Omissão de Pazolini na “Lei Anti-Oruam” e a aliança com o PL em 2026

“Como o campo conservador pode despertar nele [Lorenzo Pazolini] alguma esperança? Como o PL pode depositar alguma perspectiva de governo, se ele não tem coragem de fazer um enfrentamento tão necessário?”. As perguntas foram feitas pelo vereador Dárcio Bracarense (PL) no plenário da Câmara de Vitória nessa quarta-feira (18), um dia após o presidente da Casa, Anderson Goggi (PP), promulgar a “Lei Anti-Oruam”, já que Pazolini decidiu se omitir sobre o tema – não vetou nem sancionou, e deixou o prazo regimental correr até o limite. A decisão chama atenção, por se tratar de projeto de autoria do seu próprio líder do Governo, Leonardo Monjardim (Novo), e outro vereador do PL, Armandinho Fontoura, que tem circulado com o prefeito, além de ocorrer na esteira de acenos diretos feitos pela primeira vez por Pazolini às pautas da extrema direita, como a anistia aos presos e condenados do 8 de janeiro. O PL e o Republicanos vêm dialogando sobre as eleições de 2026, quando Pazolini vai disputar o Palácio Anchieta no palanque de oposição ao governador Renato Casagrande (PSB). A ofensiva pretende reunir esforços nesse sentido, superando o afastamento entre as duas legendas que marcou a disputa municipal de 2024. Declarando-se “independente”, Dárcio acusou o prefeito de “lavar as mãos” e “se acovardar” e, para finalizar, soltou: “peço que mude sua postura, porque vai ficar muito difícil defender uma candidatura ao governo com esse tipo de posição absolutamente frágil”. O outro vereador do PL, Armandinho, não pegou embalo nas críticas e se concentrou apenas em exaltar a proposta. Mas está aí um ruído político-eleitoral, que ainda deve render novos capítulos. Afinal, o que o prefeito fará com essa lei daqui para frente? A conferir!
Coro
Apesar de “defender com unhas e dentes” o projeto, que é polêmico, Dárcio acabou fazendo coro aos discursos de vereadores do campo progressista, que já vinham rebatendo a proposta, considerada preconceituosa e inconstitucional. No caso, nessa quarta-feira, esse papel coube a Pedro Trés (PSB) e Ana Paula Rocha (Psol).
E agora?
Pedro Trés apontou vícios da lei e questionou: “quem vai ser o censor?”, “quem serão os censurados?”; “o que pode ou não?”; “os artistas locais terão que enviar antes, letra por letra, as músicas que vão tocar”? A regulamentação, lembrou, precisa acontecer em dois meses, mas “o prefeito se eximiu do debate”.
Dois pesos, duas medidas
Ele lembrou, ainda, do Alemão do Forró, contratado regularmente pela prefeitura – inclusive, está de novo nas propagandas para a festa de São Pedro – e pontou: “algumas músicas dele podem ser consideradas ofensivas à moralidade”. Depois, levantou a questão de que, a depender do foco do “censor”, o projeto vai parecer realmente perseguição a um “tipo de cultura específico, que também traz recursos para a cidade”.
‘Agitação’
Ana Paula Rocha destacou que a “lei não tem sentido prático e não será regulamentada”, e que serve só para “agitação política”. Também voltou a apontar que a proposta criminaliza a cultura e juventude negra e periférica. E cutucou: “Quando é pra vetar projeto de utilidade pública, o prefeito veta. Quando é pra vetar saúde mental materna, ele veta. Mas quando é pra fazer média com a extrema direita, ele tira o corpinho dele fora”.
Quero só ver…
A “Lei Anti-Oruam”, em referência ao rapper Oruam, proíbe o poder público municipal de contratar shows e apresentações que promovam “apologia a crimes, ao crime organizado e ao uso de drogas”. As punições serão impostas aos artistas. As perguntas são justamente as já levantadas: quem vai definir o que é proibido ou não? Quem vai fiscalizar? Como regulamentar? Quem serão os alvos? Complexo e bastante questionável.
‘Polo’ eleitoral
Por falar em Pazolini, no seu retorno à programação no interior, ele cumpriu extensa agenda em Cachoeiro de Itapemirim, polo importante e estratégico do sul do Estado. Visitou a Santa Casa, a Selita, participou de evento de cooperativas, concedeu entrevista…
‘Polo’ eleitoral II
Ao lado dele, os bolsonaristas do PL que têm reduto no município, deputado estadual Callegari e o ex-vereador Léo Camargo, derrotado à prefeitura em 2024. Cachoeiro, vale lembrar, é comandada por Theodorico Ferraço (PP), pai do atual concorrente direto de Pazolini no caminho ao governo em 2026, o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB).
Licença
A propósito, Theodorico se licenciou do cargo por 15 dias, para tratamentos médicos, que envolvem procedimento ocular e exames complementares no joelho. O vice, Júnior Corrêa (Novo), assumiu o comando da gestão.
Despedida
Quem também está de saída, porém de forma definitiva, é o presidente regional do Republicanos, Erick Musso, ex-presidente da Assembleia Legislativa. Essa quarta-feira foi o último dia no cargo de secretário de Governo de Pazolini, no qual atuou por poucos meses. Erick vai focar 100% nas articulações eleitorais e deve ser candidato a deputado federal.
Nas redes
“Enquanto o Pazolini roda o Estado (e vai até para o Piauí), Vitória segue sem Plano de Mobilidade, sem Plano de Mudanças Climáticas e com o SUS sendo desmontado e entregue à iniciativa privada! E para completar, loteou cargos importantes da cidade para montar seu palanque político”. Camila Valadão, deputada estadual pelo Psol.