Prefeitura é cobrada a adotar providências diante do que apontam como adoecimento da equipe

Servidores da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Serra Sede denunciam ocorrências sistemáticas de “assédio moral, perseguição, abuso de poder e favorecimentos” dentro da unidade por parte da gestão da unidade, liderada pelo diretor Edilson da Vitória Júnior e pela coordenadora de enfermagem Tatiana Passos Caetano. Relatos de enfermeiros, médicos e técnicos de enfermagem apontam que os gestores “têm praticado abusos que vêm adoecendo os profissionais e prejudicando o atendimento à população”.
As denúncias incluem exclusão de servidores concursados dos plantões extras; retaliações após questionamentos; manipulação de escalas; vigilância excessiva por câmeras; e ameaças e humilhações públicas. Os trabalhadores também relataram pressões por metas abusivas de atendimento e casos de pacientes desassistidos, que chegaram a falecer devido à desorganização e sobrecarga.
Em 2024, a equipe de enfermagem da UPA protocolou um ofício assinado por 18 servidores solicitando a destituição da coordenadora Tatiana Passos. O documento relatava “práticas assediadoras, punições seletivas, retirada de autonomia e favorecimento explícito a amigos da gestão”. O documento destacava que a situação já havia “extrapolado o limiar da tolerância e causado o adoecimento de vários profissionais”. No mês passado, novos documentos foram entregues à Secretaria Municipal de Saúde, que tem à frente Diogo Cosme, reforçando as denúncias contra Tatiana e Edilson, mas, segundo os servidores, nenhuma medida efetiva foi adotada.
A enfermeira Vânia Dias, servidora do município desde 2004, afirma que os episódios de assédio começaram a se intensificar após ela e outros colegas denunciarem a postura agressiva e discriminatória da coordenadora Tatiana Passos no ano passado. Segundo ela, a coordenadora passou a excluir seletivamente os profissionais dos plantões extras, favorecendo um grupo específico de contratados, principalmente ex-colegas do Hospital Dório Silva.
“Quando questionei essa conduta, fui chamada na sala dela, hostilizada e ameaçada. Chegou a simular que rasgaria minhas folgas eleitorais por conta de um comentário que ouviu de terceiros”, relatou. Vânia também encaminhou as denúncias à Secretaria de Saúde e ao Ministério Público do Trabalho (MPT), mas afirma que a gestão de Weverson Meireles (PDT), que assumiu como sucessor de Sergio Vidigal (PDT), tem se mantido omissa. “Quem denuncia é punido. A sensação é de total impunidade e medo”, descreve.
A médica Lourdes Albano, contratada em regime temporário, disse ter sido demitida após questionar a retirada de seus plantões extras pelo gestor Edilson. “Meus atrasos eram mínimos. Outros profissionais protegidos chegavam com horas de diferença e não sofriam punição. Fui demitida logo depois que procurei a Secretaria de Saúde para reclamar”.
Lourdes também relatou que presenciou manipulações no ponto eletrônico, imposições de metas de atendimento abusivas e descaso com pacientes em estado grave. “O assédio é tão intenso, que já houve colegas que tentaram tirar a própria vida”, denunciou.
Nessa quarta-feira (2), a enfermeira Cláudia Dondoni registrou Boletim de Ocorrência (BO) contra o diretor Edilson da Vitória por “assédio e perseguição”. Ela afirma que o gestor a abordou de forma humilhante em abril deste ano, quando esteve na unidade para resolver uma questão salarial, acompanhada de seus dois netos, um deles autista. “Fui acusada de tentar furar fila de atendimento e expulsa do estacionamento, mesmo explicando que estava ali em horário de folga para tratar de assuntos de trabalho. Meu neto, que presenciou tudo, viu que fiquei muito nervosa, urinou e defecou nas calças, foi uma situação muito triste”, relatou.
Ela também detalhou um episódio de novembro de 2024, quando foi trancada numa sala pelo diretor e pela coordenadora após alertar colegas sobre favorecimento político na distribuição de leitos. “Me coagiram a me retratar no grupo de WhatsApp da equipe. Fui ameaçada de que seriam feitas ouvidorias falsas contra mim. Desde então, fui perseguida e adoeci”.
Além do BO, Cláudia reuniu documentos, áudios e depoimentos de outros profissionais e denunciou ao Ministério Público e ao Ministério Público do Trabalho (MPT). Ela também informou que o caso foi levado ao Conselho Regional de Enfermagem do Espírito Santo (Coren-ES) e ao Sindicato dos Trabalhadores da Saúde no Espírito Santo (Sindisaúde-ES).
A técnica de enfermagem Leila Estela também fez um BO como comunicante nessa quarta contra a gestão da unidade por assédio moral. Segundo Leila, os técnicos têm sofrido com a imposição de metas abusivas de atendimento, sendo forçados a chamar uma quantidade excessiva de pacientes ao mesmo tempo, o que colocava em risco a segurança da assistência.
“Os técnicos diluíam medicações para vários pacientes ao mesmo tempo, sem condições adequadas para atender a todos com qualidade. Quem questionava, era coagido. Isso virou rotina. Os funcionários estão adoecidos, muitos têm medo de denunciar”, disse. “A UPA precisa voltar a ser um espaço de humanidade e empatia, não de adoecimento”, reforça.
Em nota, a Secretaria de Saúde da Serra se limitou a informar que recebeu o grupo de servidores na última semana e se comprometeu em abrir uma sindicância, em até 30 dias, para apurar os fatos narrados. “A pasta ressalta, ainda, que não houve registro de denúncia formal sobre os acontecimentos relatados em período anterior ao encontro com as profissionais”.