Quinta, 25 Abril 2024

Visibilidade lésbica e o direito à Saúde

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O direito à Saúde é uma garantia prevista na Constituição Federal, "um direito de todos e dever do Estado", como afirma o artigo 196. Apesar disso, para mulheres que se relacionam sexualmente com outras mulheres, o caminho até o serviço médico adequado passa por entraves como a falta de informação, a discriminação e a negligência institucional.

Um dos principais exemplos é a lacuna que se forma quando se fala de métodos de prevenção a doenças sexualmente transmissíveis. A ginecologista Bettina Moulin afirma que ainda é muito raro o entendimento de que mulheres que se relacionam de forma homoafetiva também estão sujeitas à transmissão de infecções. "Existe um tabu muito grande e muita desinformação. As pessoas esquecem que as IST's [Infecções Sexualmente Transmissíveis] podem, sim, passar de mulher para mulher", aponta.

A psicóloga Iasmyn Cerutti, vice-presidente do coletivo Resisto-ES, lembra que essa desinformação faz parte de todo um contexto de invisibilização de mulheres lésbicas. "Não é à toa que existe um mês inteiro para falar sobre a visibilidade lésbica. Essas mulheres já são negligenciadas de diversas formas e na saúde não é diferente", ressalta.

Em 2014, o Ministério da Saúde, ainda na gestão Dilma Rousseff, lançou o material "Atenção Integral à Saúde de Mulheres Lésbicas e Bissexuais", como resultado de uma oficina nacional voltada para profissionais de Saúde. O objetivo era aprofundar o conteúdo disponível em torno do tema.

Uma das conclusões do relatório é que raramente existe o uso de preservativos ou outro método de barreira de proteção para o sexo entre mulheres. Naquela época, já era apontada a necessidade de estratégias de educação sexual voltadas para esse grupo social.

Outro problema apontado no relatório foi a relação entre médicos e pacientes. "Profissionais de saúde devem rever como conduzem suas consultas, como dirigem a interlocução sobre a vida sexual das clientes, e deixar espaço no diálogo para que as mesmas se sintam à vontade para assumirem sua orientação sexual", diz o relatório.

Para Iasmyn, o tema deveria ser abordado desde a formação dos profissionais de Saúde. "Poderia ser pensado nos currículos dos cursos, para haver mais matérias sobre diversidade de gênero, de orientação sexual, para que sejam formados profissionais já com esse conhecimento", explica.

Ela acredita que a realização de treinamentos sobre diversidade sexual e atualizações dos funcionários do serviço de Saúde deveriam alcançar desde as atendentes e secretárias, até os médicos, enfermeiras e farmacêuticas. "Outro ponto que acho muito importante também é a busca de dados, pesquisar sobre a orientação sexual, identidade de gênero já nas fichas de acolhimentos de todas as pessoas que chegam até o serviço de saúde, afinal, não se faz políticas sem dados", aponta.

Bettina Moulin aponta que a atenção à saúde de mulheres lésbicas vai além da prevenção sexual, devendo estar alerta para outros problemas como o câncer de mama e de colo. "Independentemente de orientação sexual, as pessoas precisam se cuidar de todas as formas. Essas mulheres precisam se ver enquanto um corpo que precisa de cuidado, assim como qualquer outra mulher", enfatiza.

Mês da visibilidade

Nesta terça-feira (31) o Conselho Estadual LGBTQIA+, em parceria com o Coletivo Resisto, irá promover a roda de conversa "Perspectivas da saúde e direitos da mulher lésbica". O encontro online começa às 19h e poderá ser acompanhado nas páginas do Facebook e do Instagram do conselho.

O evento contará com a participação de representantes da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) para abordar métodos de prevenção a doenças sexualmente transmissíveis e divulgar informações sobre os serviços de saúde disponíveis na atenção primária do Sistema Único de Saúde (Sus).

"Esse não é um tema falado. Muitas vezes nós vamos à unidade de Saúde e o profissional não sabe nem o que falar para gente sobre métodos de prevenção", destaca Iasmyn.

Uma integrante da Comissão de Diversidade Sexual e Gênero na seccional Espírito Santo da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-ES) também participará do encontro, abordando os direitos da mulher lésbica.

Para fechar o mês da visibilidade, o Grupo Orgulho, Liberdade e Dignidade (Associação Gold) também realiza, netsa segunda-feira (30), a exibição do documentário Convictas, que conta a história de três mulheres que amam mulheres. O projeto audiovisual também aborda a feminilidade imposta ao gênero feminino. Após o filme, uma roda de conversa abordará as vivências lésbicas.

Serviço

Exibição do documentário Convictas
Data: 30/8
Horário 15h
Local: Sede da Associação Gold
Endereço: Avenida Presidente Florentino Avidos, 502, Centro de Vitória.
Edifício Alexandre Buaiz, sala 902.

Roda de Conversa Conselho Estadual LGBTQIA+
Data: 31/8
Horário: 19h
https://www.facebook.com/ConselhoLGBTES
https://www.instagram.com/conselholgbtes/

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