Sábado, 18 Mai 2024

Vítima de erro médico, advogada luta por tratamento

Vítima de erro médico, advogada luta por tratamento
O que era para ser um simples procedimento mudou por completo a realidade da advogada Joesir Rocha, ou Jô, como é conhecida. Após uma queda sofrida em novembro de 2005 em Pedra Azul, na região serrana do Estado, Jô precisou ser hospitalizada. Depois de passar um curto período no Hospital São Lucas, em Vitória, ela foi transferida para o Hospital Evangélico, em Vila Velha, a pedido do médico neurocirurgião Kinderman Luiz Pinto, para a realização de uma cirurgia para a colocação de placas de titânio. 
 
Depois da cirurgia, Jô soube que havia sofrido uma fratura estável, que requeria apenas imobilização, sem a necessidade de cirurgia. No entanto, ela foi encaminhada para uma cirurgia chamada artrodese, que consiste em um procedimento feito para estabilizar a coluna por meio da colocação de placas de titânio. Na cirurgia, os parafusos foram lateralizados, mas os da placa no lado esquerdo perfuraram a medula da advogada. Como consequência, ela perdeu o movimento das pernas. “Já saí da cirurgia sem sentir as pernas “, conta ela. O médico prescreveu medicamento para a dor e ela permaneceu internada por mais sete dias. 
 
O laudo médico que Jô recebeu quando saiu do hospital indicava incapacidade dos membros inferiores, o que demandava fisioterapia por tempo indeterminado. 
 
Após a cirurgia, se locomovendo com auxílio de cadeira de rodas, a advogada passou a pesquisar qual seria o melhor tratamento e descobriu, em 2006, a Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação. Depois de solicitar tratamento e preencher os requisitos, foi para Belo Horizonte e, em uma ressonância realizada no hospital em Minas Gerais, descobriu que os parafusos estavam em posição errada. 
 
Na época, ainda em 2006, ela ainda não havia entrado com ação contra o hospital e o médico. “O que queria mesmo era ficar boa”, diz ela, que continuou a buscar tratamento para a lesão.
 
Em maio de 2008 Jô ingressou com ação contra o Hospital Evangélico e o médico. A ação foi movida depois que um amigo da época da faculdade de Direito, hoje juiz, contou sobre o caso dela a um advogado que também é médico. Sensibilizado pela situação, o advogado a procurou e ingressaram com a ação judicial. 
 
Antes mesmo de entrar com a ação, Jô descobriu que a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) é referência em reabilitação sensorial e motora para pacientes com lesão medular. Em 2007 fez a avaliação que concluiu que ela preenchia os requisitos para o tratamento, que foi iniciado imediatamente. Desta vez, ficou um mês e meio em Campinas e retornou ao Estado.
 
Em 2008, ano em que ingressou com a ação, teve deferido o pedido de tutela antecipada, que demandava o pagamento mensal de indenização, o que possibilitou que ela retornasse a Campinas para continuar o tratamento.
 
O Ambulatório de Reabilitação Raquimedular do Hospital de Clinicas da Unicamp é coordenado pelo professor titular do departamento de Ortopedia e Traumatologia da Unicamp e de Engenharia Elétrica na Universidade de São Paulo, Alberto Cliquet Junior. O tratamento é feito através da aplicação de eletrodos fixados no quadril e pernas do paciente, que emitem corrente bifásica, depois monofásica, enquanto o paciente é suspenso em um colete preso a uma haste que mede peso, temperatura e pressão e tira 25% do peso do paciente. Por meio da estimulação, e com o auxílio de fisioterapeutas, o paciente caminha em uma esteira. 
 
Jô ficou em Campinas até o fim de 2009, quando já suportava 75% do próprio peso. No entanto, o tratamento teve de ser interrompido porque a tutela antecipada foi cassada e ela não teve condições de se manter em outro estado. Ainda assim, ela continuou indo e voltando para o estado de São Paulo, até que ficou inviável. 
 
Já em Vitória, com processo correndo, continuou com a rotina de exercícios de fisioterapia e aulas de natação para paraplégicos no Clube Álvares Cabral. No entanto, em 2010, sofreu uma queda e fraturou a perna direita. Quebrou o distal do fêmur e precisou ser operada no Hospital Central. Depois da cirurgia, comprovou-se que o osso foi colocado mais para a frente, o que fez com que o quadril girasse, encurtando a perna direita. “Resolvi não entrar com ação contra o Estado. Se contra a iniciativa privada já demora tanto tempo, imagina contra o governo?”, diz ela.
 
Uma segunda queda quebrou o platô tibial, o que também demandou cirurgia. Houve, ainda, uma terceira queda, que quebrou a tíbia em mais de um lugar, mas não houve necessidade de cirurgia. Sem o tratamento na Unicamp, Jô sofre com a dor neuropática, que provoca uma sensação de queimação do local da lesão para baixo.
 
Somente em 2012, Jô soube que o médico Kinderman Luiz Pinto sofre de nistagmo congênito, que se caracteriza por movimentos involuntários dos globos oculares geralmente de um lado para o outro e que dificulta muito o processo de focagem de imagens. Ou seja, para um neurocirurgião, esta condição pode configurar risco para o paciente.  
 
Enquanto Jô se tratava, o processo corria na Justiça Estadual. Depois de tramitar na primeira instância, a ação chegou ao Tribunal de Justiça do Estado (TJES). A audiência foi realizada nessa quarta-feira (8) – a sustentação oral foi feita pela advogada – e resultou na condenação do hospital e do médico por danos morais e materiais. 
 
Como os tribunais superiores não têm competência na matéria, os recursos impetrados em instâncias superiores serão, provavelmente, negados. Só resta no momento a publicação do acórdão e o retorno do processo para a 11ª Vara Cível de Vitória. A sentença demanda o pagamento de indenização. 
 
Agora, Jô aguarda a execução da sentença para retornar para Campinas e dar continuidade ao tratamento. “Quando voltei em 2008, o médico disse que voltaria a andar e naquela época tinha esperança. Agora não sei mais se vou voltar, mas é uma questão de qualidade de vida”.

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