Renata Oliveira e Nerter Samora
A partir do mês de março, o senador Magno Malta (PR) quer percorrer o Estado para testar sua popularidade. Isso pode quebrar a hegemonia do governador Renato Casagrande na disputa de 2014. O Papo de Repórter desta semana analisa essa movimentação do republicano.
Renata – O senador Magno Malta que até bem pouco tempo atrás garantia que não tinha interesse no governo do Estado, parece ter mudado de ideia. Depois do Carnaval de 2013, ele pretende iniciar uma avaliação do eleitorado que pode mexer, e muito com o cenário eleitoral de 2014. O senador, dependendo da aceitação do eleitor, pode disputar a eleição ao governo do Estado, fator que pode estragar o clima de já ganhou que se instalou no Palácio Anchieta em relação à reeleição do governador Renato Casagrande, não é?
Nerter – A situação é complicada. O senador Magno Malta é bom de voto e bom de palanque. Tem um perfil bem popular e um discurso dirigido aos segmento mais conservadores da sociedade, o que significa muita gente. Basta ver o perigo que ele representa, do ponto de vista eleitoral, é claro, se pegarmos a eleição de 2010. Houve uma verdadeira campanha de bastidores contra a eleição do republicano. E mesmo assim, ele ficou com uma das vagas do Senado, e ainda ajudou a eleger Ricardo Ferraço (PMDB) para a outra vaga, além do próprio Casagrande para o governo. É bom que se explique: o Ricardo foi o senador mais votado da história, mas contou com duas “dobradinhas” – uma oficial, com o próprio Magno, que não teve a devida retribuição, e a outra com a chapa da ex-deputada Rita Camata (PSDB), que estava no palanque de oposição com o Luiz Paulo.
Renata – Esse movimento do senador surpreende o governo, já que o PR faz parte dessa base governista que vai do PT ao DEM. O governo Casagrande consolidou uma tendência distorcida da política brasileira que teve início no governo Paulo Hartung. No Espírito Santo, governo de coalizão virou governo de unanimidade. Sem oposição as disputas eleitorais são meramente protocolares, quem ganha e quem perde é decidido previamente, nos gabinetes.
Nerter – Sim, mas temos que destacar que há uma diferença entre a unanimidade de Hartung e a de Casagrande. O primeiro a forjou à ferro e fogo, implantando um sistema de perseguição à classe política, por meio da intimidação com base em um arranjo institucional que englobava todos os poderes, as instituições políticas e sociais, mais a imprensa. No governo Casagrande esse sentimento já havia se enraizado na classe política e a manutenção do sistema se deu de forma suave, na base da negociação. Por isso, acreditava-se que a disputa ao governo em 2014 seria de candidatura única. Com direito à reeleição e sem planos para outros cargos, o governador, sobretudo depois de seu desempenho na eleição municipal deste ano, criou as condições para garantir sua recolocação no cargo sem problemas.
Renata – Isso sem oposição e sem que os gargalos das áreas sociais encontrem ressonância na acomodada, ou seria atordoada, sociedade capixaba, o governador parecia não ter com o que se preocupar. Seu único desafio era tentar maquiar a indisfarçável falta de controle da violência. Mas mal sabia ele, que dentro de sua própria base poderia surgir um nome com capital para disputar com ele as urnas. Esse é o grande problema do Magno Malta, do ponto de vista político, não há como controlá-lo e foi isso que mais irritou Paulo Hartung durante todos esses anos.
Nerter – Sim. Como se movimenta bem com o eleitorado e o partido dele, o PR tem uma posição significativa no cenário político capixaba, Magno é interessante para a classe política. Durante as eleições, ter Malta no palanque é um ganho superlativo no que diz respeito aos votos. Mas ele não aceita o jogo que está sendo jogado no Espírito Santo, então, nunca se sabe para onde ele vai. Também não se sabe como combatê-lo, porque não há como convencer seu eleitorado, colando um rótulo de corrupção nele. Até tentaram fazer isso, mas como não foi possível provar, fica um discurso vazio, porque ninguém tem coragem de entrar em rota de colisão com o discurso dele abertamente, porque isso tiraria votos.
Renata – Isso ficou muito evidente durante a eleição municipal, sobretudo em vitória. O grupo de Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB) acusava Luciano Rezende de ter Magno Malta em seu palanque, mas não discutia o porquê isso era problema. O discurso ficava capenga e um jogava para o colo do outro. “Por que o senhor esconde o senador Magno Malta?”, perguntava Luiz Paulo. “O senhor é que foi pedir dinheiro ao senador Magno Malta”, retrucava Luciano. Sim, mas, qual é o problema? Por que não falavam? Nos bastidores, diziam entre os dentes porque ele defende a diminuição da maioridade penal, é homofóbico…
Nerter – Mas abertamente nunca ninguém falou nada disso. Até porque quanto às questões conservadoras, a maioria da população é a favor da diminuição da maioridade penal e o eleitorado dele é evangélico, logo, contra a homossexualidade. Atacar esses conceitos, como você disse, significaria correr o risco de perder votos, por isso o discurso não pegava.
Renata – Se Magno Malta vence a eleição contra Casagrande é difícil dizer, até porque muita água ainda vai rolar embaixo da ponte até a disputa estadual. Mas que ele é uma liderança que não pode ter seu capital eleitoral desprezado, isso é inegável. Magno Malta tem condições, sim, de disputar o governo do Estado contra qualquer liderança. E na hora que as peças forem colocadas no tabuleiro, é que vamos ver se esse discurso do “problema” em estar no palanque de Magno Malta se confirma. A classe política capixaba não quer saber quem tem a caneta, não importa a ideologia incutida no palanque, a única garantia que ela quer é que esse jogo de que todos ganham será mantido.
Nerter – Esse pode ser o problema de Magno Malta. Ele se movimenta bem com o povão, mas não faz parte da elite política capixaba. Mesmo respeitando os acordões, sempre é posto de lado. E nisso Casagrande já mostrou que é bom, que tem condições de colocar todo mundo embaixo do braço e redistribuir os espaços de maneira a não desagradar ninguém.
Renata – O problema vai ser se a coisa se radicalizar entre os dois, o que, sinceramente eu não acredito que vá acontecer, mas suponhamos que aconteça. Todo mundo esperava um retorno de Paulo Hartung ao governo em 2014, ou a transferência de seu capital para Ricardo Ferraço. Hartung saiu desgastado e sem condições de disputar o governo. Ferraço compartilhou com ele as derrotas, tanto que mergulhou agora para tentar descolar sua imagem de Hartung. Ele também já entendeu a dinâmica de Casagrande e vai saber esperar sua vez. Nessa ausência de lideranças e com a fragilidade da gestão Casagrande, Magno Malta pode ser uma grande ameaça a reeleição do governador, sim.
Nerter – Mas acho que por hora, o senador não vai entrar em rota de colisão com ninguém. Vai testar sua condição eleitoral e só no segundo semestre do próximo ano é que ele vai se posicionar. Até porque ele não terá nada a perder. Também não acho que essa possível candidatura de Magno Malta seja um abalo profundo no projeto de unanimidade de Casagrande, pelo menos por enquanto.
Renata – Então, o jeito é esperar a resposta dessa movimentação do senador e a reação de Casagrande. Bom, o que eu quero é disputa, é eleição de verdade, na urna, sem acórdão prévio. E você?
Nerter – Acho que todo mundo quer disputa, sempre.
Renata – Hartung não quer, nunca quis…
Nerter – Mas acho que dessa vez, ele estará fora. Quer dizer, fora da eleição, nos bastidores, sabe como é, ele sempre está.