Moradores relatam agressões físicas e verbais por parte de policiais militares

O Instituto Conexão Perifa acionou o Ministério Público do Espírito Santo (MPES) e as coordenações de Mulheres e Direitos Humanos da Defensoria Pública do Espírito Santo (DPES) em decorrência da ação policial ocorrida no Bonfim, no Território do Bem, no dia 9 de junho, quando foram utilizados sprays de pimenta contra moradores e um rapaz foi baleado com bala de borracha na perna.
A presidente do instituto, Crislayne Zeferina, explica que a coordenação de Mulheres foi acionada porque a esposa do rapaz baleado foi agredida. “A violência da PM está escancarada e as autoridades não fazem nada. Só querem saber de fazer vídeo para reels no Instagram”, denuncia.
Moradores que preferem não se identificar, por temer represálias, afirmam que os mesmos policiais estão agindo principalmente em Bonfim e no bairro Consolação, sobretudo à noite. No dia 9, recordam, eles se aproximaram do rapaz, dono de um bar, e disseram que alguém tinha entrado na casa embaixo do bar. As pessoas que estavam presentes afirmaram que não tinha ninguém lá.
Os moradores disseram que teve início uma discussão, que havia cessado, quando outros policias chegaram jogando spray de pimenta à revelia, inclusive em um adolescente de 14 anos que é autista. Também houve tiro de bala de borracha, à queima-roupa, no dono do bar. A polícia, então, recordam os moradores, partiu para cima dela. O rapaz baleado foi levado para a delegacia, mas não foi preso.
No dia 10, relatam, os policiais teriam voltado ao Bonfim e abordaram alguns rapazes que estavam em uma rua cheia de bares, perguntaram o que estavam fazendo, e bateram neles. “Aqui a gente tem que aceitar levar porrada, se não é preso por desacato. Se tem bar, fecha o bar, xingam as pessoas. Não querem que o povo de Consolação e Bonfim tenha lazer”, diz. Os moradores relatam que os xingamentos mais comuns contra as mulheres são “puta”, “vagabunda”. Com os homens, traficante.
A violência policial no Território do Bem tem sido uma queixa constante dos moradores do Território do Bem. Em outubro de 2024, o Fórum Estadual de Insegurança Pública criou um observatório de pesquisa sobre a violência policial. A ideia é fazer uma checagem de dados para averiguar se os números divulgados pelo Governo do Estado condizem com os elencados pelo fórum.
Crislayne Zeferina informa que o observatório vai checar dados sobre a violência policial nas comunidades periféricas por meio de notícias veiculadas na imprensa e de levantamento feito pelos próprios moradores. Assim, será possível comparar com o quantitativo que consta nas pesquisas oficiais, como as do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN).
O fórum foi criado após a ocorrência de oito mortes em ações policiais registradas no mês de setembro de 2024 em Vitória. Os crimes foram nas comunidades do Território do Bem, Jesus de Nazareth e Tabuazeiro. A mobilização começou a ser discutida no dia 25 de setembro, após uma manifestação em decorrência do assassinato de Bruno Vieira Lopes da Silva, de 24 anos, e Vinicius Alves de Jesus, de 20, em Jesus de Nazareth.