Sexta, 19 Abril 2024

Articulação de psicólogos negros é lançada no Espírito Santo

sabrina_ribeiro_psicologos_negros_divulgacao Divulgação
O Dia da Consciência Negra ficou marcado este ano por mais um crime brutal, registrado na véspera, que matou um homem negro, João Alberto Silveira Freitas, após ser espancado no supermercado Carrefour de Porto Alegre, Sul do País. O racismo latente e permanente da sociedade brasileira assusta e indigna, ainda mais depois da declaração do vice-presidente da República, Hamilton Mourão (PRTB), de que não existiria racismo no Brasil.

É nesse contexto urgente que, nessa sábado (21), psicólogos negros lançaram oficialmente no Espírito Santo o núcleo estadual da Articulação Nacional de Psicólogas (os) Negras (os) e Pesquisadoras (es), a ANPSINEP, que já possui dez anos de atuação no País. O grupo capixaba, composto por seis psicólogos e psicólogas e aberto a novos colaboradores, já se articula desde agosto deste ano, quando apoiou a campanha "Saúde Mental da População Negra Importa", realizada nacionalmente pela entidade, com um mês de duração.

"A Articulação busca intervir nos processos sociais, articulando a produção de conhecimento e a ação política no campo da Psicologia, a partir da compreensão acerca dos impactos do racismo na construção das subjetividades e nas relações raciais no Brasil", diz a carta de apresentação lançada a entidades do Estado.

Um dos pontos centrais é atuar com os profissionais e estudantes de Psicologia para dar visibilidade ao entendimento sobre os efeitos psicossociais do racismo e o que isso implica na prática profissional de psicólogos em seus mais variados espaços de atuação. "Nós avaliamos que a Psicologia como produção de conhecimento já nasceu com o propósito muito declarado de controle dos sujeitos para que se adequassem a certo funcionamento social, muito comprometido com a lógica colonialista", critica Sabrina Ribeiro Cordeiro, uma das integrantes do grupo no Espírito Santo. Isso não implica, porém, abandonar a Psicologia como campo importante do conhecimento, pelo contrário, significa reivindicar a descolonização dos saberes para que se possa ter um entendimento ampliado que permita uma atuação mais efetiva para a realidade que encontramos em nossos territórios.

"A luta antirracista é importante e muitas pessoas têm falado sobre isso na Psicologia há bastante tempo. A violência e o racismo são estruturantes em nossa sociedade, é preciso pensar sua superação nas relações familiares, de trabalho, em todos âmbitos da vida. O racismo é uma ferida aberta o tempo todo sangrando, que coloca o povo negro no lugar de subalternidade no acesso a bens e serviços que poderiam proporcionar uma potencial igualdade", pontua a psicóloga.

A próxima reunião do grupo capixaba será no dia 5 de dezembro, tendo em vista a estruturação da articulação a nível estadual e o planejamento de ações para 2021. Entre elas devem estar a aproximação com instituições e ensino superior em Psicologia, buscando inserir a discussão étnico-racial na formação dos profissionais e até repensar os currículos acadêmicos dos cursos de graduação e pós-graduação, incluindo disciplinas sobre o tema e também maior números de autores negros e brasileiros.

Além disso, está nos planos a criação de um grupo de estudos sobre saúde mental da população negra, incluindo acadêmicos, profissionais, estudantes e outros interessados. "Queremos avançar nessa construção do conhecimento, apresentar o que já vem sendo produzidos por muitos psicólogos e intelectuais negros brasileiros e estrangeiros e promover a produção de conhecimento, estimulando que após a graduação, alunos possam produzir teses e dissertações para avançar na construção do conhecimento e dar visibilidade a esses debates", diz Sabrina. Ela acredita que o grupo da ANPSINEP-ES também poderá servir para promover e participar de discussões e servir de fonte de informação por meio da mídia e outros canais de comunicação.

"A ideia é que seja um grupo aberto às demandas da sociedade em relação às questões étnico-raciais, que pode acolher o que seja trazido pela categoria e pela sociedade em geral", indica. A carta da entidade no Espírito Santo enfatiza que a população negra tem seu direito à vida muita vezes negado, e quando consegue acessar os saberes e práticas da Psicologia, "se vê novamente silenciada, não tendo sua dor reconhecida e legitimada por profissionais psicólogas(os) despreparadas(os) para lidar com essa realidade de opressão racial".

É por isso que em sua carta de lançamento, a Articulação convoca psicólogos que atuem na construção de "uma Psicologia que esteja técnica, científica e eticamente alinhada com a construção de uma sociedade não racista e descolonizada", para se somarem ao movimento, que pode ser contactado por meio do e-mail .

O grupo pretende ao poucos fazer levantamento e mapeamento de quem são os profissionais de Psicologia negros no Espírito Santo, onde estão inseridos, e que tipo de atendimento têm realizado. "Queremos aquecer as redes que nos conectam uns aos outros, reverberando para a nossa sociedade, para ter mais visibilidade sobre a questão racial".

Além de Sabrina Ribeiro Cordeiro, o grupo fundador no Espírito Santo é formado por Sonia Penha Rodrigues, Janaina Pereira Coelho, Helom Oliveira, Fábio Bispo e Flávia de Melo dos Santos.

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Comentários: 1

Luiz Henrique em Quarta, 25 Novembro 2020 14:49

Olha tem muita fala aqui equivocada, a Psicologia NÃO é racista, o que também não pede de que um psicólogo o seja, no seu próprio código de ética já proíbe qualquer tipo de racismo.

Olha tem muita fala aqui equivocada, a Psicologia NÃO é racista, o que também não pede de que um psicólogo o seja, no seu próprio código de ética já proíbe qualquer tipo de racismo.
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