Segunda, 06 Mai 2024

Posição de Casagrande sobre disputa presidencial fortalece palanque socialista no Estado

Nerter Samora e Renata Oliveira





 
A entrevista de Casagrande, publicada na quinta-feira (15) no Valor Econômico, tem um peso político muito grande, tanto no cenário nacional quanto nas articulações do Estado. Papo de Repórter analisa a influência desse posicionamento do governador que disse que o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, ainda não está pronto para disputar à Presidência da República.
 
Nerter – O governador Renato Casagrande sempre teve um espaço considerável na imprensa nacional, uma influência que conseguiu com sua passagem pelo Congresso. Diante das incertezas que tomaram conta do mercado político desde a precipitada e atrapalhada decisão do presidente do PSB, o governador de Pernambuco Eduardo Campos de disputar a eleição presidencial do próximo ano, Casagrande vinha se posicionando cautelosamente sobre o assunto. Mas como esse processo atrapalha profundamente suas movimentações no Estado, decidiu lançar mão desse espaço na mídia nacional para mandar um recado tanto para a cúpula petista quanto para a sua base no Estado.
 
Renata – Não parece ter sido por acaso a escolha do Valor Econômico para fazer sua declaração de que Campos ainda não tem musculatura para disputar a Presidência da República. O jornal é respeitado nos meios políticos e entre os formadores de opinião. A entrevista é estratégica e mata dois coelhos com uma cajadada só. Primeiro, o governador deixa transparecer para a cúpula petista que tem interesse em continuar alinhado com a base do governo Dilma Rousseff. Segundo, acalma sua base política, mostrando que está disposto a fazer o que for preciso para manter a unanimidade pela qual foi eleito em 2010.
 
Nerter – Se antes as movimentações dos governadores socialistas contra a candidatura do presidente do partido ficava meio vaga, sem um nome de peso se colocando sobre o assunto, Casagrande, com o status de único governador do partido fora do nordeste e, principalmente, de secretário-geral do partido, mostra que Eduardo Campos terá dificuldade em passar por cima dos interesses das demais lideranças do PSB em nome de seu projeto pessoal. É claro que Casagrande não faz isso de forma tão dura quanto os irmãos Ciro e Cid Gomes, mas o peso de sua declaração tem mais efeito dentro do partido, justamente pela posição que ocupa na cúpula socialista.
 
Renata – O que causou estranheza nos meios políticos foi notícia na publicada imprensa capixaba no dia seguinte da declaração de Casagrande, da suposta pressão do PMDB nacional para que o partido tenha palanque majoritário para assegurar um espaço para a candidatura à reeleição da presidente Dilma Rousseff no Estado. O palanque já teria até os espaços determinados, com Ricardo Ferraço na disputa ao governo e Paulo Hartung ao Senado. Qual o objetivo disso?
 
Nerter – Quando Casagrande dá a demonstração de que quer manter a unanimidade, da qual o PMDB é parceiro de primeira linha, parece mais é querer jogar para a plateia do que uma efetiva necessidade do PMDB lançar candidatura própria. E parece também ser um reflexo do posicionamento do governador sobre a disputa presidencial. Mas o PMDB não é o grande problema dessa história toda e sim o PT. Resta saber se a declaração de Casagrande convenceu o partido de que, desta vez, o Palácio Anchieta vai mesmo fazer campanha para Dilma no Estado. Até porque o governo federal tem um trunfo para o próximo ano que é o senador Magno Malta (PR).
 
Renata – Verdade. A esta altura, no Estado, ninguém vai conseguir fazer o senador recuar de sua candidatura ao governo no próximo ano. Ainda mais que a estratégia de esvaziar o partido dele, retirando as lideranças com peso político para a proporcional, saiu pela culatra. Com o congestionamento de lideranças no palanque de Casagrande, o palanque do PR passou a ser um espaço interessante para quem quer sair das coligações muito pesadas. Candidatos proporcionais não vão faltar ao lado de Magno Malta e ele tem capacidade retórica para conseguir capitalizar seus aliados.
 
Nerter – Bom, se depender do PT daqui, a permanência no palanque de Casagrande está garantida. A movimentação do ex-prefeito de Vitória João Coser (PT) dizendo que pode disputar senado, vice ou até mesmo o governo foi mais para fortalecer seu nome no debate político. Com a declaração de Casagrande, os ânimos no Estado ficam serenados e o compromisso do socialista com os aliados históricos fica renovado.
 
Renata – O que fica remoendo nos meios políticos, porém, é como Casagrande vai conciliar em seu palanque vertentes tão distintas. Nessa sexta-feira (17), apareceu o ex-prefeito de Vitória, Luiz Paulo Vellozo Lucas, dando a entender que o PSDB está a um passo de também ingressar na unanimidade com Aécio Neves e tudo. Se Eduardo Campos se candidatar mesmo, ele pode até manter a independência, mas não vai ter como evitar que seus aliados socialistas façam campanha para ele e ainda tem a Dilma, que precisa de um palanque forte para o próximo ano no Estado. Uma outra derrota pode custar caro.
 
Nerter – Acho que essas questões devem se dirimidas quando o processo começar para valer. A intenção de Casagrande, neste momento, me parece ser de acalmar os ânimos para que a ansiedade não tome conta de seu grupo fazendo com que as decisões se precipitem, o que para ele não é nada bom. Este ano, os partidos estarão escolhendo seus presidentes e o embate muito pautado nesta questão nacional pode trazer para dentro das siglas um clima que não vai ajudar Casagrande a erguer seu palanque do jeito que pretende, com todo mundo junto.
 
Renata – Se o objetivo dele foi esse, acho que ele conseguiu. O eco para dentro do Estado e para fora foi muito grande e evidentemente, Casagrande conseguiu o que queria, esfriar os planos de Eduardo Campos e desacelerar a possibilidade de racha do PSB com PT e PMDB.
 
Nerter – Não sei, vamos ver como o Eduardo Campos vai reagir a isso.

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