Domingo, 28 Abril 2024

Protestos nas ruas e racha na Ales mergulham governo na sua pior crise

Na entrevista publicada no jornal A Gazeta, na edição deste domingo (21), o governador Renato Casagrande (PSB), fazendo uma análise sobre os protestos, admitiu que o momento é "difícil e delicado". Os termos escolhidos pelo socialista, porém, não refletem a extensão da crise que se instalou no governo, que é muito maior do que se imagina e mais crônica.
 
O próprio governador revela na entrevista que está bastante apreensivo. Isso fica patente quando ele pede o apoio da população contra a violência que, na sua opinião, tirou o brilho da marcha histórica que levou 100 mil às ruas da Capital capixaba, tentando convencer a opinião pública que o ato do dia 20 de junho foi uma demonstração de civilismo e os de agora são patrocinados por vândalos e baderneiros.
 
Não bastasse efervescência das ruas, que no ato da última sexta-feira (19) escolheu o Palácio Anchieta como alvo principal do protesto, Casagrande enfrenta, desde que assumiu o governo em janeiro de 2011, uma crise sem precedentes na Assembleia Legislativa.
 
O projeto de decreto legislativo de autoria do deputado Euclério Sampaio (PDT), que propunha o fim da cobrança do pedágio na Terceira Ponte, mostrou que a propalada unanimidade não era tão sólida quanto imaginava o Palácio Anchieta. A votação do projeto, além de motivar a ocupação da Assembleia por 12 dias, provocou um racha na Assembleia, que estremeceu a relação do governo com a principal escora da sua base aliada, quando os deputados do PT, em bloco, decidiram votar contra o Executivo, expondo a fragilidade do governo. 
 
Os dois episódios, se observado o histórico do governo Casagrande, não surpreendem. Na verdade, a relação com os deputados, apesar do discurso da unanimidade, já não era boa faz tempo. O governo sempre minimizou o descontentamento dos deputados, que desde o início da gestão do socialista se queixam da falta de interlocução com o governador e sua equipe, principalmente com o chefe da Casa Civil, Luiz Cecilliotti, que sempre se mostrou refratário ao diálogo com o Legislativo estadual.
 
Com relação às demandas do asfalto, embora Casagrande exclame que seu governo sempre foi aberto ao diálogo com os movimentos sociais, não foi isso que se viu nestes mais de 30 meses de governo. É só recordar que nos primeiros meses da gestão, o socialista enfrentou duas grandes manifestações, que acabaram em violência e, por isso, viraram notícia na mídia nacional. 
 
Um dos episódios ocorreu em Barra do Riacho, em Aracruz, quando cerca 300 famílias foram retiradas com violência de uma área ocupada. O uso desproporcional da força, em mais uma operação truculenta do Batalhão de Missões Especiais (BME), deixaria a primeira nódoa no governo que chegava ao poder com a "grife" de socialista. À época, a senadora Ana Rita (PT) repudiou a ação da polícia, que ela classificou como "inaceitável". 
 
Logo depois, em junho daquele mesmo ano, o governo sofreria um novo arranhão na imagem, com as manifestações do Movimento Contra o Aumento (MPA), que também tomaram as ruas, mais precisamente a praça do pedágio da Terceira Ponte, e foram reprimidos, igualmente, pelo BME. Ou seja, isso não é de agora, a pressão das ruas já estava em ebulição há dois anos. 
 
Nos episódios de Barra do Riacho e dos protestos dos estudantes contra o aumento das tarifas de ônibus, assim como a crise na Assembleia e os  protestos que tomam conta das ruas há mais de um mês, têm um ponto comum: em todos eles o governo demorou para agir, esperando que as coisas voltassem aos trilhos naturalmente. Quando perdeu o controle da situação, convocou interlocutores impróprios e despreparados para conduzir os conflitos. Resultado,  a crise se agravou e desgastou ainda mais a imagem do governo. 
 
Na crise atual, desde que o primeiro protesto tomou o asfalto, há um mês, o governo tem usado o comandante da PM e o secretário de Segurança como principais interlocutores da crise, embora a definição da estratégia, depois que o governo se reconheceu incapaz de controlar a situação, tenha sido entregue ao presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Pedro Valls Feu Rosa. 
 
O mandatário da Corte estadual, é verdade, tem muito mais recursos que André Garcia (Segurança) e Edimilson dos Santos (PM). Não pode tampouco ser comparado a Robson Leite (o então secretário de Governo - hoje Finanças - que conduziu a insana desocupação em Barra do Riacho) ou ao vice-governador Givaldo Vieira (o petista foi responsável pela desastrosa negociação com os estudantes do Movimento Contra o Aumento), mas também não é um operador de milagres para pôr fim a uma crise, que explodiu agora, mas que vem sendo encubada desde janeiro de 2011.

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