Pacto pela vida

Há dias convocando um pacto social para enfrentar o avanço da Covid-19, que registra a situação mais alarmante no Estado até agora, o governador Renato Casagrande reuniu ao seu lado nesta terça-feira (16), para o anúncio da quarentena de 14 dias, chefes dos principais poderes – Assembleia Legislativa, Ministério Público Estadual (MPES), Tribunal de Justiça (TJES) e Tribunal de Contas (TCE) –, a quem pediu uma união urgente, junto com empresariado, entidades e a população. Os discursos, todos alinhados à decisão, passaram mais uma mensagem de apoio e consciência da necessidade das medidas e do cenário gravíssimo, do que informações propriamente ditas de restrições em cada órgão, que virão posteriormente. Um contraponto às críticas e aos grupos que negam a pandemia, que têm protagonizado atos em todo o País contra os governadores, incentivados pelo presidente Jair Bolsonaro. O Palácio Anchieta, inclusive, foi palco de mais um, no momento do anúncio desta terça. Com eles, os "radicalizados", Casagrande não espera contar, como afirmou, mas sim com setores econômicos e a maioria da população. O que reúne a parte que tem dado exemplo de irresponsabilidade e absoluta falta de empatia, com festas clandestinas e aglomerações, e uma outra, que também realiza manifestações, mas, como ressaltou o governador, "pessoas de boa-fé, preocupadas com seu negócio, o que é legítimo". A situação atual, no entanto, como ele traduziu em diversas frases durante seu pronunciamento, não dá mais para segurar, é "de vida ou morte" e "de guerra", exigindo decisões difíceis, para não colapsar o sistema de saúde, que bateu ocupação de 91% em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), índice nunca registrado na pandemia. Com um possível alento, ao final: "estamos quase chegando ao nosso objetivo, nosso destino", referindo-se à expectativa de ampliar a vacinação da população nos próximos meses, ainda reduzida a menos de 5% dos capixabas e enviadas a conta-gotas pelo governo federal. Assim espera-se, de uma vez por todas.

Compensação
Aos setores que mais sofrem com as restrições, de comércio e serviços, reconhecidos pelo governador, a expectativa agora é em relação às medidas de compensação. Serão anunciadas nos próximos dias.

Compensação II
O presidente da Assembleia Legislativa, Erick Musso (Republicanos), também sugeriu que sejam estudadas, por um Grupo de Trabalho, ações como acesso a linhas de crédito e isenções de taxas, para amortizar os impactos das áreas mais afetadas.

Econômico
Entre os discursos, o do presidente do Tribunal de Justiça, Ronaldo Gonçalves, seguindo as estatísticas, foi bem sucinto. Citou fé, rogou que o Estado saia dessa situação, e disse que irá avaliar o funcionamento do Judiciário na quarentena. 

Exemplo
Já a procuradora-geral de Justiça, Luciana Andrade, fez os mesmos apelos que o governador, exaltando as certezas técnico-científicas e não achismos, na tomada de decisões, além de chamar a população à responsabilidade, com o uso de máscaras e álcool em gel, e para que dê exemplo de solidariedade e união.

Ruína
Rodrigo Chamoun, presidente do Tribunal de Contas, por sua vez, foi de estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) à indignação com as pessoas que estão nas ruas, "sabotando o distanciamento social". Dizendo-se frustrado como cidadão, lembrou que "não foi por falta de aviso" e que "chegamos à ruína como sociedade".

Em toda parte
Sobre os negacionistas, que o governador emendou são contra o vírus e contra a vida, também foram registrados novos "berros" na Assembleia Legislativa nesta terça-feira, dos deputados Capitão Assumão (Patri) e Torino Marques (PSL).

Tudo 'normal'
Torino, aliás, teve a disposição de considerar a situação atual como corriqueira. Lembrando mais uma vez de sua longa carreira de jornalista, como sempre faz questão, disse que faltar vagas de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) nos hospitais do Estado não é novidade.

Tudo 'normal' II
Números apresentados nesta terça: em apenas dois dias, a demanda de pedidos de internação para Covid-19 no Estado somou 300. A rede estadual está com 91% de ocupação em UTIs; a rede filantrópica já avisou que a maioria dos hospitais está com 100%; e a rede privada chegou à situação caótica de solicitar vaga ao governo. Tudo normal, corriqueiro, como se vê.

Mais do mesmo
Em meio a suas exaltações tradicionais, Assumção disse que os governadores querem, mesmo, é derrubar o presidente, e que não tinha ninguém na casa da mãe de Casagrande, Dona Anna, de 88 anos, no domingo (14), tentando minimizar o desfecho bizarro do protesto realizado pelos mesmos negacionistas, em Vitória. Não tinha, mesmo, precisaram deixar o local.

Repúdio
A propósito, o pedido de publicação de uma nota de repúdio pela Assembleia, tratado aqui na coluna passada, feito pelo deputado Bruno Lamas (PSB), foi submetido ao plenário nesta terça-feira e aprovado. Únicos contrários: os mesmos deputados bolsonaristas citados acima.

Repúdio II
O documento, exaltando a Lei Maria da Penha e o Estatuto do Idoso, destaca que o protesto registrou palavras e atitudes agressivas e ofensivas, que avançaram sobre a intimidade e vida privada de Dona Anna, causando-lhe violência psicológica. Repugnante, de fato.

Nas redes
"No momento que estamos decidindo tomar medidas drásticas em relação à vida dos capixabas, apelo a reflexão de todos e todas, instituições públicas e privadas, organizações sociais, religiosas, políticas, econômicas e culturais. O mais amargo dos remédios pode ajudar salvar vidas". Jaqueline Moraes, vice-governadora do Estado.

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