quinta-feira, outubro 24, 2024
27.1 C
Vitória
quinta-feira, outubro 24, 2024
quinta-feira, outubro 24, 2024

Leia Também:

Prisão de policial militar que matou músico em condomínio será prorrogada

Delegado descartou legítima defesa e apontou crime como “execução brutal, covarde e com requintes de crueldade”

Reprodução

Preso temporariamente desde essa segunda-feira (17), o soldado da Polícia Militar (PMES) Lucas Torrezani de Oliveira, que matou o músico, capoeirista e bacharel em Direito Guilherme Rocha, conhecido como “Pagodinho”, em um condomínio em Jardim Camburi, Vitória, deverá permanecer pelo menos dois meses no Quartel do Comando Geral da PM. A informação é do delegado da Divisão de Proteção a Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Marcelo Cavalcanti, ao antecipar que fará um novo pedido em 30 dias, quando vence o atual. Ele apontou o crime como “brutal” e “covarde” e descartou a versão de legítima defesa.

Cavalcanti foi o responsável por realizar as diligências no condomínio após o crime. Diante da análise das imagens, consideradas determinantes, e das entrevistas e depoimentos de testemunhas, foi solicitado o pedido de prisão temporária, acatado pela Justiça. “Nos choca ver as imagens, a vítima foi brutalmente executada, de forma covarde e sem chance de defesa, inclusive, permanecendo com as mãos para trás a todo momento”, destaca.

O delegado também apontou “requinte de crueldade” e “frieza” do policial. As imagens mostram Lucas dando dois goles na bebida logo após matar Guilherme, além de não socorrer a vítima. “Não teve compaixão, queria executá-lo, mesmo”, enfatizou.

Cavalcanti constatou que o PM tinha o hábito de beber no condomínio, promovendo “algazarra” e “zoada”, sempre na entrada do bloco da vítima, e não de onde morava, “para não incomodar seus familiares”. Por esse motivo, já existiam cinco ocorrências contra ele em dois meses, como reforçado pela síndica, Mônica Bicalho. 

Guilherme tinha 37 anos e foi assassinado na madrugada de segunda, às 3h, com um tiro fatal que atingiu o ombro e atravessou o peito. Ele morava no condomínio com a esposa e a enteada de 12 anos, e desceu para pedir ao soldado que abaixasse o som. Em certo momento, Lucas retira a arma da cintura, primeiro encosta no ombro de Guilherme, e depois bate com ela em seu rosto. O músico reage colocando a mão na arma e é empurrado por um amigo do PM. Depois, segue em direção à porta e já cai executado. O crime gerou comoção e cobranças por Justiça.

Redes Sociais

O soldado apresentava odor etílico e, no local, alegou legítima defesa e não foi preso em flagrante. Em seguida, foi conduzido para a 1ª Delegacia Regional e teve a arma apreendida, mas foi liberado por um delegado de plantão. A justificativa da PC é de que, “naquele momento, não haviam elementos suficientes para lavrar o auto de prisão em flagrante”.

O amigo do atirador que empurra Guilherme também é investigado, como afirma o titular da DHPP. O nome dele, porém, não foi divulgado. As investigações iniciais informam a presença de três pessoas junto com o soldado, consumindo bebidas alcóolicas.

O titular da DHPP tem prazo de 60 dias para apresentação de relatório ao Ministério Público Estadual (MPES), para que ofereça denúncia à Justiça. O militar, de 28 anos, vai responder por homicídio duplamente qualificado. Após a decretação de prisão, ele se entregou à PC na presença de um advogado e se valeu do direito de permanecer em silêncio. Uma oitiva será realizada, ainda sem data marcada. 

Redes Sociais

Finalizado o inquérito na Polícia Civil, a Corregedoria da Polícia Militar abrirá a apuração da conduta de Lucas, por meio de um Processo Administrativo Disciplinar (PAD). Como ele cometeu o crime fora de serviço, segundo o corregedor, major Alves Chirst, é necessário aguardar o resultado da investigação iniciada pela Polícia Civil. Lucas entrou na Polícia Militar em 2020.

O major garantiu uma “investigação criteriosa e rigorosa” e disse que “a PM não irá tolerar nenhum desvio de conduta”. Sobre o registro constante de crimes envolvendo policiais no Estado e o fato de serem autorizados a utilizar suas armas em situações de consumo de bebidas alcóolicas, o major alegou que “não há restrição para o porte”, permitido por 24 horas, e “espera-se que os policiais tenham consciência”. 

Mais um crime

Já em relação à execução cometida na madrugada desse domingo (16) dentro da casa de shows Gordinho Sambão, em Mário Cypreste, Vitória, o delegado Marcelo Cavalcanti e o corregedor da PM se limitaram a dizer que está sob investigação. Dois militares são suspeitos de envolvimento na execução de Eduardo Chaves Camilo, de 32 anos. Uma jovem de 20 anos também foi baleada na perna.

“Não posso falar nada ainda”, comunicou o titular da DHPP, dizendo que avalia imagens para identificar autoria e circunstância, além da motivação do assassinato. Ninguém foi preso até agora.

O local estava cheio no momento dos disparos, à 1h30. A vítima morreu na hora. Sobre a jovem baleada, não há informações de seu nome nem estado de saúde.

A Polícia informou que o Gordinho dispõe de um livro onde são registradas as armas de fogo de agentes de segurança pública que entram no local, com informações como nome do portador, data e horário de entrada e saída, calibre e cargo. Um dia após o crime, a casa de shows manifestou “consternação” e “lamentou profundamente o ocorrido”. Também reforçou que o seu esquema de segurança “segue com rigidez todas as normas estabelecidas e este foi um fato isolado”.

Assim como os procedimentos da execução em Jardim Camburi, considerando que os suspeitos também estariam de folga, após elucidado o caso pela Polícia Civil, serão abertos PADs na Corregedoria da Polícia Militar.

Mais Lidas