Domingo, 19 Mai 2024

Prefeitura da Serra se recusa a fornecer informação sobre força-tarefa

Na última quinta-feira (21), a Prefeitura da Serra, as polícias Civil e Militar e o Poder Judiciário iniciaram uma força-tarefa de combate à criminalidade no município, o mais violento do Estado. Nessa segunda-feira (25), o secretário interino de Defesa Social, Pedro Paulo Torezani, e o comandante do 6º Batalhão da PM, tenente-coronel Nylton Rodrigues, concederam uma longa entrevista à Rádio CBN-Vitória para explicar os detalhes do programa. 

 
Surpreendentemente, na tarde dessa segunda-feira (25), a reportagem de Século Diário entrou em contato com a Assessoria de Comunicação da Prefeitura da Serra solicitando uma entrevista com o secretário. Após consultar os superiores, a assessora informou que o secretário não falaria mais sobre assunto, que a entrevista à Rádio CBN-Vitória fora a última (e única). 
 
A reportagem questionou os motivos da recusa, alegando que horas antes ele havia dado uma longa entrevista à CBN. A assessora justificou que o secretário Torezani não falaria mais para não atrapalhar o serviço de inteligência da polícia, como se a divulgação de ações gerais de enfrentamento à violência pudessem ser comparadas a investigações sigilosas da polícia. 
 
Antes de receber a negativa, a reportagem foi obrigada a antecipar quais seriam as “dúvidas” sobre a força-tarefa. O jornal queria esclarecer, por exemplo, como funcionará a chamada “ocupação” por cerca de 90 dias em cada um dos 12 bairros mapeados como os mais violentos; confirmar os dados de homicídios, e saber se os 100 policiais mobilizados para a operação sairão do efetivo de cerca de 400 PM que servem à cidade da Serra. 
 
Essas “dúvidas” não estavam respondidas no release postado no site oficial da Prefeitura da Serra. A reportagem insistiu que a informação sobre a força-tarefa era de interesse público, uma vez que afeta o dia a dia do cidadão serrano, que convive com taxas de homicídios de guerra civil e tem interesse em se informar sobre ações que possam reduzir a criminalidade. 
 
A recusa da Prefeitura da Serra em fornecer informações sobre a operação e a exclusividade dada à Rádio CBN – de um assunto de interesse público que deveria ser transmitido por meio de uma coletiva de imprensa – levam o jornal a deduzir que a Assessoria de Comunicação tinha como estratégia passar as informações que interessavam à Prefeitura e não esclarecer de fato o funcionamento do programa. 
 
Sem ter meios para apurar a informação, Século Diário esclarece aos seus leitores, sobretudo o cidadão da Serra, que ficou privado da informação, que a dúvida sobre a origem dos 100 homens mobilizados para a ação era sim relevante. Em janeiro, uma reportagem do jornal mostrou que a média de policial por habitantes era uma das mais baixas do Estado: um PM para 1.000 pessoas (a ONU recomenda um policial para 250 habitantes).
 
Considerando que o efetivo da PM no município é de cerca de 400 policiais, seria fundamental saber se esses homens destacados para a força-tarefa saíram desse já precário efetivo ou são reforços de outros batalhões. 
 
A mesma reportagem também tratou das taxas de homicídios da Serra, uma das mais elevadas do País e a mais alta do Estado. Segundo o Mapa da Violência 2012 – considerado por especialistas o mais completo estudo sobre o tema no Brasil -, a taxa média de homicídios no município serrano, entre os anos de 2008 e 2010, foi de 99 homicídios por 100 mil habitantes. Se incluirmos os dados de 2011 e 2012 nas estatísticas do Mapa, a taxa média dos últimos cinco anos (2008 a 2012) atinge a impressionante marca de 96 assassinatos por 100 mil habitantes. 
 
Apesar dos números estarrecedores, na entrevista o tenente-coronel comemora a redução de 11% das taxas de homicídios no comparativo de 2012 com 2011, atribuindo o resultado positivo ao trabalho da polícia, mas não diz que nos primeiros 45 dias do ano, o número de homicídios na Serra superou em 11% o mesmo período de 2012, o que confirma que não há tendência de queda, como apontou na entrevista o comandante do 6º Batalhão. 
 
É pelo direito do leitor ao contraditório, que Século Diário insistiu em falar com o secretário Pedro Paulo Torezani, mas, infelizmente, faltou transparência à Prefeitura da Serra. 

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