Amariles Batista, conselheira municipal, relata impactos na mobilidade e na saúde
Há sete meses sem conseguir sair de casa sozinha e enfrentando sucessivas crises de infecção urinária, Amariles Batista, moradora de Aracruz, no norte do Estado, cobra a substituição da cadeira de rodas elétrica fornecida pelo Centro de Reabilitação Física do Espírito Santo (Crefes). Segundo ela, o equipamento que utiliza desde 2020 quebrou e, desde então, não houve solução por parte do Estado. “Estou desesperada”, ressalta.
Amariles relata que o conserto da cadeira, feito por empresas autorizadas, custa entre R$ 8 mil e R$ 10 mil, incluindo as baterias, o joystick que queima a placa e os pneus. “Eu não tenho como pagar isso de jeito nenhum, porque ganho um salário mínimo e pago aluguel”, afirma. Ela aponta que o modelo cedido pelo Crefes tem vida útil curta. “As cadeiras duram em torno de dois anos, às vezes um. Então, de praxe, o certo seria entregar outra depois de dois anos”, diz, informando que utiliza a mesma cadeira há quatro anos. “Não tenho força no braço para tocar a manual”, explica.

A demanda é atendida pela Subsecretaria de Políticas de Inclusão das Pessoas com Deficiência (Suped), ligada à Secretaria da Casa Civil. Segundo Amariles, a empresa Freedom, contratada para fornecer as cadeiras, informou que a entrega dos equipamentos está prevista apenas para 19 de dezembro, quando parte do serviço público e as fornecedoras já estarão em recesso. “Como vão fazer a entrega dessas cadeiras? Eu falei: ‘Tenho o batizado do meu neto agora, em dezembro. Vou sem cadeira? Não tem como!”.
Ela lamenta que, com frequência, fica impossibilitada de se alimentar e ir ao banheiro. “Agarrada na cama, sem comer, sem beber água, sem fazer nada, porque não tem como me locomover”, descreve. Sem a cadeira elétrica, sua autonomia desapareceu, destaca Amariles, que também é conselheira municipal de Saúde. “Eu não consigo sair na rua. Agora, por exemplo, preciso ir ao banco. Estou arrumada, esperando meu namorado me levar no horário de almoço. Ele está com a netinha doente e trabalha até tarde. Aí, mesmo assim, tem que me levar. Tudo eu dependo de alguém”, conta.
Ela explica que o filho com quem reside trabalha de dia e estuda à noite, por isso passa a maior parte do tempo sozinha. “Fico o dia todo conversando com a televisão e com as paredes. Estou quase com depressão. Está difícil”, completa.
Desde o início do problema, a conselheira tenta contato com o Crefes, sem sucesso. “Eles não atendem. Você liga e ninguém atende. Não sabemos se tem algum problema lá dentro”, enfatiza. Segundo ela, a situação já estava sendo acompanhada durante a gestão de João Bosco Dias, conhecido como Bosquinho, falecido no final de julho. “Logo que começou a dar defeito, eu falei com ele, que disse que iria fazer o processo de compra das cadeiras”, relata. A mudança passou para Martoni Moreira Sampaio, e o problema continua. “O que eu preciso é solução. Até hoje ninguém resolveu nada”, lamenta.
Amariles tentou acionar a Justiça, mas o processo não avançou justamente pelas dificuldades de mobilidade que enfrenta desde que a cadeira parou de funcionar, porque foram solicitados documentos que não tinha como providenciar sozinha.
Enquanto espera por um novo equipamento, ela relata que permanece na mesma cadeira que usa para tomar banho, sempre molhada e inadequada às suas necessidades, o que tem provocado adoecimento, já que não tem como deixá-la secar. A própria prefeitura, lembra, chegou a enviar uma cadeira de banho para que pudesse se deslocar até o médico, e o resultado foi imediato, infecções urinárias recorrentes. “Tomava banho e tinha que sentar na cadeira molhada, sem almofada. Dessa última vez, a infecção atacou até o rim”, relata.
Ela relata já ter procurado vereadores, deputados e representantes do movimento em defesa das Pessoas com Deficiência (PCD). “Falei com muita gente, mas ninguém resolve. Para ela, é “urgente” que o Estado reorganize o atendimento. “Quero que melhorem isso para mim e para outras pessoas. A Suped já atendeu melhor antes. Agora está muito difícil”, critica.

