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Paciente espera há dois anos por exame no hospital Jayme

Alice Dordenari precisa fazer ressonância magnética, mas máquina está quebrada

Sesa

Com crises de ausência frequentes (crises epilépticas breves), a moradora de Vila Velha Alice Dordenari espera há mais de dois anos por uma ressonância magnética solicitada por sua neurologista pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Mesmo após longa espera para conseguir agendamento no Hospital Estadual Jayme Santos Neves, na Serra, o procedimento já foi cancelado em duas ocasiões. A justificativa apresentada pela equipe foi a mesma: a máquina do hospital estava com defeito, porém não houve aviso prévio à paciente, que tem deficiência visual e denuncia ter enfrentado deslocamentos, jejum e frustrações, além da sensação de ser negligenciada pelo sistema de saúde.

“Eu comecei a ter crises de ausência há alguns anos. É como se eu ficasse fora do ar por uns 30, 40 segundos. Não desmaio, mas perco a noção”, contou. Aos 25 anos, ela finalmente conseguiu atendimento com um neurologista e iniciou tratamento medicamentoso. “Tem remédio controlado, mas a médica pediu uma ressonância para entender melhor o que está acontecendo no meu cérebro”, explica.

O primeiro eletroencefalograma não indicou alterações. Já o segundo apontou sinais preocupantes e reforçou a necessidade da ressonância. “A neurologista disse que só com esse exame vamos saber o que causa as crises. Mas até hoje não consegui fazer”, reitera.

A primeira tentativa de realizar o exame, após demora no agendamento, foi em novembro de 2024. “Tive que sair de Vila Velha, passar por Cariacica, dormir na casa de uma amiga e fui levada pela mãe dela até o hospital na Serra. Sou deficiente visual, preciso de alguém para me levar”, relata. Ao chegar ao Jayme Santos Neves, recebeu a notícia: “Disseram que a máquina estava superaquecendo e não daria para fazer a ressonância. Eu não sabia nem o que dizer”, lamenta.

Meses depois, em abril deste ano, recebeu uma nova mensagem de reagendamento pelo WhatsApp, marcando o exame para essa segunda-feira (26). “De novo fui até lá, com meu pai, debaixo de chuva. Quando cheguei, a recepção estava vazia. A funcionária me disse que a máquina ainda estava quebrada. Só tinham feito uma ressonância naquele dia e dispensaram o resto dos pacientes”, afirma.

Mais uma vez, nenhum aviso foi enviado antecipadamente. “Ninguém teve a consideração de mandar uma mensagem para avisar. Saí de casa, enfrentei trânsito, chuva, jejum e simplesmente disseram que eu não faria o exame. E o pior foi ouvir da funcionária que da próxima vez sou eu que tenho que mandar mensagem perguntando se a máquina está funcionando. Isso é absurdo”, criticou.

Alice ainda relata os custos e impactos pessoais das tentativas frustradas. Além da viagem por aplicativo de transporte, seu pai precisou faltar ao trabalho para acompanhá-la na segunda marcação. Ela também observa que o jejum para o exame, mesmo sendo de quatro horas, é um sacrifício para muitos pacientes, principalmente os que vêm do interior.

Na sala de espera, Alice encontrou outras pessoas vivendo a mesma situação. “Uma senhora estava desde cedo em jejum. Outra veio de Guarapari e teve que voltar sem fazer o exame. Não é um caso isolado. Minha tia, que mora em Venda Nova do Imigrante [região serrana] tentou fazer esse mesmo exame em janeiro, no mesmo hospital, e também não conseguiu porque a máquina estava quebrada e continua quebrada até hoje”.

A paciente questiona “Será que não tem outro hospital com esse equipamento? Por que não nos encaminham para outro lugar? Parece que fazem de tudo para dificultar. Eu me sinto humilhada. É um descaso”, protesta.

Enquanto isso, a saúde de Alice depende do exame. “Já estou há dois anos esperando. A cada consulta com a neurologista, ela pergunta da ressonância. Eu digo que não consegui ainda. E eu não tenho condições de pagar. Um exame desses custa mais de R$ 800. É muito caro. Só posso contar com o SUS”.

O receio de que a próxima tentativa também resulte em frustração já acompanha Alice, pois o que deveria ser um direito e uma etapa básica do cuidado em saúde, virou um labirinto burocrático sem fim, afirma.

Procurada por Século Diário, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) não se manifestou sobre o caso, até o fechamento desta matéria.

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