Olho no peixe e no gato

A cena foi tão incomum, que virou motivo de brincadeira-deboche no plenário da Assembleia Legislativa e, de quebra, de especulação no mercado político, considerando as atuais movimentações das eleições municipais e a boa fase entre o presidente da Assembleia, Erick Musso (Republicanos), e o governador Renato Casagrande. Candidato a prefeito em Vitória pelo partido de Erick, o deputado estadual Lorenzo Pazolini, desde o início da atual legislatura, forma ao lado de Vandinho Leite (PSDB) e Capitão Assumção (Patri) a oposição mais barulhenta ao governo. Na sessão virtual desta quarta-feira (12), porém, defendeu um projeto do executivo melhor do que o relator da matéria na Comissão de Justiça, Fabrício Gandini (Cidadania), que é da base, e até do líder, Dary Pagung (PSB). Os dois estavam há algum tempo tentando responder a questionamentos de Vandinho e Sergio Majeski (PSB) ao Projeto de Lei Complementar nº 31/2020, que altera atribuições da Agência de Regulação de Serviços Públicos (ARSP), porém sem êxito, o que chegou a gerar atrito entre Gandini e Majeski. Pazolini, autor de emendas, entrou em campo depois e logo chamou atenção. Suas propostas pretendiam apenas "aperfeiçoar" o projeto no sentido de "incluir diretrizes sociais", como explicou, tentando afastar, ainda, qualquer impacto negativo aos consumidores, o que era uma preocupação dos parlamentares. Depois do discurso de Pazolini, detalhado, começaram os comentários, tanto do grupo dos independentes quanto da base: "Quase um líder do governo"; "o plenário está da vaca não reconhecer bezerro" foram as frases usadas por Vandinho, seguido de Rafael Favato (Patri), Marcelo Santos (Podemos) e Euclério Sampaio (DEM), que baixaram o título para "vice-líder". Já Enivaldo dos Anjos (PSD), ex-líder de Casagrande e que coleciona histórico de embates com Pazolini, desta vez rasgou elogios a ele pela "colaboração cidadã em favor do Espírito Santo". Brincadeiras e deboches à parte, o que tem de político que começou a mudar de posição assim, não cabe nas duas mãos. A essa altura do jogo eleitoral, então, é "um olho no peixe, outro no gato".

Sei...
Dr. Hércules (MDB) foi o único que entrou na onda no sentido contrário. "Não tem nada de líder ou vice-líder, Pazolini mostrou, assim, que é um deputado independente, e não uma oposição raivosa ao governo", contestou. O deputado-delegado agradeceu, e nada mais.

Conte-me mais...
A propósito, um áudio vazado na sessão virtual da manhã desta quarta também deu o que falar, por indicar como ocorrem as manobras para aprovar ou segurar projetos, de acordo com interesses do governo. Presidente da Comissão de Finanças, o deputado Euclério Sampaio (DEM) foi chamado para relatar um projeto do executivo e avisou que se valeria do prazo regimental. Aí apareceu Enivaldo e Dary para "consertar", pedir pressa...

Salvou
...Euclério atendeu de imediato, encaminhou a votação e a matéria foi aprovada no colegiado. Segundos depois, o celular tocou: "pô' Marcelo [Santos, assim foi entendido], você pede pra segurar uma p...[piii], e faz isso?", reclamou. O presidente da Assembleia, Erick Musso (Republicanos), foi ligeiro e desligou o áudio.

Mesma coisa
O desenrolar da sessão, no debate dos projetos ou a falta dele, gerou outro discurso de Majeski, em que apontou semelhanças no modo de atuar da atual legislatura, no governo Casagrande, com a anterior, período de Paulo Hartung. "A mesma coisa, os deputados só aprovaram projetos e emendas com aval do Palácio Anchieta. Não importar se são constitucionais ou não, bons ou não, basta ter o aval".

Mesma coisa II
Ele criticou, ainda, que deputados relatam projetos muitas vezes sem nem saber o assunto, de dentro do carro em movimento, sem explicar do que se tratam e seus impactos, e por aí vai, ladeira abaixo. "A Assembleia é um poder caro para a sociedade, não pode ser cartório e carimbar todo projeto do governo", disparou, deixando claro, também, que apesar de ser do PSB, não é da base governista e faz mandato voltado para a população.

Deputado cloroquina
Capitão Assumção (Patri), como era de se esperar, esbravejou em plenário contra a retirada obrigatória, após notificação da Vigilância Sanitária, do seu outdoor instalado e inaugurado em Jardim Camburi, Vitória, defendendo o presidente Jair Bolsonaro e o uso da cloroquina. Colocou na conta do prefeito Luciano Rezende (Cidadania) e avisou que irá inaugurar outro no mesmo espaço, nos próximos dias.

Novo teste
Já Theodorico Ferraço (DEM) voltou a pedir reunião virtual com o Tribunal de Justiça (TJES) para discutir a polêmica das 26 comarcas, que tiveram as extinções suspensas por determinação judicial. Ele defende a busca por uma solução definitiva, em diálogo com o órgão, os deputados e prefeitos. O presidente do TJES, desembargador Ronaldo Gonçalves, ignorou completamente o pleito anterior, como já dito aqui. Vai "dar de ombros" de novo?

Negou
Embora publicado na Folha de S.Paulo nessa terça-feira (11), e também alvo de comentários de bastidores político do Estado, o PT negou que tenha encomendado a pesquisa de consumo interno sobre a eleição em Vitória que apontou liderança do ex-prefeito João Coser. "Foi feita por outro partido", garantiu em nota enviada à coluna.

Oficial
O ex-deputado estadual Sandro Locutor (Pros) foi exonerado do cargo de assessor especial do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) nessa terça-feira (11), como conta ato publicado no Diário Oficial. A medida confirma sua candidatura a prefeito de Cariacica este ano.

Articulações
Locutor diz que realiza encontros e debates sobre o município desde janeiro e que, recentemente, recebeu novo estímulo, atribuído a resultados de levantamentos internos realizados pelo Pros.

PENSAMENTO:
"É a teoria que decide o que podemos observar". Albert Einstein