Sábado, 20 Abril 2024

Crescimento de casos de praças com transtornos psiquiátricos preocupa Associação de Cabos e Soldados

Crescimento de casos de praças com transtornos psiquiátricos preocupa Associação de Cabos e Soldados
A paralisação da Polícia Militar ocorrida em fevereiro deste ano em decorrência do movimento dos familiares e amigos que impediam a saída de viaturas dos quartéis e a consequente retaliação e aumento de pressão sobre os militares acusados de integrarem o movimento expôs uma chaga na corporação, que vem ficando mais visível com o passar dos meses, que é o adoecimento da tropa, que padece principalmente no campo da saúde mental. Somado a isso, a retaguarda que deveria servir de abrigo a esses militares, que é o Hospital da Polícia Militar (HPM), também tem a estrutura precarizada e que não atende de forma satisfatória à tropa.
 
Durante a paralisação, ficou evidente, na forma de vídeos captados no momento de sofrimento dos policiais, que o sufocamento da tropa tinha atingido níveis alarmantes. Em imagens captadas no próprio HPM, diversos policiais apareciam em sofrimento, buscando ajuda médica, depois de serem mandados de volta para as ruas sem qualquer respaldo de segurança.
 
De acordo com o diretor da Associação de Cabos e Soldados do Estado (ACS/PMBM-ES), soldado Fábio Silva, o HPM ficou meses sem médico psiquiatra. Ele conta que houve casos de policiais que haviam sido afastados para tratamento médico por meio de atestados de psiquiatras – ou baixados, no jargão da tropa – e passaram a ser considerados aptos por meio de avaliação na corporação e a partir de laudos de médicos que não são psiquiatras. 
 
O caso gerou reações negativas. Para contornar o problema, foi chamado da reserva um coronel médico psiquiatra que, segundo Silva, passou a considerar aptos policiais “baixados” sem que fossem seguidos todos os protocolos. 
 
Diante da precarização do atendimento, a associação passou a disponibilizar um médico psiquiatra para os associados. O serviço passou a ser oferecido em junho deste ano e, desde então, já foram mais de 200 atendimentos, segundo o soldado.
 
Em entrevista publicada no site institucional da ACS, o médico Bernardo Santos Carmo, que acompanha quase 500 militares dentro e fora da associação, apontou que a tropa está psicologicamente doente. Ele contou que ouviu relatos de pacientes que não se sentem confortáveis, tratados, escutados ou acolhidos no HPM, que é o local em que se pode oferecer assistência efetiva a esses militares.
 
“Há uma desesperança quase que unânime e sentimento de menos valia, de desvalorização do próprio trabalho é algo que se intensificou muito nos últimos tempos. A irritabilidade também é constante a ponto de, se não houver um tratamento para muitos policiais pode haver uma tragédia iminente. Inclusive muitos devem ficar afastados por isso. É algo temerário esses militares continuarem em serviço com o risco de homicídios e principalmente suicídios. Já presenciei esse último risco em dezenas de militares”, disse o psiquiatra na entrevista à entidade.
 
Este quadro de adoecimento vem causando levando muitos dos policiais a tomarem decisões drásticas, como o suicídio ou tentativa de suicídio. Na última semana, a própria ACS noticiou que três policiais militares tentaram contra a própria vida em um intervalo de três dias. Um deles, inclusive, ligou para o Centro Integrado Operacional de Defesa Social (Ciodes) transtornado antes de tirar a própria vida.
 
Os surtos psicóticos, tentativas de suicídio e internações de policiais tiveram aumento depois dos eventos de fevereiro, o que acendeu um sinal de alerta na ACS, que passou a viabilizar os atendimentos.
 
O soldado Fábio Silva acredita que não é esse policial que a população queira nas ruas – que não concluiu o tratamento e que tem transtornos psiquiátricos – atendendo às ocorrências que, na maioria das vezes são estressantes. Ele conta que a falta de valorização somada à falta de atendimento especializado no HPM vai piorando a situação, com a piora daqueles policiais que tentaram suicídio, com a exclusão de acusados de integrarem o movimento ou que estão respondendo a Procedimentos Administrativos Disciplinares (PADs), aumentando a tensão na corporação. “Se o militar não pode se expressar verbalmente e nas redes sociais, ou pode ser detido, como o soldado Nero, a doença se expressa no corpo dele”, diz Silva, se referindo ao caso do soldado Nero Walker Soares da Silva, preso desde 16 de junho no Quartel do Comando Geral (QCG) da Polícia Militar, em Maruípe, Vitória, por postagens no Facebook interpretadas pelo Comando da Polícia Militar como perturbação da ordem.  
  

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