Sábado, 27 Abril 2024

Paulo Hartung vive momento complicado de sua vida política

Paulo Hartung vive momento complicado de sua vida política

 


Renata Oliveira e Nerter Samora





A semana foi marcada por mais uma denúncia contra o ex-governador Paulo Hartung (PMDB). O dique está se rompendo e Papo de Repórter analisa as

consequências políticas desses episódios no cenário eleitoral do próximo ano.






Renata – O mês de março não tem sido o melhor da vida do ex-governador Paulo Hartung (PMDB), não é? Ele começou sua carreira de professor universitário em meio a uma série de denúncias que pelo jeito não devem parar por aí. Acho que se ele tinha pretensões eleitorais para 2014, deve estar repensando o papel que vai desempenhar nas articulações da disputa do próximo ano.



Nerter – Não só ele. Há um cuidado da classe política muito grande com as denúncias. Houve uma tentativa, sempre há, de desqualificação dos acusadores do ex-governador Paulo Hartung. Mas isso não deu certo. Aliás, a reação da Associação Espírito-Santense do Ministério Público (Aesmp) em favor da atuação do promotor de Justiça Dilton Depes Tallon Netto, sobre a questão do posto fiscal, minou as chances de isso se reverter contra o promotor. Até mesmo a Transparência Capixaba se manifestou em favor do promotor. E disse mais: ninguém está acima da lei. Para bom entendedor, esse é um recado e tanto para o ex-governador, que se julgava perseguido. Mas não tem nada disso. As obras do posto fiscal “fantasma” – como foi apelidado – estão lá e agora quem vai explicar onde foram parar os R$ 25 milhões gastos no projeto que não saiu da fase de terraplanagem?



Renata – Ficou bem claro que Hartung não está acima da lei. O único que realmente se colocou como defensor do ex-governador foi seu sucessor, até porque foi eleito com o apoio dele em 2010. Mas ao assumir uma defesa intransigente do ex-governador Paulo Hartung, Renato Casagrande corre um risco muito grande. O governador tem problemas para construir sua reeleição. Problemas externos, com as perdas de recursos federais, que o têm tirado do Estado com frequência, problemas para dar as respostas sobre políticas públicas que a população espera, problemas em manter unida sua base. Assumir mais esse risco, o de defender Hartung, pode complicar sua vida em 2014.



Nerter – Agora, uma coisa que chamou a atenção esta semana foi o silêncio da Assembleia no assunto. A grande maioria do plenário é aliada de Hartung. Seja por acordo político, barganha ou pressão mesmo. Mas esperava-se que os deputados se revezassem na tribuna da Casa para rasgar elogios ao ex-governador, acusar os promotores e fazer a defesa não só da figura de Hartung, mas também de seu governo. Isso não aconteceu. Pelo contrário. O deputado Euclério Sampaio (PDT), que nunca sambou conforme a música de Hartung, foi para a tribuna da Casa pedir CPI, denunciar que havia pedido informação sobre o posto fiscal, cobrar postura dos colegas para investigar as denúncias. Só Gildevan Fernandes (PV) pediu aparte para defender Hartung



Renata – E ainda assim, tomou uma resposta de Euclério que deve tê-lo deixado tonto. O deputado deixou transparecer na resposta aquilo que o mercado político sabe de cor. O ex-governador ajudou Gildevan que tem problemas sérios na Justiça. Mas o resto do plenário ficou calado. O PMDB, partido do ex-governador e que tem cinco deputados na Casa, não saiu em defesa do correligionário. Se Gilsinho Lopes (PR), que levantou as duas lebres na Casa não quis dar continuidade ao debate, também não defendeu o ex-governador. Realmente a postura da Assembleia foi sintomática.



Nerter – Mas isso é compreensível. A Casa está muito desgastada neste início de ano. As movimentações em torno da eleição da Mesa Diretora, as denúncias contra Theodorico Ferraço (DEM), Solange Lube (PMDB), a falta de estribeiras de Roberto Carlos (PT), a pressão da imprensa, a instabilidade da vaga de Paulo Roberto (PMDB). Tudo isso causou um estrago na imagem do Legislativo. Os deputados estão tentando se segurar nas cadeiras, até porque, no próximo ano, vão ter que brigar por elas. Com os próprios problemas, assumir a defesa de Hartung, ainda mais diante da gravidade das denúncias, pode significar um suicídio político.



Renata – E essa cautela extrapola o plenário da Assembleia. Os aliados de carteirinha do ex-governador também estão cuidadosos. Cadê Ricardo Ferraço (PMDB) e Lelo Coimbra (PMDB)? Os dois já deveriam ter publicado artigos, lançado notas e discursos em favor do ex-governador, de quem além de correligionários, foram parceiros no governo. O problema é que os fatos que envolvem Hartung são muito graves. O governador que já vem, como ele mesmo diz, em viés de baixa, com as denúncias, tornou-se um fardo.



Nerter – Colocá-lo em um palanque agora será muito pesado para Casagrande e para seus aliados. Se sem as denúncias ele já pesou no palanque de Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB) no ano passado, imagina como estará em agosto, setembro de 2014. E pior, ele não pode nem alegar que isso é perseguição política, porque ele não tem mandato e não estamos em período eleitoral. O governo dele acabou e agora estão vindo à tona as coisas que ele conseguiu evitar que fossem investigadas quando estava à frente do Palácio Anchieta.



Renata – Isso é um ponto muito importante. Ele chegou a questionar por que só agora aparecem as denúncias. Bom, geralmente é depois do governo mesmo que as coisas começam a aparecer. Mas, além disso, há o fato de que fora do governo, Hartung não conseguiu manter a integridade de seu arranjo institucional. O Tribunal de Justiça foi o primeiro a mudar, quebrando o elo com o arranjo, embora ainda exista o núcleo de poder ligado ao Paulo na esfera do Judiciário, essa dinâmica se enfraqueceu muito. Apesar de o comando do Ministério Público ainda não ter sido rompido com o arranjo, a base já mostra resistência a essa prática. O Tribunal de Contas do Estado, apesar de ter muitos de seus membros ligados ao ex-governador, também sinaliza mudanças. A Assembleia vive um momento de reflexão.



Nerter – Em relação à Assembleia, a leitura que se faz é que a manutenção de Theodorico Ferraço (DEM) à frente da Casa garantiria a Hartung um espaço político verbalizado pelo presidente do Legislativo. Mas a situação de fragilidade em que se encontra aquele poder enfraquece muito esse espaço. Theodorico está tendo muita dificuldade para apagar os incêndios quase que diários no plenário e com essa situação o legislativo mais atrapalha do que ajuda.



Renata – Esses componentes são novos dentro do tabuleiro político de 2014, que está longe de ser definido - há também a conjuntura nacional, como abordamos em papos anteriores. As denúncias ligadas ao Paulo provocam uma nova contingência. Será que ele vai topar ser candidato a todo custo? Neste final de semana, circula uma pesquisa da Flex Consult com o virtual confronto entre o ex-governador e o atual mandatário do Palácio Anchieta. Muita gente torceu o nariz para os números, mas não se pode deixar de considerar que se trata de uma fotografia do atual momento, se está desfocada ou “photoshopada”, veremos nos próximos capítulos dessa corrida.



Nerter – Mas não há como negar que o ex-governador nunca esteve tão na mira. Ele mesmo, que gostava de falar de que a onça não estava morta, pode ser referir a si mesmo usando esta mesma expressão. Ele está ferido, acuado, mas nunca se pode descartar a sua genialidade política. Muito embora ser gênio com um arranjo institucional e a classe política capixaba sob seus braços fica muito mais fácil.

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