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Decisão barra imóvel próximo a Poço dos Jesuítas em Guarapari

População pede tombamento da construção de 1585 e desapropriação para transformar entorno em área de proteção 

Localizada no Morro do Atalaia, o Poço dos Jesuítas é uma das mais antigas construções de Guarapari, que data de 1585, antes mesmo da fundação da cidade. Recentemente, a mobilização de moradores e grupos sociais conseguiu barrar a construção de uma casa nas proximidades do local da fonte de água, que poderia interferir na paisagem e acesso ao local.

Um projeto arquitetônico para construção com dois pavimentos havia sido aprovado no entorno da fonte em 2016. Porém, o Plano Diretor Municipal mudou em 2017, transformando a região de zona de uso residencial para zona de proteção ambiental. As disposições transitórias permitiam recursos do proprietário da área, mas este foi reprovado recentemente pelo Conselho do PDM.

Construído com pedras sobrepostas e argamassa composta por areia, conchas trituradas e óleo de baleia, o poço encontra-se nas proximidades do Centro de Guarapari, com bela vista para o mar da Praia da Fonte. O entorno possui outros patrimônios históricos, como a Igreja de Nossa Senhora da Conceição e as ruínas remanescentes de outra igreja, que tinha o mesmo nome. É também um dos pontos de parada e visita da caminhada anual Passos de Anchieta.

“Guarapari era um dos municípios que tinha mais monumentos da época dos jesuítas, mas estão acabando com tudo, queremos tombamento para tentar mantê-los preservados”, diz a professora Beatriz Bueno, moradora do entorno.

O cuidado do patrimônio tem sido feito sobretudo por vizinhos e entidades da sociedade civil, diante da pouca atenção do poder público pelo patrimônio histórico que vem de longa data. A água do Poço dos Jesuítas era potável, mas foi contaminada pelo esgoto das construções do entorno, que poluíram os lençóis freáticos. Beatriz realizou pesquisas buscando o tombamento do Poço dos Jesuítas e aponta em registros de seu livro Guarapari: muito mais que um sonho lindo que no Morro do Atalaia havia outros dois poços antigos que foram destruídos, sendo que um deles serve de criadouro de peixes dentro da propriedade de um morador.

Um pedido de tombamento no Conselho Estadual de Cultura (CEC) data de 1989 e implicaria sustar qualquer obra ou projeto que significasse mutilação ou modificação da construção. Mas o processo não foi adiante, apesar das várias tentativas.

Para além do Poço dos Jesuítas em si, a polêmica em torno deste patrimônio histórico levanta outros questionamentos sobre a cidade de Guarapari. “O patrimônio histórico precisa ser valorizado. Guarapari não tem memória. Não há turismo, há veranismo, invasão turística e expulsão do povo pobre que morava aqui, que foi afastado para as periferias”, critica Beatriz Bueno. Enquanto isso, vários imóveis permanecem vazios na região central da cidade, sendo ocupados apenas para veraneio, num turismo sazonal e baseado nas belezas naturais do município, valorizando pouco sua cultura, história e patrimônio.

O empresário Gustavo Guimarães, representante do setor de turismo e hotelaria no Conselho do PDM, cita como exemplo a região de Porto Seguro, que consegue em sua rota turística as belas praias com aspectos históricos e patrimônio histórico e cultural. Ele fala da importância de envolver as escolas e crianças no processo de valorização da história local, comprometendo as novas gerações com a preservação dos espaços. “Quando há comprometimento, a população denuncia ameaças à proteção dessas áreas”, comenta.

Sua sugestão é que o poder público encaminhe a desapropriação da área ao redor do Poço dos Jesuítas, com a devida indenização ao proprietário das terras, conforme lhe é de direito.

Assim, o local poderia ser transformado numa área verde, com recuperação das plantas nativas e proteção ambiental e do patrimônio, servindo tanto para a convivência de moradores do entorno como ponto de visita para turistas.

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