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Moradores e ex-internos denunciam depredação no Hospital Pedro Fontes

Portas e janelas têm sido arrancadas, além de haver depredação dos pavilhões

A depredação do Hospital Pedro Fontes, no bairro Padre Mathias, em Cariacica, tem indignado e preocupado moradores da região e pessoas que fazem parte da história desse equipamento, como familiares daqueles que foram internados compulsoriamente por terem contraído hanseníase. Eles temem o apagamento da memória local e aumento da violência e se queixam do fato de que não há diálogo por parte da Prefeitura de Cariacica sobre a construção de um polo industrial.

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Leonardo Sá

Filha de ex-internos do Hospital Pedro Fontes, Aureni de Souza Castro relata que o equipamento está abandonado, sem garantia de segurança por parte da prefeitura. Por isso, está sendo depredado. De acordo com ela, portas foram arrancadas, bem como janelas, assim como nos pavilhões que abrigavam os hansenianos. A situação, afirma, faz com que os moradores temam que ladrões possam se abrigar no imóvel.

O Hospital Pedro Fontes foi criado em 1937 para isolar pacientes com hanseníase, doença também conhecida como lepra, normalmente retirados de maneira violenta do convívio familiar e social. Os filhos dos internos, por sua vez, eram encaminhados para o Educandário Alzira Bley, também em Cariacica, criado em 1940. O leprosário, chamado de Colônia de Itanhenga, nasceu no contexto da política de isolamento e internação compulsórios de pacientes com hanseníase no primeiro governo do presidente Getúlio Vargas. 

Aureni é filha de um casal de hansenianos trazidos a força de Minas Gerais e que se conheceu no Pedro Fontes. Ali se casaram e tiveram um casal de filhos, encaminhados para o Educandário. Para Aureni, a memória do local deveria ser preservada, por exemplo, transformando o imóvel em um museu.

Em dezembro de 2023, a área, que pertencia ao Governo do Estado, foi municipalizada por meio da aprovação do Projeto de Lei nº 1021/2023, de autoria do Executivo. Na ocasião, o prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio (MDB), declarou a importância da iniciativa. “Além de regularizar as áreas para as empresas que já estão instaladas, vamos poder atrair muito mais empresas para a nossa cidade, gerando mais empregos e renda”, declarou na ocasião. A intenção, portanto, é criar um polo empresarial. Contudo, afirma Aureni, nunca houve diálogo com os ex-internos e com a comunidade sobre o projeto. As informações obtidas, diz, são as que foram divulgadas pela imprensa.

Patrimônio histórico

Em 2021, a Prefeitura de Cariacica instituiu o tombamento do Sítio Arqueológico Pedro Fontes, compreendendo a área do cemitério São Francisco, capela e entorno, processo iniciado na gestão do então prefeito Geraldo Luiza Junior, o Juninho, e finalizado no primeiro mandato de Euclério. Para que isso acontecesse, o Governo do Estado enviou para a Assembleia Legislativa um projeto de lei de doação da área onde se situam o cemitério e a capela, aprovado em 2020.

Uma delas estabelece que o município restaure a capela até dois anos após a sanção da lei. A outra, que seja asfaltada a estrada que dá acesso ao local. A última, que seja feita exumação dos cadáveres na entrada do cemitério, em diálogo com as famílias dos mortos, para ajustes estéticos no local.

Contudo, os moradores afirmam que nada disso foi feito. Além disso, o município de Cariacica tem uma legislação própria de tombamento, elaborada com base nos critérios do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Assim, os tombamentos seguem a legislação municipal e nacional.

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