Terça, 21 Mai 2024

Sei que a disputa de federal é difícil, mas temos condições de fazê-la em alto nível'

Sei que a disputa de federal é difícil, mas temos condições de fazê-la em alto nível'
Rogério Medeiros e Renata Oliveira

Fotos: Gustavo Louzada/Porã




O secretário de Assistência Social  e Direitos Humanos do Estado, Helder Salomão, não está em uma pasta de grande visibilidade e exorbitante orçamento, mas garante que ela lhe deu bastante capilaridade. Ele conta também com os resultados de sua gestão à frente da Prefeitura de Cariacica durante dois mandatos, para fortalecer sua candidatura a deputado federal. 
 
Nesta entrevista a Século Diário, o petista fala sobre a disputa proporcional, a composição do PT com o PSB na majoritária, e defende sua principal bandeira: o incentivo às micro e pequenas empresas, que acredita ser a solução para as crises econômicas do País. 
 
Helder aborda ainda as dificuldades da eleição proporcional deste ano, mas se diz confiante de que o partido irá aumentar sua participação na bancada capixaba, elegendo dois deputados federais.




- Século Diário – Vai ser deputado federal?
 
- Helder Salomão – Eu sou filiado ao PT desde 1982, vou fazer 32 anos de filiado. Tenho uma trajetória no partido e no movimento social. Comecei a militar nos movimentos sociais em 1980. Já fui deputado estadual , deputado federal, já fui prefeito e hoje ocupo o cargo de secretário de Assistência Social e Direitos Humanos. Pela avaliação dos nossos mandatos, fica aí uma grande possibilidade de eu disputar a eleição de deputado federal.
 
– E com chances...

 
– Com chances eleitorais. Eu sei que a disputa de deputado federal é difícil, mas pela avaliação que temos hoje na cidade e também na Grande Vitória e no interior, há condições de se fazer uma disputa em alto nível. Queremos apresentar um debate sobre temas estaduais e nacionais importantes e fazer uma discussão interna no partido, apresentando um nome que embora já tenha uma longa trajetória política, creio que ainda representa muito. Lembrando Perly Cipriano [petista histórico e subsecretário de Estado de Direitos Humanos], nós temos que mudar sem mudar de lado, e na minha trajetória eu mudei muito, mas não mudei de lado. 
 
– E a eleição da Dilma?


– Essa é a prioridade do PT no Espírito Santo. Vamos tentar aglutinar forças políticas, aliados que ajudaram o presidente Lula e que ajudam a presidente Dilma para garantimos no Espírito Santo e no Brasil a recondução da Dilma. E neste contexto precisamos ter representante no Congresso. O governo Dilma mudou muito o Brasil. E eu não posso deixar de destacar aqui uma questão que eu defendi como prefeito e fizemos um trabalho muito forte neste sentido, da micro e pequena empresa. Tenho a convicção de que uma economia forte precisa de ações e políticas públicas que fortaleçam o pequeno empreendedor. Eu fiz isso em Cariacica e Cariacica mudou muito. Os indicadores sociais da cidade são outros. A Lei Geral, editada pelo governo Lula, a Lei da Pequena empresa, e agora a criação do Ministério da Pequena Empresa são ações importantes. E neste sentido acho que minha campanha é interessante. 
 
– E como será a campanha?
 
– Eu vou trabalhar muito e creio que minhas chances são boas. Mas o que vamos fazer é trabalhar muito. Gosto de fazer campanha andando, conversando com as pessoas, debatendo. Quero fortalecer o partido, o Estado, os movimentos sociais .
 
– A composição proporcional este ano está complicada. Como avalia este cenário? 

 
– Ainda não temos a certeza do que vai acontecer. O mais provável é que tenhamos uma reedição da aliança de 2010. Creio que é possível, porque estamos conversando com o PSB. Temos a questão da candidatura do Eduardo Campos [PSB] a presidente, mas o governador Renato Casagrande tem conversado com o partido tanto no âmbito nacional como no Estado, e eu vejo possibilidades reais de termos essa reedição, talvez com adesões de pequenos partidos, com pequenas mudanças nas chapas proporcionais. E olhando qualquer que seja a composição, não tem eleição fácil. O que eu vejo é que a eleição será muito acirrada. 
 
– E o que pode ser um diferencial?

 
– Acho que os movimentos do ano passado podem mudar o comportamento do eleitorado. A meu ver, tem que estar antenado com esses novos movimentos, com as novas exigências da sociedade brasileira, com a classe C emergente, que tem uma força muito grande, não só na política, mas em todas as áreas. Eu creio que neste contexto o meu nome tem uma força maior do que aqueles que parecem não estar tão atentos ao que está acontecendo. Então, creio que essa disputa será difícil, mas estou preparado. Acho que a disputa será acirrada porque temos 10 vagas e grandes concorrentes em vários partidos. Creio que haverá uma renovação grande nos legislativos estaduais e na Câmara. 
 
– O PT tem feito nas últimas eleições um deputado federal e este ano tem pelo menos três candidaturas fortes. Como fazer para que o partido aumente sua bancada na Câmara dos Deputados? 

 
– Estou confiante de que o PT fará dois nesta eleição. Nós já quase fizemos dois em outras eleições. Há possibilidades, mas não é função fácil. A Iriny Lopes é candidata à reeleição e já tem demonstrado seu potencial em eleições passadas. Tem musculatura, tem histórico, tem atuação destacada no Congresso, foi ministra. O Givaldo Vieira nunca disputou a federal, mas é vice-governador, foi deputado estadual, foi vereador. Tem sua atuação destacada. São três nomes fortes e nesta disputa temos a condição de fazer dois, e eu vou estar na campanha com esta convicção de que é possível, mesmo sabendo que não é tarefa fácil.
 
– Estima-se que o ex-prefeito tem condição de sair de Cariacica com 80 mil votos. Em uma eleição em que se espera um grande número de votos brancos e nulos, 80 mil votos é ser campeão de votos, e seu discurso se espalha mais do que os dos outros candidatos. A defesa das pequenas e grandes empresas é única em um Estado que defende o investimento em grandes empresas. 
 
– Eu tenho convicção disso. Eu pude experimentar isso e muitos prefeitos ainda não perceberam.  A Lei Geral da Pequena Empresa e a Lei do Pequeno Empreendedor foi uma revolução silenciosa neste País. Tenho acompanhado os números, principalmente do Sebrae, e vez ou outra sou convidado a dar palestras em todo o Brasil por causa de nossa experiência em Cariacica. Os números mostram que na crise de 2009 tivemos a geração de quase um milhão de empregos, e o curioso é que as micro e pequenas empresas registraram um milhão e trinta seis mil empregos e as grandes empresas aproveitaram a crise para demitir. 

 
– As pequenas empresas são as que mais geram emprego. 

 
– Quem tirou o Brasil da crise em 2009 foram as micro e pequenas empresas. Em Cariacica pude perceber isso. Fiz um processo de desoneração tributária, reduzi a carga tributária das pequenas empresas e alguns disseram que isso poderia ser perigoso porque reduziria a arrecadação. Nós aumentamos a arrecadação. Aumentamos o número de empresas formais, reduzimos carga tributária e a burocracia. Em oito anos abrimos 17 mil empresas. Você olha os números de participação de Cariacica nas cotas-partes do município, era de 3.1, e pela primeira vez na história passou a ser o maior do bolo de ICMS do Estado e pela primeira vez ultrapassa Vila Velha. Se não tivesse isso hoje, seria inviável administrar Cariacica. 

 
– É uma solução para um município grande e com baixa arrecadação como Cariacica, não é?

 
– E tem uma coisa curiosa. Às vezes o prefeito passa quatro anos sonhando em atrair uma grande empresa. É uma besteira, porque ele perde tempo. Vi iniciativas como essa em várias partes do Brasil, em 2012 eu coordenei a rede nacional de prefeitos empreendedores. Vi cidades que estavam em situação de quase falência e conseguiram se destacar, viraram casos de sucesso. Eu vou fazer esse debate nas eleições, este será um dos temas que eu quero debater para o Espírito Santo. Acho que o Espírito Santo precisa fortalecer cada vez mais a rede de pequenos negócios. Os médios e grandes negócios são importantes, mas temos que apoiar prioritariamente os pequenos negócios e de empreendedor individual. 
 
– Está é a solução para uma economia em crise?
 
– As crises que aconteceram no mundo todo mundo mostram que aquele modelo econômico não atendeu às expectativas da sociedade. Não é negando a importância dos grandes projetos, mas entendermos que são nos pequenos e micro negócios que estão as soluções para uma sociedade mais justa e mais geradora de oportunidade para todos. 
 
– Voltando à questão eleitoral, há uma questão mais delicada, que é a composição das coligações que precisam de uma acomodação para os partidos menores. Há uma composição de grandes partidos, que tem nomes fortes, mas não tem nomes intermediários para sustentar as chapas, os partidos com cabeça e sem corpo. O que se especula é que sairia uma chapa com PT, PMDB, PSB e PDT. Se isso acontecer, pegam metade da bancada. 
 
– É isso. Na eleição passada, PT, PMDB e PSB elegeram cinco deputados federais. É possível que esses partidos, com a inclusão do PDT, possam fazer cinco ou até seis deputados federais. É mais provável que façam cinco, mas é muito possível fazer seis. Nós tivemos a eleição do Audifax Barcelos, que foi muito forte. Este ano teremos Sérgio Vidigal, que é muito forte. 

 
– E há outros valores, como Vandinho Leite e Paulo Foletto...

 
– Exatamente. O que pode acontecer é que algumas coligações tenham dificuldade em fazer legenda e esta ficar configurada nas coligações. Estou muito animado porque eu quero qualificar a eleição. O grande discurso que tenho para a campanha é meu resultado como gestor. Tenho conversado com as pessoas e recebido avaliações positivas sobre o tema. Gente que eu nunca vi na vida. As pessoas falam constantemente sobre o resultado que tivemos em Cariacica. Até porque estamos com 30 anos em que apenas dois prefeitos cumpriram mandato em Cariacica, eu e o prefeito Aloízio Santos. Isso não é pouca coisa. O governo trouxe estabilidade administrativa e iniciou um processo de recuperação econômica do município. Esse é o primeiro ponto. Tenho também uma referência importante do magistério, como professor e do Sindiupes [Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Espírito Santo]; na Igreja, na Assistência Social e Direitos Humanos e entre as micro empresas e associações. 


 
– Isso vai se espalhando...

 
– Sim. E eu cresci internamente no partido também. Vou ter uma participação com novas composições internas que vão ajudar na disputa eleitoral.

 
– Sobre a pasta, a Secretaria tem um orçamento tímido e pouca visibilidade, como trabalha?

 
– Eu já tinha preparado meus planos de aula para voltar às salas de aula em 2013. Não pensava que assumiria um cargo no governo. Mas o governador Renato Casagrande fez o convite e o secretário anterior, Rodrigo Coelho, estava retornando à Assembleia, e eu acabei aceitando o desafio. É uma área interessante porque você trabalha com quem mais precisa. É uma área que no Brasil ainda não tem visibilidade, mas tem algo que poucos conseguem observar: capilaridade. A gente conversa com o Estado inteiro, com prefeitos, entidades, sociedade. Ou porque atendemos aqui em Vitória ou porque vamos ao interior, fazer os projetos com as famílias que recebem o Bolsa Família, os agricultores familiares, os participantes do curso do Pronatec [Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego]. Fizemos este ano 15 mil vaga no Pronatec no Espírito Santo. 
 
– É um trabalho silencioso, só que intenso...
 
– E tivemos uma movimentação intensa neste período de chuva e deu uma resposta que ficou evidente a agilidade que tivemos, inclusive, a outros eventos no Estado. Fui para o governo representando o partido, mas quando a gente faz um trabalho bem feito, o reconhecimento vem. Tanto que alguns secretários municipais até pedem a permanência na pasta, mas tenho o projeto de disputar a eleição de deputado federal. 

 
– Como é esta química de o PT ficar com o PSB. Com o PT segurando o palanque da Dilma e Renato Casagrande sem poder ficar distante do palanque de Eduardo Campos? 

 
– Não é uma engenharia fácil, muita gente pergunta como isso vai se dar na prática. Temos o compromisso do governador Renato Casagrande de se manter neutro na disputa nacional. O PSB organiza o palanque de Eduardo Campos aqui e o PT organiza o palanque da Dilma. Eu acho isso possível, embora não seja nada fácil. Não acredito que isso será fácil, mas não acho que seja impossível. Se analisarmos como foram organizados os palanque de Lula e Dilma no Estado, veremos que os atores do partido e dos aliados foram muito importantes. É uma química difícil, mas vamos ter muita cautela para que a fórmula dessa química não desande. Mas estou confiante porque as conversas estão sendo feitas com os partido aqui e com as nacionais. Rui Falcão [presidente nacional do PT] esteve aqui, sinalizou essa aliança, e creio que mesmo que possa parecer estranho para alguns, mesmo pelo tempo de aliança que temos com Casagrande, é possível, sim. 

 
– Mas há uma novidade. Nas eleições de Lula e Dilma, havia um personagem à frente do palanque que não tinha identidade partidária. Desta vez, não, a identidade partidária de Casagrande é muito forte.
 
–  Está é a novidade e tudo que é novo causa espanto. Vamos ter de fazer um exercício.
 
– Por isso o PT não abre mão da vaga ao Senado?

 
– O que o PT está buscando é participação na chapa majoritária, prioritariamente no Senado. Para o projeto nacional, é muito importante aumentar a bancada do PT e dos aliados no Congresso, por conta da governabilidade. Neste contexto, vamos trabalhar para dobrar nossa bancada na Câmara dos Deputados e vamos trabalhar nesta ideia da aliança na participação na chapa majoritária. Obviamente, esta questão será discutida com PSB, PMDB e PDT, agora. 
 
– Mas dando um pulo mais à frente. Em 2018 são duas vagas para o Senado e o governador Renato Casagrande, se for candidato ao Senado, vai ter de se desincompatibilizar e o vice assume...

 
– Esta é uma possibilidade concreta. 

 
– Casagrande tem dito aos mais íntimos que essa vaga é do PT, mas falta saber quem seria essa figura. 

 
– Estas são duas possibilidades concretas, Casagrande disputando o Senado e o vice do PT assumindo. Se não houver um ambiente estável, o governador pode decidir se manter no poder até o final, por isso, é preciso estabelecer uma aliança que garanta estabilidade e não traga lá na frente uma surpresa no processo de afastamento. Sabemos que é importante estar na chapa majoritária. Se vamos estar na vaga de Senado ou vice é difícil afirmar hoje. Ainda não sabemos claramente o que fará o PMDB. Se o PMDB vai ou não ter candidatura própria. 

 
– Mas isso está distante do PT. O partido está fechado com Casagrande...


– Na nossa resolução do encontro do diretório fechamos a aliança prioritária com o PSB, deixando aberta a discussão com os outros partidos, porque até julho muita coisa pode acontecer. O mais natural é que tenhamos um palanque com Casagrande, mas não fechamos a possibilidade de discussão com os outros partidos. Nossa questão central é a reeleição da presidente Dilma. 

Veja mais notícias sobre Política.

Veja também:

 

Comentários:

Nenhum comentário feito ainda. Seja o primeiro a enviar um comentário
Visitante
Terça, 21 Mai 2024

Ao aceitar, você acessará um serviço fornecido por terceiros externos a https://www.seculodiario.com.br/