Quinta, 28 Março 2024

‘Onde estão as políticas públicas para abertura das escolas?’, questiona epidemiologista

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A febre acomete apenas cerca de um terço dos contaminados sintomáticos. Mas a compra de termômetros foi priorizada nas escolas no lugar de máscaras e outros equipamentos de prevenção. Jansen Lube/PMV

A "prioridade para a Educação", tão alardeada por inúmeros governos, não passa de retórica vazia, caso não se materialize em orçamentos robustos e ações assertivas. Vazio que se tornou explícito durante a pandemia de Covid-19 no Brasil, onde a Educação tem sido relegada, na prática, a planos muito inferiores que os ditos nos discursos dos gestores. 

A lamentável contradição é o foco da crítica feita pela doutora em Epidemiologia e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Ethel Maciel em suas redes sociais nesta quinta-feira (27). 

Defendendo que "a educação é prioridade em uma sociedade", a cientista argumentou que "a discussão rasa é sobre abrir ou fechar escolas. Mas a discussão deve ser: onde estão as políticas públicas que possibilitem a abertura das escolas?", questionou, elencando peças ausentes na gestão da Educação em meio à crise sanitária: "qual o plano do MEC? Qual foi o investimento para um plano de testagem para as escolas? Onde estão os filtros HEPA e painéis de CO2 que permitem a melhoria do ar nos ambientes escolares? Há distribuição de máscaras PFF-2 para trabalhadores?". 

Ethel também citou investimentos que deveriam ter sido feitos na saúde pública infantil, como "compra de medicamentos para intervenção em caso de síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica", além de um "plano para ampliar a vacinação pediátrica". Respondidas essas perguntas, arrematou, "nós podemos dizer se a educação é prioridade para o governo".

Mais cedo, a pesquisadora já havia defendido o retorno presencial na data estabelecida pelo governo, três de fevereiro, apenas dos estudantes com esquema vacinal completo (duas doses) e o retorno das não vacinadas somente após avaliação da evolução da Ômicron no estado durante as duas primeiras semanas de fevereiro. Além de pedir um programa de testagem sistemática da comunidade escolar e aceleração da vacinação. 

Das orientações feitas pela epidemiologista, que tem se destacado nacionalmente como referência em epidemiologia aplicada à Covid-19, somente a aceleração da vacinação está sendo posta a cabo pelo governo do Estado. Na noite desta quinta-feira, o governador Renato Casagrande (PSB) e a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) divulgaram a realização de mutirões nos municípios para imunização infantil. "Vinte mil vagas para vacinação de crianças 5-11 anos contra a Covid-19 estarão disponíveis sexta-feira e sábado. Vários municípios estarão realizando mutirões", twitou Casagrande. 

"O objetivo ainda é poder acelerar a vacinação infantil em virtude do início do ano letivo, em fevereiro", ressaltou a Sesa, informando que, até o momento, o Estado aplicou 26,4 mil doses nesta faixa etária, público que é de 393.089 crianças. 

Um pouco antes, o governo havia anunciado uma coletiva de imprensa a ser realizada nesta sexta-feira (28), às 14h30, no Palácio Anchieta, para apresentar "as novidades do próximo ano letivo". 

'Vacina não condiciona retorno presencial'

A considerar as comunicações feitas pelos secretários de Estado de Saúde e Educação, Nésio Fernandes e Vitor de Angelo, respectivamente, horas antes em suas redes sociais, não há previsão de atendimento das demais orientações feitas pela epidemiologista: investimentos em testagem ampliada, equipamentos de purificação do ar nas escolas e distribuição de máscaras PFF2 aos trabalhadores, tampouco na possibilidade de adiamento do retorno presencial dos estudantes não vacinados. 

No início da tarde, Nésio Fernandes fez uma longa série de postagens em sua conta no Twitter, defendendo o retorno 100% presencial de todos os estudantes no dia três de fevereiro: "E as crianças de 0-4 anos? Estão com proteção incrementada pelo efeito indireto da cobertura vacinal da população. O risco de infeção na escola não é diferente dos demais ambientes, podendo ser menor que alguns. Suspender as aulas neste momento não controlará a morbimortalidade", afirmou o gestor da Saúde.

"Logo teremos vacinas para menores de 5 anos. A volta às aulas não pode estar condicionada à cobertura vacinal. Precisa estar condicionada a urgência da garantia do direito a educação/associados e ao reconhecimento do sucesso da vacina como estratégia coletiva", continuou.

Na última postagem, defendeu as pautas da ciência, mas sem qualquer garantia de implementação efetiva: "Agora para frente é PFF2 (e outras máscaras com melhor poder filtrante) para todos, vacina no braço, testar em massa e educação em saúde para estimular comportamento de baixo risco. A pandemia não acabou, mas caminhamos para derrotá-la".

O discurso do gestor da Saúde reforçou o que já havia dito Vitor de Angelo na quarta-feira (26), quando afirmou que "o governo do Estado não estuda suspender aulas presenciais nem restabelecer revezamento de alunos. O ano letivo na rede estadual está confirmado para começar dia 03/02. Porém, diariamente analisamos dados, avaliamos possíveis medidas e discutimos cenários futuros".

Nesta quinta-feira, as postagens do gestor da Educação se focaram no piso do magistério, criticando que a reivindicação "infelizmente virou mais uma pauta política", citando posicionamentos manifestados pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (PL). "PR diz que 'governadores não querem o [reajuste de] 33%'. Mas o próprio MEC disse que após consulta à AGU "é necessária a regulamentação da matéria por intermédio de uma lei específica", expôs Vitor de Angelo. 

Alerta vermelho nas UTIs

O Painel Covid-19 registrou, nas últimas 24 horas, 13 óbitos e 19,1 mil novos casos da doença no Estado, que totaliza 798.001 mil testes positivos e 13.465 mortos. A taxa de ocupação de leitos de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) está em 77,89% dos 398 leitos de fato atualmente disponibilizados exclusivamente para o tratamento das pessoas acometidas pela Covid-19.

No cenário nacional, segundo o Boletim do Observatório da Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) nesta quarta-feira (26), o Espírito Santo é um dos sete estados e distrito federal em alerta vermelha sobre o indicador hospitalar. Apenas oito estão na classificação verde e os demais doze estão em amarelo.

Como e quando voltar às aulas em 2022 no Espírito Santo?

Epidemiologia orienta adiamento dos não vacinados. Assopaes pede opção de híbrido e Sedu reafirma presencial
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