Objetivo é monitorar migração do RJ para o Estado de integrantes de facções

O Governo do Estado anunciou, nesta quinta-feira (30), o acionamento de um “plano de contingência” para monitorar a possível migração de integrantes de facções criminosas do Rio de Janeiro para o Espírito Santo. A medida acontece em meio à repercussão da Operação Contenção, realizada nessa terça-feira (28) pela Polícia Militar nos Complexos do Alemão e da Penha, na capital carioca – que já é considerada a maior chacina da história do Brasil, com mais de 120 mortes.
Nessa quarta-feira (29), o presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Santos (União), defendeu, em declarações no plenário, o fechamento das fronteiras capixabas com o Rio de Janeiro. Ele afirmou que encaminhou um ofício ao governador Renato Casagrande (PSB) cobrando a medida. “Não se trata de criar alarde, mas de agir com responsabilidade. Precisamos manter a atenção redobrada e estar preparados para garantir a tranquilidade dos capixabas”, discursou.
Segundo o Governo do Estado, estradas que cortam os municípios do sul do Estado como Presidente Kennedy, Mimoso do Sul, Apiacá, Bom Jesus do Norte, São José do Calçado e Guaçuí, que fazem divisa com o Rio de Janeiro, estão com monitoramento reforçado, contando com apoio da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Apesar disso, não haveria indícios, até o momento, de migração de suspeitos pelas fronteiras.
De acordo com as informações oficiais, o “plano de contingência”, elaborado pela Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (Sesp), se resume a “criar um fluxo de informações de inteligência entre todas as agências federais e estaduais, com o intuito de identificar possíveis fugas para o Espírito Santo, tanto de criminosos que atuam no Rio de Janeiro quanto de indivíduos do Estado que estejam escondidos em território fluminense e tenham intenção de retornar”.
O vice-governador Ricardo Ferraço (MDB), coordenador do Programa Estado Presente em Defesa da Vida e pré-candidato a governador, foi escalado para responder pelas ações com a Sesp. A pauta da segurança pública tem sido um dos focos de Ferraço em meio às movimentações pré-eleitorais.
Debate
A repercussão da chacina no Rio de Janeiro tem dominado os debates políticos no Espírito Santo. Seguindo o seu perfil de um progressista bastante pragmático, Renato Casagrande se manifestou publicamente com críticas à operação da Polícia Militar, mas evitou ser incisivo e apontar responsabilidades.
Segundo declarações à CNN e ao jornal A Gazeta, o governador comentou que a ação da PM fracassou, tendo em vista que não atingiu o seu maior objetivo, que era prender o traficante Doca, considerado um dos líderes do Comando Vermelho. Além disso, as pessoas mortas eram “soldados” da facção, que podem ser facilmente repostos. Casagrande argumentou também que “não é normal” uma operação com um número de mortos tão grande.
Nas redes sociais, o deputado estadual de extrema direita Callegari (PL) criticou as declarações. “O que não é normal, Sr. Governador?? 120 vagabundos irem para vala ou assistirmos às cenas de barbárie diária a que a população do Rio de Janeiro é submetida dia e noite? Obrigado por sua sinceridade em expor sua real ideologia para a população capixaba”, disparou, em publicação nesta quinta-feira (30).
Já o deputado estadual João Coser (PT) defendeu a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública, proposta do governo do presidente Lula (PT) para criar um sistema integrado dos governos estadual, municipal e federal, visando o combate ao crime organizado.
CPI do Crime Organizado
Também na esteira da chacina no Rio de Janeiro, o presidente do Senado Federal, Davi Alcolumbre (União-AP), determinou para a próxima terça-feira (4) a instalação da Comissão Parlamentar do Inquérito (CPI) do Crime Organizado. Entre os componentes indicados estão os três senados do Espírito Santo: Marcos do Val (Podemos), Magno Malta (PL) e Fabiano Contarato (PT).
Marcos do Val acaba de voltar de uma licença médica – que na verdade foi um acordo para apaziguar a relação do Congresso com o Supremo Tribunal Federal – e já deverá ocupar a posição de membro titular da CPI. Magno Malta, em recuperação de uma cirurgia no joelho, também foi escalado entre os titulares.
Fabiano Contarato, por sua vez, foi indicado como membro suplente. Apesar de ser filiado ao principal partido de esquerda do país, Contarato tem investido cada vez mais em um discurso punitivista, próximo do que utilizou em sua primeira eleição a senador, em 2018.
Oposição da direita deverá dominar a composição da CPI. Além dos capixabas, estão entre os titulares indicados os senadores Flávio Bolsonaro (PL-RJ), Sergio Moro (União-PR), Alessando Vieira (MDB-SE), Otto Alencar (PSD-BA), Jorge Kajuru (PSB-GO), Rogério Carvalho (PT-SE) e Jaques Wagner (PT-BA). Para a suplência foram indicados, por enquanto, Marcio Bittar (PL-AC) e Eduardo Girão (Novo-CE), restando, ainda, seis vagas em aberto.

