Sindicato dos Rodoviários alerta para necessidade de medidas permanentes

Após reivindicação do Sindicato dos Rodoviários do Espírito Santo (Sindirodoviários-ES), o governo do Estado iniciou rondas policiais nos terminais de ônibus da Grande Vitória. A medida atende parcialmente ao pedido da categoria por reforço na segurança diante da escalada de violência no transporte público, que inclui casos de assaltos, agressões e até homicídios de trabalhadores.
A decisão foi tomada após a primeira reunião do Grupo de Trabalho Integrado (GTI) coordenado pelos subsecretários da Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social (Sesp), coronel Márcio Celante e Romualdo Gianordoli, na última quarta-feira (18), com participação do sindicato. A composição reúne ainda representantes da pasta de Mobilidade e Infraestrutura (Semobi), das polícias Militar e Civil, da Companhia de Transportes Urbanos do Estado (Ceturb-ES), do Sindicato das Empresas de Transporte Metropolitano da Grande Vitória (GVBus) e das guardas municipais de Vitória, Vila Velha, Serra, Cariacica e Viana. O objetivo é estudar, prevenir e combater o furto e o roubo no transporte público rodoviário.
A iniciativa surgiu após pressão do Sindirodoviários, que desde o mês passado intensificou as cobranças ao governo devido à crescente insegurança vivida por motoristas, cobradores e usuários do sistema Transcol. Para o dirigente da entidade Lucas Almeida, que participou do encontro, a atuação do grupo de trabalho representa um avanço. “Avaliamos como positiva, as rondas estão acontecendo e também estão investindo em medidas de inteligência”, aponta, mas alerta que é preciso garantir que as rondas nos terminais e garagens se tornem rotina e não apenas ações pontuais.

A reivindicação ganhou urgência no último mês de maio, com a denúncia do sindicato sobre o aumento de ataques a trabalhadores do transporte coletivo. Um motorista da linha 583 foi esfaqueado durante um assalto no bairro Carapina, na Serra.
O governo apresentou o uso de inteligência como eixo central, com investimento em videomonitoramento e estímulo à denúncia anônima, relata o representante sindical. Também detalhou a ampliação do projeto de inteligência artificial (IA), que passará a operar com 500 câmeras em ônibus e em pontos estratégicos da região metropolitana. As câmeras funcionam 24 horas e transmitem dados em tempo real para os centros de comando da segurança pública.
Além disso, planejam ações para fortalecer o Disque Denúncia 181. Um canal exclusivo para crimes no transporte coletivo também está em desenvolvimento, para facilitar o envio de informações por trabalhadores e passageiros. A Sesp e a Semobi estudam, ainda, campanhas de comunicação para incentivar o uso dos canais oficiais.
Durante a reunião, a Sesp também apresentou dados da violência no transporte coletivo da Grande Vitória. Só entre janeiro e maio de 2025, apontou 953 furtos e 391 roubos registrados. Vitória concentrou a maior parte dos furtos (328), enquanto a Serra lidera os casos de roubo (207). O governo destacou uma redução de 12,6% nos índices em comparação ao mesmo período do ano anterior, mas o quantitativo provocou estranhamento no Sindirodoviários, que alerta sobre uma subnotificação expressiva.
Segundo informações da entidade, a construção de mapas de risco com base nas denúncias e registros já está em andamento, e o GTI deverá, nas próximas etapas, cruzar essas informações com os dados das polícias e dos órgãos de mobilidade para definir estratégias mais direcionadas.
O sistema Transcol conta atualmente com 10 terminais, oito garagens e 381 linhas em operação. Em dias úteis, são cerca de 22 mil viagens realizadas, com transporte médio de 610 mil passageiros por dia. Além das rondas e das ações de inteligência, o sindicato cobra que o governo avance em outras frentes: presença permanente de policiamento nos terminais; segurança nas garagens; protocolos de emergência para situações de risco; e acompanhamento psicológico para trabalhadores vítimas de violência.
A próxima reunião do grupo está prevista para ocorrer em julho, e a expectativa é que o GTI apresente um plano de atuação com metas de curto, médio e longo prazo, e que haja maior participação dos representantes dos trabalhadores nas decisões.
Casos recentes
A criação do grupo de trabalho e o início das rondas policiais nos terminais ocorrem após uma sequência de episódios violentos que escancararam os riscos enfrentados por trabalhadores do Sistema Transcol. Um dos casos mais graves foi o ataque ao motorista Alex Fiene, ferido com golpes de facão durante um assalto enquanto operava a linha 583, em Carapina, na Serra. O agressor se irritou após o motorista explicar que não poderia parar o ônibus por conta de uma carreta à sua frente, e desferiu os golpes na cabeça, braço e peito. Alex levou pontos na cabeça e no braço, precisou ser hospitalizado e se recupera psicologicamente.
O caso motivou uma reunião emergencial do sindicato com a Sesp no dia 12 de junho, cobrando ações efetivas de proteção à categoria. O Sindirodoviários informou que estuda a criação de um centro de atendimento psicológico para os trabalhadores em sua sede.
Outro episódio que gerou protesto da categoria para pressionar por medidas de segurança foi o assassinato do manobrista Clóvis Brás Júnior, morto a caminho do trabalho na entrada da garagem da empresa Santa Zita, em Cariacica, no último dia 9 de junho. Na manhã seguinte, os rodoviários paralisaram temporariamente as atividades em protesto, cobrando providências do Estado.

A entrada da empresa, segundo os trabalhadores, é um dos pontos mais inseguros: isolada e sem iluminação adequada e vigilância. “Os colegas ficaram muito traumatizados com o fato e nós nos sentimos obrigados a fazer essa manifestação em protesto contra a violência”, disse na ocasião o presidente do sindicato, Marquinhos Jiló.
Mais recentemente, no domingo (22), um novo episódio de violência assustou passageiros e trabalhadores: um assalto em um ônibus próximo ao terminal de Carapina terminou com luta corporal dentro do coletivo e pelo menos duas pessoas esfaqueadas. As identidades e o estado de saúde das vítimas ainda não foram confirmados.