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Qual o futuro do Radium Hotel em Guarapari?

Projeto propõe que Ifes assuma o imóvel, para promover cursos na área de turismo e centro cultural

Símbolo do início do boom do turismo em Guarapari, o Radium Hotel poderia virar um polo de formação em turismo, hotelaria e gastronomia, além de atividades culturais. Apesar das conversas ainda estarem em estágio embrionário, nos últimos meses foram realizadas reuniões que envolveram sociedade civil, governo do Estado, prefeitura e o Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), com a proposta de que este assumisse a gestão do edifício de três andares e mais de 2 mil metros quadrados construídos em pleno Centro da cidade, em frente à Praia da Areia Preta.

Pese ser um patrimônio histórico tombado e estar numa localização privilegiada, o Radium é um imóvel de propriedade do governo que há décadas está ocioso ou subutilizado, sendo que as promessas de utilização ou concessão anteriores não vingaram. 

Patrimônio cultural tombado em âmbito estadual, edifício encontra-se ocioso. Foto: Vitor Taveira

A proposta de criar um polo de formação que permitisse tanto a qualificação para o turismo como o uso do espaço para atividades sociais e culturais foi apresentada em 2018 por grupos da sociedade civil como a Sociedade Gaya Religare e o coletivo Sinestesia, considerando o Ifes Guarapari como potencial parceiro. “O objetivo principal dessa proposta é oferecer à população local e à das cidades circunvizinhas cursos técnicos que estejam alinhados com a demanda do mercado de trabalho e necessidades sociais locais e regionais”, diz Bruno de Deus, integrante do Sinestesia, que defende que junto com a oferta de cursos, o espaço inclua também um centro cultural em suas dependências, reivindicação antiga da sociedade civil de Guarapari.

Esse projeto que agora volta à tona foi lançado em meio a polêmicas, no apagar das luzes do governo Paulo Hartung, quando uma audiência pública foi acusada de ser “jogo de cartas marcadas”, já que a Secretaria Estadual de Turismo chamou o evento para discutir a utilização do edifício com uma palestra sobre “Turismo de Saúde”, sendo que já era sabido do interesse de um grupo empresarial construir ali um spa, o que não agradava parte da comunidade, por representar um uso totalmente privado do edifício público.

Porém, no último chamamento público para concessões não houve propostas apresentadas. Voltou-se então à estaca zero, junto à gestão de Renato Casagrande (PSB). Entidades da sociedade civil voltaram então recentemente a provocar os entes para que o uso do edifício seja definido em prol da comunidade. Houve uma reunião presencial no local, com participação do Ifes, prefeitura, governo e sociedade civil e uma segunda reunião online que contou com presença do reitor do Ifes, Jadir Péla, a quem foi apresentada a proposta e o desenho feito do local.

Ifes não comenta, mas políticos apoiam proposta

A instituição federal de ensino, porém, respondeu oficialmente que não tem informações a fornecer sobre a proposta. “Ainda não há processo em andamento em relação ao Radium Hotel”, informou o Ifes em nota.

Dentro do governo do estado, um dos defensores da proposta é Gédson Merízio (PSB), ex-vereador de Guarapari e ex-candidato a prefeito do município, que atualmente ocupa cargo de subsecretário na gestão de Renato Casagrande. “Eu penso que é um ativo importante do município de Guarapari, um símbolo, um ativo até emocional para a população”, afirma Gédson. “Como a economia vocacional é a turística, nada mais importante para o fortalecimento da economia que o turismo, trabalhar a formação para o mercado em áreas como gastronomia e hotelaria, e ao mesmo tempo gerar vida, movimento, emprego e renda no local” 

Reunião entre diversos entes foi realizada em março incluiu visita ao local do Radium. Foto: Divulgação

Outro dos interlocutores do projeto é o vereador Denizart do Nascimento, o Zazá (Podemos), que defende que a iniciativa pode permitir um olhar mais amplo para o turismo. “Preservar o Radium Hotel, assim como o Poço dos Jesuítas, não é apenas respeitar nossas raízes e a história de nosso município, mas ter uma visão macro de iniciativas que podem beneficiar de maneira inteligente o turismo, assim como toda a economia local”, afirma, fazendo também referência a outro monumento histórico ameaçado por questões imobiliárias.

“Pensarmos sobre as ações que venham a potencializá-lo é ponderar tudo que o envolve, ou seja: fortalecer políticas públicas de educação, lazer, geração de emprego e renda, segurança pública, juventude, inovação, empreendedorismo e principalmente a cultura e a arte”, considera o vereador.

Embora Guarapari seja um dos principais destinos turísticos do Espírito Santo, são frequentes as críticas quanto à falta de visão estratégica e planejamento municipal, que qualifique o atendimento ao turista, resolva os transtornos da alta temporada e ainda consiga evitar que o município tenha um turismo totalmente sazonal, concentrado apenas durante o verão.

Criado em 2010, o Ifes Guarapari vem provocando impactos no município, tanto como polo de formação e qualificação de mão de obra como no fomento direto ou indireto de encontros, debates e atividades culturais. Porém, não oferece cursos de qualificação na área de turismo.

Desafios para implementação

O avanço da proposta para ocupação do Radium, ainda em estágio informal, depende de algumas questões. Primeiramente da devolução do imóvel pela Prefeitura Municipal de Guarapari, a quem está cedido pelo governo do Estado mas sem utilização. Segundo fontes, o poder municipal já teria sinalizado positivamente para a devolução. Porém, consultada, a prefeitura não respondeu até o fechamento da reportagem.

Caso as partes concordem, o passo seguinte seria a cessão do governo do Estado para o Ifes. Porém, a questão ainda precisa ser definida dos dois lados. Sob o governo ainda pesa pressão para que o imóvel possa ser cedido à iniciativa privada, gerando receitas para o Estado e negócios para investidores. De parte do Ifes, a situação financeira já é difícil diante da desastrosa política educacional do governo federal, e assumir o Radium implicaria novos gastos de custeio, além da possibilidade de abrir novos cursos também representar necessidade de recursos. Recentemente o Ifes anunciou que instalará parte de sua estrutura nos armazéns do IBC, em Vitória, o que de um lado sinaliza para uma iniciativa similar ao que se pretende para o Radium mas por outro lado, compromete parte de seus investimentos para os próximos anos.

No Radium Hotel, certamente também seriam necessárias obras de adequação para novo uso do local, mantendo as características originais designadas pelo processo de tombamento. Além do próprio imóvel, o entorno do Radium Hotel conta com uma área ampla sem muitos atrativos que poderia receber melhorias e mobiliário urbano, conforme sugerido no projeto apresentado pelo Sinestesia e Gaya Religare. Numa das laterais do imóvel, ainda acontece a tradicional Feira Hippie de Guarapari, que poderia ser envolvida num projeto conjunto de readequação.

História do Radium Hotel

Imagem de arquivo do funcionamento do Radium Hotel. Foto: Biblioteca IBGE

Com formato de âncora, o edifício Radium Hotel começou a ser construído em 1947 para ser uma escola naval, mas foi inaugurado em 1953 como um hotel cassino de luxo administrado pela Bianchi Hotéis e Turismo, aproveitando-se do belo entorno e da fama das propriedades das areias monazíticas da praia logo em frente, com promessa de tratamento e alívio para várias doenças como artrite e reumatismo.

O local foi frequentado por políticos, empresários, artistas, jogadores de futebol e diversas outras personalidades, tendo inclusive voos próprios que traziam hóspedes de outros estados. Mas a decadência teve início depois do golpe civil-militar de 1964, com a proibição dos jogos.

O prédio do Radium chegou a ser administrado pela Empresa Capixaba de Turismo (Emcatur) antes de ser cedido à prefeitura. Foi tombado em 1988 pelo Conselho Estadual de Cultura. Nos últimos anos, chegou a ser utilizado em parceria da prefeitura com a Associação de Moradores do Centro de Guarapari, mas acabou abandonado por falta de apoio.

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