Segunda, 29 Abril 2024

Retomada do 'Mais Médicos' não terá retorno de cubanos ao Brasil

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Acervo pessoal

"Nós residimos em Brasil é nossa segunda pátria, eu resido em Brasil desde 2013, constituí família e sou brasileiro naturalizado". A afirmação é do médico cubano Rafael Matos Medina, 39 anos, residente no Espírito Santo, que, nesta segunda-feira (30), comemorou decisão da Justiça anunciada no último dia 27, que determinou ao governo federal a recontratação de médicos cubanos que participavam do programa "Mais Médicos". O programa foi substituído pelo programa "Médicos pelo Brasil", que permaneceu engavetado até 2022, em decorrência de determinação do então presidente Jair Bolsonaro (PL).

"Queria esclarecer que foi noticiado por vários jornais de forma inverídica que nós 'retornaríamos ao Brasil' , mas nós já residimos no Brasil e essas matérias jornalísticas estão criando confusão e ataques nas redes sociais contra nós, infelizmente", diz Medina, que enfatiza: "Após quase 11 meses de luta, nossa associação [Associação Nacional dos Profissionais Médicos Formados em Instituições Estrangeiras e Intercambistas (Aspromed)] ganhou uma liminar que nos permite ser recontratados, já que fomos os únicos não prorrogados no programa "Mais Médicos".

A medida judicial chega com a declaração à imprensa do secretário de Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde, Nésio Fernandes, ex-secretário de Saúde no Espírito Santo, sobre a retomada do programa, esclarecendo que haverá prioridade a profissionais brasileiros, o que contribui para reduzir os ataques de grupos da extrema direita apoiadores de Bolsonaro contra os médicos cubanos. As agressões seguem a mesma linha do governo Bolsonaro, Na época, houve até agressões físicas contra os médicos cubanos.

Rafael Medina ficou sem trabalho depois da suspensão do programa, mas permaneceu no Brasil legalmente, por ser casado com uma brasileira e ter um filho. "Já na parte financeira foi difícil, mas com ajuda da família de minha esposa e amigos consegui seguir adiante". Ele é natural de Santa Cruz do Sul, província de Camagüey´, Cuba, formou-se em medicina em agosto de 2008, na Universidade de Medicina de Camagüey. Tem especialização em Saúde da Família e Comunidade, pós-graduação do ano 2011 na mesma universidade. Trabalhou na missão médica na Ilha Margarita- Venezuela no período de 2010-2013. Naquele ano, recebeu convite para trabalhar no Brasil, chegando em novembro de 2013.

Participou do curso de preparação de português e introdução a Atenção Primária, em Guarapari e conheceu o Sistema Único de Saúde (SUS), sendo transferido para Viana, onde ficou quatro anos e 11 meses como médico de estratégia da família. Em 2020, foi transferido para Cariacica, trabalhando em vários bairros. "Terminando esse período, fomos o único ciclo não renovado depois da suspensão do programa, retomado agora por decisão judicial", conta.

O médico comenta sobre a eleição do presidente Lula e destaca que "o novo governo de Lula está chegando para reconstruir e unir nosso país, um governo de vários partidos políticos que apoiaram o projeto progressista e democrático que ganhou as eleições, a mais difícil da história, que enfrentou um candidato de ultradireita que aplicou a máquina pública e gastou milhões para ganhar". Reforça que Bolsonaro criou uma onda de marketing político muito professional nas redes sociais onde as fake news (mentiras e manipulações) eram a pauta do dia".

Sobre a reaproximação do Brasil com Cuba, no governo de Lula, Medina acha que a política externa em geral do Brasil foi de total isolamento nos últimos quatro anos. "O governo passado colocou a ideologia e interesses de terceiros na frente do verdadeiro papel de Brasil como Estado e nação com um papel destacado na arena internacional".

Para ele, a "aproximação de Brasil com Cuba é algo necessário para a integração latino-americana; É bom relembrar que o governo passado quase rompeu relações com Cuba, tirou o embaixador e deixou só um encarregado de negócios. Foi muito doloroso assistir como o Brasil votou na ONU, a favor do bloqueio, fato inédito até agora".

Acredita que o Brasil é uma grande nação, com uma política externa sólida e de prestigio internacional, que está sendo retomado com o novo governo que tomou posse em 1º de janeiro. "Tenho certeza que Brasil está sendo chamado a ser líder internacional e um forte candidato a ajudar reformar a ONU, porque não pode continuar como está, onde unos poucos países decidem e com poder de veto anulam qualquer iniciativa".

Rafael Medina, ao referir-se ao bloqueio dos Estados Unidos contra seu país, desabafa: "O Brasil será combativo e protagonista na luta contra essa política de faroeste norte-americana. A família cubana sofre muito, já que é impedida de gerar riquezas e desenvolvimento econômico por essa potência estrangeira em nosso próprio hemisfério; uma vergonha e genocídio velado há mais de 60 anos.

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