Usuários do Centro de Referência em IST/Aids denunciam precarização dos serviços
A falta de profissionais tem prejudicado os serviços do Centro de Referência em IST/Aids de Vitória, apontam os usuários. Eles se queixam da quantidade reduzida de trabalhadores na farmácia e no laboratório, o que causa problemas como impossibilidade de realização de exames e de acesso a medicamentos, o que pode acarretar danos à saúde dos pacientes, conforme denuncia o representante estadual e municipal da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids, Sidney Parreiras de Oliveira.
Sidney destaca que Vitória foi uma das 10 capitais escolhidas pelo Ministério da Saúde para reestruturação de serviços de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), Tuberculose e Hepatite, diante da insuficiência de recursos humanos. Entretanto, a reestruturação não vem acontecendo. De acordo com Sidney, há somente um farmacêutico, que trabalha seis horas por dia, sendo que o Centro de Referência funciona das 7h às 19h, com atendimento médico durante esse período. No laboratório, também há somente um profissional.A carência de servidores se torna ainda pior quando um deles precisa faltar por motivos de saúde, por exemplo, pois não há quem os substitua. O resultado disso, afirma Sidney, é a impossibilidade de fazer exames. Outro problema é, no caso das pessoas que tiveram contato com o HIV, por exemplo, terem que procurar outro lugar para tomar a Profilaxia Pós-Exposição (PEP), medicamento para não ser infectado pelo vírus. Sidney destaca que é preciso tomar até 72 horas após a exposição, mas quanto mais demorar, menor a eficácia.
Portanto, ao não conseguir o remédio no Centro de Referência, o paciente perde tempo ao ter que se deslocar para um Pronto Atendimento (PA). As pessoas que precisam da Profilaxia Pré-Exposição ao HIV, ou seja, que tomam medicamento para evitar o contágio caso venha a ter contato com o vírus, como profissionais do sexo e casais sorodiscordantes, também encontram dificuldades de acesso ao remédio. Sidney afirma que, muitas vezes, o médico tem que sair do consultório e cumprir papel de farmacêutico, por exemplo, para auxiliar o paciente.
Os pacientes já infectados, que tomam medicamentos para deixar a carga viral indetectável, também acabam encontrando dificuldade para acessar os medicamentos. Sidney aponta que, quando a pessoa não tem acesso ao serviço, tem que retornar ao local, o que nem sempre é possível, por exemplo, diante das dificuldades financeiras para pagar passagem. Sidney recorda que, embora a Lei 8.144/2011 garanta gratuidade no transporte público de Vitória para munícipes que vivem com HIV/Aids, esse direito não tem sido garantido.
A lei "concede gratuidade do vale transporte para os portadores do vírus HIV e doenças crônicas, para fins de tratamento devidamente comprovado, para uso no Sistema de Transporte Coletivo Municipal de Passageiros". Sidney recorda que, em 2020, durante as discussões sobre a integração dos ônibus de Vitória com os do Sistema Transcol, a Rede contatou o então prefeito, Luciano Rezende (Cidadania), e o então secretário municipal de Gestão, Planejamento e Comunicação, Fabrício Gandini (Cidadania).
Eles informaram que o município faria o repasse de recurso para a gestão estadual, com o objetivo de garantir a gratuidade após a integração, efetivada em maio de 2021. Entretanto, era final de gestão, Fabrício Gandini, que era o candidato apoiado pelo prefeito, perdeu as eleições, e deu-se início em 2021 à gestão de Pazolini, que tempos depois suspendeu a gratuidade.
O não cumprimento da lei, aponta Sidney, pode fazer com que Vitória não efetive a meta estabelecida pelo Ministério da Saúde de garantir que pelo menos 95% dos diagnosticados tenham acesso ao tratamento e fiquem com a carga viral indetectável, ou seja, com quantidade de vírus inferior a 40 cópias por ml de sangue, o que impede a transmissão do HIV. A meta é um passo para que, em 2030, o Brasil alcance a porcentagem de 100%.
Pessoas com HIV não acessam gratuidade no transporte público em Vitória
Garantida por lei, Sidney Parreira afirma que gratuidade encontra obstáculos na integração com o Transcol
https://www.seculodiario.com.br/direitos/pessoas-com-hiv-aids-nao-acessam-gratuidade-no-transporte-publico-em-vitoria
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