Terça, 30 Abril 2024

'Agradeço a Deus por tudo, mesmo as dificuldades'

viviane_rangel_2_apasod_arquivo_pessoal Arquivo pessoal
Arquivo pessoal
"Eu agradeço a Deus por tudo, mesmo pelas dificuldades, porque ele está me honrando, a minha advogada, Monica [Receputi Duarte], ao Século Diário, a Apasod [Associação dos Pais e Amigos dos Surdos e Outras Deficiências], a minha família, os meus amigos, a equipe do hospital toda, técnicos, enfermeiros, pessoal da limpeza, da cozinha, que são uns amores, ao João Carlos, do Direitos Humanos, também a todas as igrejas que estão em oração por mim e que Deus abençoe cada pessoa tremendamente". A súplica de gratidão vem de Viviane Rangel, diante de uma vitória que ela chegou a pensar que não iria alcançar: o início do tratamento da osteomielite crônica que acomete suas duas pernas. 

Nessa quinta-feira (13), mediante nova liminar judicial, Viviane garantiu sua continuação no Hospital da Associação dos Funcionários Públicos do Espírito Santo (AFPES), na Cidade Alta, Centro de Vitória, para começar a receber os medicamentos referentes à doença, uma grave infecção diagnosticada há quase um ano, em dezembro passado.

Na véspera, ela chegou a ser informada que seria transferida para um hospital em Baixo Guandu, no noroeste do Estado, ou teria que pagar pelo leito que ocupava, desde o final de setembro, quando passou por uma cirurgia no fêmur fraturado. "Fiquei desesperada, porque não teria como minha mãe nem meu pai ficarem lá comigo. Eles são idosos, estão fazendo tratamentos também, eu não teria ninguém para me acompanhar", conta.

Em seu despacho, a juíza Ilaceia Novaes assinala "as enfermidades dos [seus] genitores" e "a fragilidade do quadro clínico da autora", determinando que a AFPES "mantenha-a naquela instituição até que se encontre outro nosocômio situado na Grande Vitória".

Após a sentença, Viviane conta que começou a receber os medicamentos que a infectologista do ambulatório do Hospital havia indicado para o seu caso de osteomielite. "Estou tomando Ampicilina e mais dois antibióticos, para matar a bactéria. Me disseram que o tratamento vai durar oito semanas. Estão esperando curar a ferida da perna onde foi raspado o osso, para tirar a carne que eu perdi com a infecção, para então mexer a outra perna, se não pode passar a bactéria de uma para a outra".

No hospital da AFPES, ela conseguiu um quarto isolado "para não pegar outras bactérias, de outras pessoas". A internação aconteceu logo depois da consulta realizada no dia 27 de setembro, esta, também fruto de uma liminar judicial e da cobrança, feita por Século Diário, de um posicionamento público da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) sobre o caso.

Quase desistiu

Em agosto, Viviane já tinha obtido uma primeira liminar da magistrada Ilaceia Novaes, determinando internação imediata em um hospital que contasse com equipe de ortopedista e infectologista. Equivocadamente, no entanto, a liminar a direcionou para o Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes (Hucam), o Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), que não dispunha da equipe necessária.

A juíza então orientou que ela adentrasse no sistema estadual de saúde, agendando uma consulta em alguma Unidade de Pronto Atendimento (Upa) ou PA mais próximo de sua residência, porém, diante das dificuldades de locomoção de Viviane, que é cadeirante e estava com o fêmur quebrado, a mãe tentou essa entrada, mas não conseguiu. Foi quando ela chegou a pensar em desistir de tudo, pedindo aos amigos e familiares que respeitassem sua decisão. 

A interferência da Sesa no agendamento da consulta para internação no hospital da AFPES no final de setembro reacendeu sua esperança e permitiu que os tratamentos fossem finalmente iniciados.

A via crucis de Viviane teve início quando recebeu o diagnóstico, em dezembro, quando ela ainda dispunha de plano de saúde. Sem conseguir atendimento no SUS, ela tentou manter consultas e remédios por conta própria, mas a renda limitada pelo Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social (BPC) não permitiu a continuidade. Já vislumbrando o risco de amputação das pernas, ela decidiu pedir ajuda da advogada que cuidava do seu divórcio. Foi quando, após meses de peregrinação em várias unidades básicas de saúde, PAs e hospitais, a consulta no Hucam foi marcada e, logo depois, no AFPE. 

'Muito bem tratada'

O início do tratamento da osteomielite, depois de duas semanas de internação, vem coroar um momento que ela considera abençoado. "Eu quero ficar aqui, estou sendo muito bem tratada, fiz amizade com todo mundo. Todo mundo que entra aqui diz que a energia do quarto é boa, 'que quarto cheiroso', 'como é gostoso ficar com esse quarto', 'é tão abençoado'. Está sendo muito bom para a minha recuperação ter esse carinho das pessoas", conta.

Mesmo morando em Vila Velha e com todas as dificuldades de locomoção em vista da idade e problemas de saúde, Viviane conta que sua mãe tem conseguido ficar com ela no hospital, sendo substituída pelo pai, com dificuldades semelhantes, quando a mãe precisa ir para casa ou fazer exames e consultas. 

"Uma amiga cadeirante vem passar o dia comigo, porque está vendo a dificuldade da minha mãe para ir a médico, se tratar. Sou muito grata por conseguir esse tratamento. E penso em quantas pessoas podem estar passando pela mesma situação e não conseguem um advogado, nem conseguem ser ouvidas, e ficam sem atendimento", roga.

Seu desejo é que sua história sirva de inspiração para que todos que atravessam dificuldade semelhante possam conhecer os caminhos onde pedir ajuda. "É muita gente para poucos funcionários. Tem advogado aqui no hospital, mas precisou a minha falar com ela para eles me manterem aqui. Foi preciso o jornal cobrar a secretaria para conseguir a confirmação da minha consulta", relata. "Mas, quando você pensar em desistir, lembre-se dos motivos que te fizeram aguentar até agora. Há sempre lugar no palco da vitória para os guerreiros que nunca desistem após uma queda. Sempre que sentir vontade de desistir, lembre-se que seus sonhos podem ser alcançados no próximo passo que der", aconselha.

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