Sexta, 26 Abril 2024

'Os estádios não devem ser locais de medo', ressalta torcedora da Desportiva

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Agência Brasil

Diversos órgãos estaduais e nacionais se posicionaram em repúdio à agressão do ex-técnico da Desportiva Ferroviária, Rafael Soriano, contra a auxiliar de arbitragem Macielly Netto. Nesse domingo (10), no intervalo do jogo pelas quartas de final do Campeonato Capixaba, o treinador desferiu uma cabeçada contra a árbitra assistente, tendo sido demitido pelo time e suspenso pelo Tribunal de Justiça Desportiva de Futebol do Espírito Santo (TJD-ES). "Os estádios não devem ser locais de medo", ressalta a torcedora Letícia Schunk Amaral.

A agressão ocorreu após o fim do primeiro tempo da partida contra o Nova Venécia. O então técnico da Desportiva Ferroviária discutia com o trio de arbitragem, quando se exaltou e desferiu uma cabeçada contra a árbitra assistente. "Nós, da Desportiva Antifascista, repudiamos a agressão do treinador Rafael Soriano à auxiliar de Arbitragem no jogo contra o Nova Venécia, esperamos uma posição firme do clube e que o treinador responda pela agressão. Nosso total apoio à auxiliar de arbitragem Marcielly Netto, essas atitudes não cabem no futebol, e nem na sociedade", diz a nota do Movimento da Desportiva Ferroviária Antifascista.

Letícia, que além de ser torcedora da Desportiva, integra o movimento da torcida antifascista, estava no estádio nesse domingo. "No momento em que eu estava presente, eu não sabia que tinha ocorrido isso. Devido à distância do local em que a torcida visitante fica em relação ao lado que ocorreu o fato. Após o jogo, recebi inúmeras mensagens e o vídeo do ocorrido, o qual me decepcionou bastante", conta.

Rafael Soriano foi desligado da Desportiva Ferroviária. Em uma publicação nas redes sociais, o clube informou que está à disposição da auxiliar de arbitragem para oferecer assistência psicológica profissional e prometeu desenvolver ações para o combate à violência contra a mulher dentro e fora dos estádios.

"A Desportiva Ferroviária vem a público informar que repudia toda e qualquer tipo de violência, seja física, verbal, moral ou emocional, principalmente contra mulheres, e nos solidarizamos com a assistente de arbitragem Marcielly Netto, nos colocando à disposição para aquilo que for necessário", destacou.

Ainda no domingo, o Tribunal de Justiça Desportiva de Futebol do Espírito Santo (TJD-ES) decidiu pela suspensão preventiva do ex-técnico. Um despacho assinado pelo procurador-geral da instituição, Rodney da Silva Berger, determinou a punição, que vale por um prazo de 30 dias.

"Considerando a elevada gravidade do fato e repercussão nacional do mesmo, pede-se que seja deferida a Suspensão Preventiva, até que possam os fatos serem analisados ordinariamente por uma das Comissões Disciplinares do TJD/ES", informa o documento.

Violência e medo

Letícia que, desde criança, frequenta todas as disputas da Desportiva, também acredita que, nos próximos jogos, o clube deveria promover uma campanha sobre o respeito às mulheres no futebol. A medida, segundo ela, é importante para que as mulheres continuem frequentando os estádios. "Infelizmente, vivemos em uma sociedade complicada em relação à aceitação de mulheres em vários lugares e áreas, mas, com a nossa presença, resistiremos e lutaremos por nossos lugares", ressalta.

Ela cita outras situações de ameaças, vindas até mesmo do Estado. No último dia 3 de abril, uma ação da Polícia Militar para conter uma discussão entre torcedores resultou em bombas e sprays de pimentas na arquibancada do estádio Engenheiro Araripe, em Cariacica. "Isso causou medo em muitas mulheres. Eu tive que ajudar e informar para que tomassem cuidado", relata.

Ela considerou a violência da polícia injustificada. "Uma maneira incorreta de procedência no local, tendo em vista a presença de várias famílias, crianças, mulheres e idosos. Os estádios não devem ser locais de medo e sim um lugar especial para vivenciar momentos de esporte e dedicação aos clubes", enfatiza. 

Repercussões

Na noite desse domingo, o governador do Estado, Renato Casagrande (PSB), definiu as agressões como "um episódio lamentável".

Já nesta segunda-feira (11), a vereadora de Vitória Camila Valadão (Psol) protocolou uma moção de repúdio à agressão cometida pelo ex-treinador da Desportiva. O documento será votado na sessão ordinária dessa terça-feira (12). "É inaceitável o que vimos. Como combater as desigualdades e a violência contra a mulher no futebol desse jeito? Espero que a Federação tome as medidas cabíveis e garanta mais segurança para as mulheres", declarou.

A vereadora Karla Coser (PT) também citou o caso na sessão desta segunda-feira e cobrou uma responsabilização exemplar para o ex-técnico. "Mulheres que ocupam espaços majoritariamente masculinos ainda sofrem bastante e esse caso foi muito vergonhoso porque, sabendo que estava sendo filmando, nem assim a pessoa se preocupou com isso. Uma sensação de impunidade que leva muitos homens a cometerem esse tipo de agressão", enfatizou.

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