Entre as muitas críticas direcionadas ao programa do governo do Estado, Escola Viva, uma das mais recorrentes se refere ao fato de o programa ser tocado por uma organização social (Instituto de Corresponsabilidade Educacional-ICE), patrocinada por uma ONG empresarial (Espírito Santo em Ação). Ora, se a educação um dever do Estado, e que utiliza recursos públicos tanto do Estado quanto da União, essa ingerência sugere a privatização do ensino público.
O governo do Estado vem implantando um plano de reorganização do ensino médio, que além da implantação do Escola Viva, também conta com o enxugamento da rede. É com esse objetivo que o governo fechou mais de 500 turmas em escolas de todo o Estado em 2015 e vem fechando também unidades com menor demanda de vagas ou desempenho escolar abaixo do esperado pelos índices dos rankings nacionais.
A ideia seria entregar à iniciativa privada uma rede em condições de atender seus interesses para que a gestão das escolas seja feita sob a ótica empresarial, preparando mão de obra exclisivamente para o mercado, deixando de lado a formação humanistica e cidadã, que deveria ser papel da escola. Por trás desta gestão estão organizações não-governamentais como o Instituto de Corresponsabilidade Educacional (ICE), que tem o patrocínio da ONG ES em Ação. Coincidência ou não, a primeira unidade funciona em um prédio alugado da Faesa, em São Pedro, Vitória. A instituição de ensino tem representação na ES em Ação. O dono da Faesa, Alexandre Theodoro, ocupa justamnente o núcleo responsável pela gestão do Escola Viva
Esse modelo não é exclusivo do Espírito Santo, aliás, parece inspirado em modelos que já vêm sendo desenvolvidos pelos governos de São Paulo, Goiás e Paraná, o que vem forçando estudantes a migrarem para a rede particular ou colocando as escolas nas mãos de instituições ou organismos privados em um processo de terceirização do serviço. Um modelo que vem sendo aos poucos introduzido também na saúde nos últimos anos, com entidades particulares gerindo hospitais públicos.
O ICE aparece em ações parecidas em vários estados brasileiros. No Ceará, o acordo é para o ensino médio profissional. Com a prefeitura do Rio de Janeiro, a movimentação nas séries finais do ensino fundamental. No mesmo sistema do Espírito Santo, há convênios com os estados de Sergipe e Piauí, assim como no primeiro a adotar o sistema, Pernambuco. Quando estiveram no Espírito Santo apresentando a proposta do Escola Viva, os representantes do ICE chegaram a relatar o interesse de levar ao Ministério da Educação a proposta de uma política nacional voltada para essa visão que baseia o programa.