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Capixaba de nove anos faz campanha para surfar em Portugal

Nascido na Barra do Jucu, Kauai Cogo vende doces para arrecadar fundos e chegar à elite do surf profissional

Aos dois anos de idade Kauai Cogo começou a se ambientar com as ondas e experimentar os primeiros passos no surf. Aos 9 anos, o menino que é cria da Barra do Jucu, em Vila Velha, já tem um objetivo: quer ser surfista profissional. Com essa ambição, ele se prepara para uma viagem a Portugal, onde irá surfar junto com seu tio Krystian Kymerson, outro capixaba, que compete na WQS, a divisão de acesso à elite do surf mundial. Determinado, Kauai começou uma campanha com a venda de caixas de doce de banana para ajudar a custear a viagem.

Divulgada pelas redes sociais, a campanha ganhou adesão de artistas famosos como Sérgio Marone e Bárbara Paz, de empresários como Marcos Buaiz, e de atletas, como a surfista Maya Gabeira, que compartilharam e contribuíram como a campanha, que busca arrecadar cerca de R$ 6 mil a R$ 7 mil para viabilizar a estadia de quase um mês no exterior para ajudar a desenvolver o jovem talento. “A ideia da campanha surgiu dele. Temos um patrocinador que é fabricante de bananinha que doa seis caixas por mês. O resto nós compramos e revendemos”, conta Thiara Cogo, mãe de Kauai, que colocou o nome do filho em homenagem a uma ilha do Havaí, o arquipélago estadunidense considerado o paraíso do surf.

Apesar de estar no mundo deste esporte desde que nasceu, Kauai começou a competir em 2019, conquistando o título no primeiro campeonato que disputou, na categoria sub-8 no Rio de Janeiro.Em 2020, o impacto da pandemia levou a participar de menos torneios. Já na categoria sub-10, os resultados não foram tão bons fora do Estado, embora tenha vencido um campeonato na Barra do Jucu e levado um quinto lugar em Guarapari, sendo que no Espírito Santo a categoria que compete inclui crianças de até 12 anos. “Ele ainda tem que se adaptar melhor a competir, tem baterias que precisa pegar duas ondas, tem que lidar com o tempo e outras questões”, diz a mãe.

Mas o ano pandêmico, por outro lado, serviu para aumentar a relação do menino com o surf. Sem as aulas presenciais na escola e com o pai trabalhando em home office, fez-se possível para ambos praticarem o esporte juntos diariamente, já que moram na Barra do Jucu, um dos picos importantes para o surf no Estado.

Seu principal local de prática é a Praia do Barrão, mas também gosta muito de ir a Regência, praia de Linhares, em que já registrou em vídeo uma de suas manobras favoritas (e de muitos praticantes do esporte): o tubo, quando o surfista fica encoberto, literalmente “dentro” da onda. “Quando você sai do tubo é a melhor sensação”, diz Kahuai.

Segundo ele, a experiência de surfar junto com Krystian, tem sido importante, já que o tio, atleta de nível internacional, passa diversas dicas de como se posicionar e como melhorar suas manobras. “Destemido” é um adjetivo que tanto o tio como a mãe usam para descrever Kauai. “Mesmo quando as ondas estão grandes ele quer entrar e surfar, ele gosta de ondas grandes mesmo. É uma responsabilidade, tem que estar de olho nele”, conta Krystian, que irá competir por uma semana na Costa da Caparica e depois viajar para outras praias portuguesas para surfar junto com Kauai.

“É um menino fácil de cuidar, ele come de tudo, é obediente. Eles já foram junto a Regência. Kauai também é muito estudioso. É o plano B dele, se não der certo no surf vai ser o que ele quiser, porque é bom aluno”, diz a mãe orgulhosa. O apoio da família também é importante e Krystian sabe bem disso, já que também começou a surfar com o pai, aos 3 anos de idade, e a competir aos 6. Agora faz o mesmo com Kauai, dando todo apoio possível para o jovem talento.

Kauai é ambicioso, diz que aprende muito com o tio e quer surfar ainda melhor que ele. E mais: quer ser o mais jovem surfista a entrar no WCT, a primeira divisão do surfe mundial, batendo o recorde do também brasileiro Gabriel Medina, que ingressou aos 17 anos. “Quero estar no WCT com uns 15 anos. E quando eu tiver um filho ele vai entrar com 13 anos”, brinca o menino. Krystian, seu mestre junto com o pai, conseguiu um feito inédito para um atleta do Espírito Santo: entrou para substituir um atleta lesionado numa etapa do WCT em Saquarema (RJ) e venceu uma bateria, derrotando os melhores surfistas do planeta.

Kauai e o tio Krystian no dia em que este venceu uma bateria na mais importante competição de surf do mundo. Foto: Divulgação

Para este ano, está motivado e treinando para tentar se classificar no WQS e conseguir uma das vagas para estar na próxima temporada entre os 36 atletas do mundo que disputam o WCT, que é a elite da categoria.

Mas ainda há muito caminho por trilhar e muitas ondas vão rolar até lá. Muitas para Krystian e muitas mais ainda para Kauai. Na próxima sexta-feira, eles fazem o primeiro teste de uma viagem longa juntos. Como no verão as ondas são fracas no Espírito Santo, irão treinar por nove dias no Ceará, onde, ao contrário, o mar está favorável nessa época.

Antes disso, ainda há uma entrega das “bananinhas” por fazer.. Elas vêm de Minas Gerais, Thiara vai buscar na rodoviária de Vitória e entrega na capital capixaba e Vila Velha. “Falei com ele que os gastos com gasolina são por minha conta, é parte da minha ajuda como mãe”, diz. Ela conta que Kauai participa de todo processo junto, faz vídeos, ajuda a anotar pedidos, fazer as contas e tudo mais. “Tem coisas muito legais nesse processo, de ter disciplina, de correr atrás dos sonhos. É muito positivo. Brinco que queria que todo mundo vivesse a experiência de sonhar com o filho e realizar esse sonho”.

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