Ela iniciou definindo agressão como “qualquer exposição direcionada contra qualquer pessoa” e questionou o que considerou ser uma seletividade nas críticas de alguns colegas.
A vereadora afirmou ter assistido “várias agressões verbais de vereadores desta Casa, sempre direcionadas às mulheres que ocupam cargos nesse município”, citando exemplos que, em sua visão, configuravam agressão e violência política de gênero: chamar o prefeito de péssimo, mas a vice-prefeita Gracimere Fonseca de “pior”, sem apresentar críticas a atos concretos de sua gestão; um vídeo anterior que questionava se uma mulher que ganhava R$ 19 mil não teria dinheiro para comprar um pente; usar o microfone para sugerir ao presidente que mandasse embora uma servidora mulher da Câmara.
“Sucessivas agressões contra a mulher acontecem aqui com frequência, mas só uma foi objeto de um recorte, um vídeo na rede social, a gente precisa repensar”, pontuou. Ela mencionou, ainda, o medo que sente por ser mulher, dizendo ter sido alvo de “agressões selecionadas” e destacando que, apesar do erro pontual, o prefeito é conhecido como um “gentleman” e que “não tem um comportamento agressivo, não tem um discurso de ódio, não usa sua rede social para expor mulheres”.
Nessa quarta-feira (1º), Pastor Dinho utilizou seu tempo na tribuna para rebater as críticas, focando especificamente em Raphaella Moraes. Ele a acusou de demonstrar “imensa covardia” na tentativa de defender o prefeito e de ser uma “feminista de ocasião” que, “no mínimo de divergência que tem, já começa com histeria dizendo que é violência política”. Ele ainda a acusou de tentar impor “as suas leis e as leis feministas, as regras de que não toque em mim, não debata comigo porque eu sou mulher”, e de sair “dessa Casa chorando”, apenas porque “os colegas contestaram alguma fala da senhora”.

Pastor Dinho citou ainda a ex-vereadora Elcimara Loureiro ao se defender de uma crítica feita por Raphaella sobre uma declaração depreciativa que ele teria feito a Elcimara, dizendo que precisaria de um pente. Ele então repetiu: “Se é violência dizer que uma vereadora precisa de um pente, vou cometer outro crime: precisa de um pente mesmo. Descabelada”, disparou.
O caso amplia a lista de episódios semelhantes envolvendo mulheres e minorias na Câmara da Serra. Em junho deste ano, o Ministério Público do Espírito Santo (MPES) requisitou a instauração de um inquérito policial para apurar declarações consideradas discriminatórias e de intolerância religiosa proferidas pelo Pastor Dinho e Antonio C&A (Republicanos). A medida atendeu a uma representação apresentada pelo Conselho Municipal de Promoção de Políticas da Igualdade Racial, com apoio de movimentos sociais capixabas.
Em segredo de justiça, também corre um processo envolvendo a funcionária terceirizada da Câmara da Serra, Saionara Paixão, demitida após denunciar perseguições religiosas sofridas no ambiente de trabalho por ser praticante de religião de matriz africana. O caso, que mobilizou o Fórum Chico Prego e motivou o pedido de uma audiência pública em maio, apontou acusações de racismo religioso e violência institucional.
Os episódios ocorreram em sessões após a aprovação do Projeto de Resolução nº 10/2025, que alterou o nome da Comissão de Direitos Humanos, incluindo os termos “Igualdade Racial” e “Povos Tradicionais”. Na ocasião da votação, Antônio C&A questionou “o que seriam povos tradicionais?”; afirmou que “pelo menos na Constituição que eu estudei, todos são iguais perante a lei”; e criticou a medida como “irrelevante”, mesmo após ter se autodeclarado quilombola.
Na sessão seguinte, em defesa de C&A, Pastor Dinho acusou um dos porta-vozes do fórum, Rosemberg Caetano, de “intolerância religiosa contra evangélicos”, devido às críticas feitas pelo militante às declarações do parlamentar. Após as ocorrências, o Fórum Chico Prego e outras organizações de luta pela justiça racial realizaram um ato público para o dia 14 de maio em frente à Câmara da Serra, para denunciar “violência institucional e ataques à população negra, religiões de matriz africana e pautas de diversidade”.