Sexta, 26 Abril 2024

Mais de 95% das mortes pela polícia no Espírito Santo são de pessoas negras

morte-policial Reprodução/Redes Sociais

Em 2021, dos 49 registros de pessoas mortas por forças policiais no Espírito Santo, 95,6% eram de pessoas negras. Os dados são do Monitor da Violência, pesquisa do G1, com números de todo o Brasil, divulgada nessa quarta-feira (4). "O negro já é considerado suspeito, criminoso, antes de qualquer coisa, por isso é alvo do extermínio", analisa Márcia Rodrigues, professora do departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e pesquisadora na área de sociologia da violência.

O monitoramento faz uma comparação entre as mortes por forças policiais e o percentual de pessoas negras na população de cada estado. No Espírito Santo, apesar do índice de mortes negras passar de 95%, esse público ocupa 61,1% da população capixaba, o que mostra a forma desproporcional que essas mortes atingem corpos pretos.

Márcia Rodrigues enfatiza que tanto o encarceramento quanto a morte de pessoas negras por forças policiais são traços da criminalização histórica desses corpos. Ela cita o conceito da sujeição criminal, estudado na sociologia da violência. "Trata-se de uma série de características - dentre as quais a cor, local de moradia, forma de vestir - que colocam certas pessoas como suspeitas antes de qualquer tipo de averiguação (...) O fato de ser negro, por si só, já é considerado uma categoria forte pela polícia", explica.

Em todo o Brasil, das 6,1 mil pessoas que foram mortas por policiais, 82% eram negras. O índice, resultado de informações coletadas das Secretarias de Segurança Pública de cada unidade federativa, não conta com informações de onze estados, que não coletam ou não disponibilizaram à pesquisa o número de pessoas negras mortas por forças policiais. O Monitor da Violência é uma parceria do G1 com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública e o Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP).

No Espírito Santo, um dos casos mais recentes foi o assassinato de Welinton Dias Silva, de 24 anos, baleado pela Polícia Militar, na região da Grande São Pedro, em Vitória. Vídeos mostram a aproximação do policial que, mesmo vendo o morador parado e com os braços levantados, atirou. O assassinato foi no dia 2 de abril. Na ocasião, o secretário de Segurança Pública, coronel Márcio Celante Weolffel, anunciou a instauração de um inquérito para investigação e o afastamento dos policiais nas atividades operacionais. 

Reprodução/Redes sociais

"O negro já é criminalizado antes de qualquer tipo de averiguação. Todas as pesquisas mostram isso. O que a gente não tem ainda são estudos de grande porte que tratem de uma forma mais detalhada esse dispositivo racial que é acionado no cotidiano e que vai se confirmar não só no encarceramento dos negros, como também com as mortes", conclui Márcia.

Mortes policiais aumentam no Estado

O número geral de pessoas mortas pela polícia no Espírito Santo vem aumentando ao longo dos últimos anos. Se comparados aos dados referentes a 2018, quando 30 mortes foram registradas, os números de 2021 apresentam um aumento de 63,3%. O monitoramento mostra um crescimento gradual nos anos seguintes, sendo 38 notificações em 2019 e 46 em 2020.

O aumento vai na direção contrária dos dados do país, que apresentam uma queda de 4,5%, em relação a 2020, quando 6,4 mil mortes pela polícia foram registradas. De acordo com o G1, em nível nacional, os dados de 2021 revelam o menor patamar de mortes por policiais em quatro anos. A diminuição também foi averiguada no número de policiais assassinados, que caiu de 221, em 2020, para 183, em 2021.

Na ocasião da morte do jovem Welinton Dias Silva, da Grande São Pedro, a União de Negros e Negras pela Igualdade no Espírito Santo (Unegro-ES) denunciou a arbitrariedade das mortes causadas pelas forças policiais. "Não podemos aceitar que um representante do Estado julgue, condene e execute qualquer pessoa. É inconstitucional, não têm respaldo do Código Penal, afinal, a pena de morte não faz parte do mesmo", disseram em uma nota.

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Comentários: 1

Tiago Silva em Sexta, 06 Mai 2022 15:52

A maior parte dos envolvidos em crimes são negros COMPROVADAMENTE!! Parem de criminalizar o trabalho da Polícia!

A maior parte dos envolvidos em crimes são negros COMPROVADAMENTE!! Parem de criminalizar o trabalho da Polícia!
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