Sábado, 27 Abril 2024

Quebra da unanimidade pode trazer a disputa para as eleições de 2014

Quebra da unanimidade pode trazer a disputa para as eleições de 2014
Nerter Samora e Renata Oliveira
 
Diz a máxima que “o diabo mora nos detalhes”. Com a possibilidade de o governador Renato Casagrande (PSB) ter de enfrentar o ex-governador Paulo Hartung, nunca essa frase fez tanto sentido. Papo de repórter analisa o cenário que se coloca para a eleição deste ano.
 
Nerter – Em 2010, a reviravolta da eleição aconteceu em abril, com a troca do candidato ao governo, Ricardo Ferraço (PMDB) por Renato Casagrande. Desta vez, o revés veio ainda em março, com a possibilidade agora bem palpável de o ex-governador Paulo Hartung (PMDB) lançar uma candidatura própria ao governo ao lado dos ex-prefeito de Vitória, João Coser, como candidato ao Senado; e o ex-prefeito da Serra, Sérgio Vidigal (PDT), como vice. Por trás dessas movimentações uma semelhança entre 2010 e 2014: Lula. Naquele momento, o acordo nacional com PSB tirou Ciro Gomes da disputa presidencial. Agora, o ex-presidente e grande estrela do PT se reúne com três lideranças do Estado para isolar a candidatura de Eduardo Campos à Presidência da República, enfraquecendo o palanque de reeleição de Renato Casagrande. 
 
Renata – Agora dá até para entender alguns sinais que rondaram os bastidores esta semana. O que antes era desconexo, se encaixou perfeitamente com essa notícia. Desde o anúncio do estudo que mostrou o aumento dos gastos do Estado por economistas ligados ao gabinete do senador Ricardo Ferraço (PMDB), o senador peemedebista vem negando conhecimento do caso. Agora, começo a acreditar. Até porque, mais uma vez, Ricardo ficou fora da articulação. Outro sinal da exclusão do senador é a informação de que ele estaria se aproximando do prefeito de Vitória, Luciano Rezende (PPS), principal aliado do governador Renato Casagrande e desafeto declarado de Paulo Hartung. Ricardo colocou seu nome à disposição do partido e foi rechaçado pelo PMDB local porque não teria densidade eleitoral para segurar o palanque próprio. Mas Hartung disputando, é outra história. 
 
Nerter – A gente sabia que depois do carnaval as conversas passariam a definir o cenário, mas não imaginávamos que elas se aprofundariam de tal forma e mexeriam tão rapidamente no tabuleiro eleitoral deste ano. Afinal, Hartung é conhecido por suas decisões em cima da hora e ainda faltam mais de dois meses para as convenções. Claro que os movimentos de Hartung já se mostravam politicamente desde o ano passado quando ele intensificou sua atuação no interior do Estado, com as palestras sobre gestão, que criaram uma imagem de bom gestor muito forte, imagem esta que se encaixa com a divulgação do estudo sobre os gastos de Casagrande. Esse sim foi o gatilho para toda a movimentação dos últimos dias. Lançado na véspera da prestação de Contas de Casagrande (10/02) serviu de um primeiro teste para o socialista. Ele se saiu bem, mas tinha muito mais coisa por trás daquele primeiro ataque.
 
Renata – Tivemoseve também o movimento dos pedetistas lançando Vidigal ao Senado, o que o tirou da mesa de negociação e, claro, o movimento do PT para limpar o campo, tirando Ana Rita da jogada. Coser ficou livre para fazer a negociação como o nome do partido nesta construção. Por último, tem essa movimentação do Ricardo Ferraço com o Luciano Rezende, buscando aproximação depois de mais uma vez ser jogado para escanteio. Ricardo também já havia mergulhado no processo, se voltou para suas atividades no Senado, onde, aliás, vai muito bem, obrigado!
 
Nerter – Um outro detalhe importante nesta história é a Assembleia Legislativa. O movimento de rebeldia que agrega poucos nomes na Casa – Paulo Roberto (PMDB), Euclério Sampaio (PDT) e esporadicamente José Esmeraldo (PMDB) e Gilsinho Lopes (PR) e Lúcia Dornellas (PT) – tem feito barulho. Mas o governador Renato Casagrande continua tendo a maioria dos deputados. Há, porém, uma questão numérica muito importante a ser considerada, a união de PMDB, PT e PDT agregaria 16 deputados no plenário, ou seja, a maioria. É claro que nem todos os deputados desse grupo se alinham a essa estratégia, Marcelo Santos, por exemplo, hoje é muito mais governista do que qualquer outro parlamentar na Casa. Mas hoje Casagrande tem cerca de 20 partidos em sua base, resta saber quantos vão sobrar com um palanque forte, com a influência nacional no pleito enfrentando Hartung.  Em um Fla x Flu desses a tendência é a classe política se dividir.
 
Renata – Esses sinais também vieram do lado de Casagrande, que começa a ver a necessidade de uma aproximação com a terceira liderança que se destaca no Estado, o senador Magno Malta (PR). Sempre evitado pelos demais políticos, por seu jeito independente e conservador, Malta vive uma aventura presidencial, mas tem uma influência importante no eleitorado, que pode contribuir com o embate polarizado com Hartung, caso ele se confirme. A dúvida é se Magno aceitaria essa composição. Ele disponibilizou o candidato ao Senado, delegado Fabiano Contarato, o que é um sinal dessa necessidade de aglutinação das forças políticas. Mas será que decola essa composição? Magno é uma figura controversa e ainda fala alto nele a manobra de 2010 para tirá-lo do Senado. 
 
Nerter – Este revés da majoritária, se for confirmado, também terá reflexos na composição proporcional. Com a possibilidade muito forte de repetição da unanimidade, os partidos deixaram de se preocupar com Paulo Hartung e passaram a articular as composições para deputado federal e estadual. Com este novo cenário que se desenha, será necessário repensar tudo. Os partidos grandes com cabeça e sem corpo mudam suas configurações, assim como os partidos médios. Vidigal indo para a vice abre uma vaga na disputa de federal, mas é claro que ele não vai querer abrir o campo da Serra para Audifax, isso abre caminho para a disputa a reeleição de Sueli Vidigal. Aí Carlos Manato (SDD) também pode ganhar força e também muda a preparação do prefeito Audifax para a disputa, assim como a estratégia de Vandinho Leite (PSB) e outros. Isso é só uma projeção que para a Serra. No geral, vai desconfigurar tudo. Os blocos que se formaram podem vir a perder força. A contagem dos votos nas chapas pode ter de ser alterada. Enfim, tudo que se construiu até aqui, vai ter de ser reconsiderado. 
 
Renata – O detalhe mais importante nesta história toda, porém, parece ser a participação dos prefeitos. Na Grande Vitória, Rodney Miranda (DEM) se elegeu com o apoio de Hartung, mas flerta com o Palácio Anchieta. É uma incógnita, o prefeito de Cariacica, Geraldo Luzia, o Juninho (PPS), também é Hartung desde criancinha. Já o governador Renato Casagrande tem o apoio do prefeito da Capital, Luciano Rezende (PPS) e do prefeito da Serra, Audifax, que comanda o maior colégio eleitoral do Estado. Mas os prefeitos não estão exatamente em alta, então não se sabe como isso vai se configurar em votos. De qualquer forma, prefeito é sempre um grande eleitor nos pleitos estaduais.
 
Nerter – Renato Casagrande conseguiu imprimir sua marca de governador interiorano, mas é preciso ver como isso vai se configurar em votos para ele. Tudo que podia dar aos aliados já foi dado, ele não cobrou contrapartida e a partir do próximo mês fica impedido pela legislação eleitoral de lançar pacotes de bondade. A máquina é sempre a máquina, mas há restrições. Além disso, os municípios-polo devem estar do outro lado. Cachoeiro e Colatina são comandados por petistas e o PT estará no palanque de Hartung. Linhares tem Nozinho Correia, do PDT como prefeito, e a maior liderança na disputa no município é o ex-prefeito Guerino Zanon, que é do PMDB. Casagrande tem São Mateus, mas o município não vai resolver seu problema eleitoral. Em compensação, os municípios com menos de 20 mil habitantes, e aí estamos falando de metade do Estado, são dependentes do governo e Casagrande, o que pode trazer o equilíbrio para a disputa.
 
Renata – Todos esses detalhes juntos vão definir a eleição deste ano se a composição se confirmar. Todo mundo fala que o ano começa depois do carnaval. O ano eleitoral do Espírito Santo parece que está mantendo a escrita. 

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