Sábado, 04 Mai 2024

Ricardo Ferraço ganha visibilidade, mas o que vai fazer com ela?

Ricardo Ferraço ganha visibilidade, mas o que vai fazer com ela?
Nerter Samora e Renata Oliveira
 
A figura de grande destaque na semana foi o senador Ricardo Ferraço (PMDB). Os movimentos dele insinuam que é uma liderança que está no páreo para 2014. Papo de Repórter discute se os movimentos do senador são os mais acertados. 
 
Renata – O senador Ricardo Ferraço (PMDB) virou uma grande estrela esta semana, depois de dar fuga ao senador boliviano Roger Molina. O senador, que sempre foi mais de defender os interesses da classe empresarial e de seu grupo político, de repente foi tomado por um espírito humanitário e revolucionário e entendeu que deveria pegar um jatinho emprestado em pleno domingo e resgatar um político sem o salvo-conduto do país dele e a concessão do asilo pelo Brasil. Ferraço jura que a ação não teve nenhuma motivação eleitoral, mas que ele conseguiu uma vitrine enorme com isso, que ecoou inclusive no Estado, e muito, isso ele conseguiu. 
 
Nerter – Temos que admitir que Ferraço conseguiu fazer uma boa limonada com os limões que recebeu. Se tudo tivesse saído como ele planejou ainda no final de 2008, hoje estaria cuidado de sua reeleição ao governo do Estado ou fazendo a fila andar, como se dizia naquele momento, abrindo espaço para o ex-prefeito de Vitória João Coser e aí sim indo para o Senado. Mas não foi isso que aconteceu depois daquele abril sangrento, como ele mesmo resumiu, Ferraço disputou e venceu a eleição de senador, foi para Brasília e recentemente ganhou a presidência da Comissão de Relações Exteriores (CRE). Mas se Senado já deixa o político distante de seu eleitorado, imagina em uma comissão de que trata de questões exteriores? Mas Ricardo tem conseguido visibilidade com uma sequência de fatos que chamam a atenção da imprensa nacional. E ele tem dado sorte, não é?
 
Renata – Sim. Mas todos eles assuntos escorregadios em que a sorte de Ferraço é que ele conta com o apoio da maior parte da imprensa, porque sair bem nessa foto é uma questão do ângulo que se olha.  Foram três episódios de destaque. Primeiro dos corintianos, na Bolívia. Ferraço foi lá e disse que eles estavam em cadeias superlotadas, em situações desumanas, uma bandeira tão frágil de se desmontar se olhar para o governo do qual ele foi vice. Jamais se ouviu falar em um membro do governo Paulo Hartung em uma das masmorras do Estado. Não estou dizendo que isso seria de sua alçada, mas usar esse discurso afeta diretamente o governo do qual fez parte. Depois veio a questão da espionagem americana no Brasil. Dizendo que esse tipo de vigilância afeta a soberania nacional. Mas uma vez, o discurso fragiliza seu passado político. O que se comenta é que no governo passado, lideranças políticas não falavam ao telefone com medo de serem grampeados. Então, não dá para usar esse discurso também. E agora, esse espírito humanitário. Não combina em nada com o estilo de Ferraço.
 
Nerter – Esse episódio do senador boliviano ainda não acabou e o desfecho do caso ainda pode complicar a imagem de Ferraço mais do que ajudando. Ele insiste em dizer que o boliviano poderia morrer dadas as condições em que vivia na embaixada brasileira. Mas a imagem que se viu de Roger Molina não combina com esse discurso. O senador capixaba continua insistindo no discurso, até porque é o que tem de fazer agora. A reação da presidente Dilma e da base aliada foi dura e agora a presidente vai ter de resolver o problema com Evo Morales. Uma confusão desnecessária. 
 
Renata – Se Ferraço queria chamar a atenção, conseguiu. Mas vamos ver até onde essa onda vai. No final da semana passada ele veio a público para reclamar mais uma vez do governo federal sobre a questão da BR-262. Reclamando, aliás, do que não tem de reclamar, porque a bancada perdeu o bonde e agora quer tentar justificar o injustificável. Agora irrita Dilma desse jeito. A leitura feita pelo jornal A Gazeta é de que ele quer romper com Dilma. Mas seria essa uma estratégia inteligente, se ele realmente quer disputar o governo? O PMDB faz parte da base, aliás, tem o vice-governador. Magno Malta (PR) oferece um palanque inteirinho para ela e Casagrande se faz de neutro, mas quer o PT ao seu lado. Dilma não tem uma reeleição garantida, mas segue na frente e ela tem o fator Lula a seu favor. 
 
Nerter – A ideia seria romper com Dilma e pular de vez no palanque do senador tucano Aécio Neves (MG), que, aliás, saiu em defesa da atitude “humanitária” de Ferraço em relação ao senador boliviano. Isso lembra uma movimentação recente aqui no Estado, envolvendo o presidente do Bandes Guerino Balestrassi, que saiu batendo a porta e declarando guerra a Casagrande. E para onde foi Balestrassi? Para o ninho tucano. Agora, será que essa é uma boa ideia? Aécio não é o grande rival de Dilma, que deve ter dado graças a Deus quando viu a pesquisa que apontava Marina Silva como segunda colocada na corrida eleitoral. Aécio está fazendo jogo casado com Eduardo Campos (PSB-PE) para forçar o segundo turno. Mas será que eles superam Dilma, ainda mais quando Lula entrar em cena? Sei não.
 
Renata – E como você mesmo disse, esse episódio do senador boliviano ainda não acabou. O advogado de Molina já procura outros países para pedir asilo político. Se o senador não ficar no Brasil, será uma derrota acachapante para Ricardo Ferraço e a coisa pode piorar para o lado dele por outras questões também. Evo Morales já acionou a Interpol e trata o senador como um corrupto fugitivo. E se veio mais gente com ele? A coisa pode ficar feia para Ricardo e apesar da operação abafa da imprensa, já tem gente falando em Conselho de Ética e quebra de decoro.
 
Nerter – Além de tentar polir sua imagem, Ricardo Ferraço tem feito um movimento para desequilibrar Renato Casagrande. Primeiro ele diz que a movimentação de unanimidade acabou. Mostrando que pode fragmentar o grupo. Não se sabe se em favor de si mesmo ou se de Paulo Hartung. Casagrande em situação nada fácil, acumulando uma série de problemas administrativos e sociais, se vê diante de uma ameaça de desalinhamento da base que sustentaria sua campanha à reeleição. 
 
Renata – E para isso, dizem, contaria com o apoio do pai, o presidente da Assembleia Theodorico Ferraço (DEM). Nos meios políticos ventila-se que foi dele a ideia de barrar o projeto do Fundo de Desenvolvimento dos Municípios, que dá a Casagrande um fortalecimento político com os prefeitos. Teria sido Ferraço quem disseminou entre os deputados a ideia da perda do poder de barganha entre suas bases e o Executivo com o projeto. Isso fez com que o governador tivesse que conversar com os parlamentares e explicar que a coisa não era bem assim.
 
Nerter – Parece que o velho Ferraço age em favor das movimentações do filho.  E pode ser mesmo porque ele engoliu a seco o episódio de abril de 2010.  Tudo bem que o senador não admite disputar a eleição no próximo ano e que há um risco de sair prejudicado na disputa com Magno Malta. Mas os movimentos de Ferraço são de quem quer se qualificar para o governo. E aí fica a pergunta: Como vai se comportar a classe política? Ou as lideranças ficam com Renato Casagrande e a máquina do Estado ou recompõem as forças que apoiaram Hartung, mas desta vez com Ricardo Ferraço à frente do palanque. E aí, ficam com quem?
 
Renata – Talvez seja por isso que todo mundo está esperando os próximos movimentos antes de tomar qualquer atitude. Um passo errado agora pode por tudo a perder e ninguém quer arriscar. Acho que vão deixar o tempo correr e ver quem chegará em 2014 com mais garrafsa vazias para vender. 

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