Após negativa de Tyago Hoffmann, coletivo levará pauta ao governador
A construção de um novo Centro Especializado em Transtorno do Espectro Autista (Cetea) no município da Serra será cobrada diretamente ao governador Renato Casagrande (PSB) pelo coletivo Mães Eficientes Somos Nós (MESN), em reunião marcada nos próximos quinze dias. O grupo pretende reforçar a urgência da demanda, já que o único centro público especializado no Espírito Santo, localizado em Vila Velha, tem operado acima da capacidade e já não consegue atender a todas as famílias.
“Esse centro foi uma conquista da nossa luta, é referência no atendimento de pessoas com transtorno do espectro autista (TEA), mas hoje já não dá conta, está colapsado”, destaca Lúcia Martins, coordenadora do MESN. Segundo ela, mães de diversos municípios, inclusive da Serra e até do interior, como Aracruz (norte) e Baixo Guandu (noroeste), precisam se deslocar até o bairro Alecrim, em Vila Velha, para conseguir atendimento para seus filhos. “Na Serra temos uma demanda enorme e nenhuma estrutura especializada. Muitas mães saem de Nova Almeida, Divinópolis, e passam o dia na estrada para serem atendidas”, acrescenta.

O Cetea de Vila Velha é o único centro 100% público, regulado pela Sesa e especializado exclusivamente no atendimento de pessoas com TEA. A unidade foi inaugurada após mobilização do coletivo, que em 2022 realizou um acampamento em frente ao Palácio Anchieta, cobrando respostas do governo para o “apagão” de políticas públicas voltadas às crianças e adolescentes com deficiência. Desde então, reuniões mensais com a Sesa foram estabelecidas como parte do compromisso firmado pelo governador com o grupo.
Durante a reunião mais recente, o coletivo defendeu que a Serra é o município mais populoso do Espírito Santo, com 520,6 mil habitantes, portanto, precisa ter seu próprio Cetea. De acordo com o Censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 1,7% da população da cidade foi diagnosticada com autismo e 7,3% têm algum tipo de deficiência. Em todo o Estado, 7,2% da população têm deficiência – sendo as mais prevalentes as visuais (3,9%) e motoras (2,7%) – e 1,3% da população é autista.
Apesar do diagnóstico da situação e da urgência apontada pelas famílias, Lúcia afirma que a criação de um novo Cetea foi tratada como inviável pelo secretário estadual de Saúde, Tiago Hoffmann. “Ele fala que o Estado não tem condições, porque o custo é muito alto, e que a prioridade da gestão é ampliar a cobertura do Serviço Especializado de Reabilitação para Pessoas com Deficiência Intelectual e Autismo (Serdia)”, relata. A proposta é que a Serra, por seu porte, tenha cinco unidades do Serdia.

Para o coletivo, o Serdia é um avanço necessário, mas insuficiente. “Nós também acreditamos no Serdia, não somos contra. É um serviço multiprofissional, mais abrangente, mas não substitui o Cetea, que é específico, tem equipe especializada, oferece terapias como ABA [Análise do Comportamento Aplicada], musicoterapia. É focado exclusivamente no transtorno do espectro autista”, explica Lúcia. Ela pontua que o Serdia também enfrenta dificuldades para ser implantado nos municípios da Grande Vitória, justamente pelo custo do cofinanciamento exigido às prefeituras.
Na tentativa de construir uma solução, o coletivo levou para a reunião representantes da prefeitura da Serra, incluindo o secretário de Saúde, Diogo Cosme. Lúcia relatou que ele demonstrou disposição para dialogar com o governo do Estado, mas afirmou que o município, sozinho, não tem orçamento para viabilizar o novo Cetea. “Vamos levar novamente para o governador. A Serra precisa, o Estado precisa”, reforçou.
Além do debate sobre o Cetea, a reunião tratou da necessidade de ampliar a divulgação de outros serviços já existentes. Um exemplo é o atendimento odontológico para pessoas com deficiência severa que necessitam de anestesia geral, ofertado no Hospital Estadual Dório Silva, também na Serra. “É um serviço que funciona, está disponível, mas muita gente não sabe que existe. As pessoas precisam ser encaminhadas pelas unidades de saúde, mas falta divulgação”, avalia.
Para o coletivo, é fundamental que o Estado avance simultaneamente na expansão de serviços como o Serdia e na criação de estruturas especializadas como o Cetea, diante da exclusão, sofrimento e sobrecarga para as famílias decorrentes da ausência desses serviços, destaca a representante do MESN. “A Serra, por seu tamanho e pelas regiões que pode abranger, seria estratégica. Não vamos abrir mão disso”, finaliza.