(Atualizada em 23/09/16, às 12h00) Tudo indica que a Petrobras entrou em processo de cura da ressaca provocada pela Operação Lava Jato, que descobriu dentro da empresa um propinoduto construído via contratos assinados com empreiteiras por diretores apadrinhados por partidos políticos, especialmente o PT, o PMDB e o PP.
Por coincidência, a cura foi anunciada pelo novo presidente da BR, o economista Pedro Parente, ex-chefe da Casa Civil do governo do presidente FH Cardoso, do PSDB. Num discurso alinhado com o espírito da corporação BR, Parente afirmou que a Petrobras continuará sendo a maior companhia energética do Brasil, “com crescente atuação em energias alternativas”, ressalva que deixou meio mundo com a pulga atrás da orelha: afinal, a empresa não vai sair da área de biocombustíveis,como anunciado? Só o tempo dirá até que ponto o discurso de Parente foi uma peça de marketing, ou seja, uma fala para agradar o Sr. Mercado, a Bolsa, os investidores.
Segundo o plano estratégico para os próximos cinco anos (2017/2021), anunciado no dia 20 de setembro, a meta financeira da BR é cortar pela metade a dívida líquida em relação à geração de caixa. O índice de 5,3 alcançado em 2015 deve cair para 2,5 em 2018.
Se aplicado ao Brasil, esse modelo de gestão financeira seria o início da libertação nacional do jugo dos rentistas globais, que mantêm interesses em empresas brasileiras, via fundos de investimentos.
“No horizonte total dos cincos anos desse planejamento, a nossa proposta é que a empresa esteja saneada financeiramente, tenha padrões de governança e ética inquestionáveis para sustentar uma produção crescente, mas realista, e seja capaz de investir e se posicionar nos processos de transição por que passa o mercado de energia no mundo”, disse Pedro Parente.
Para cortar as despesas operacionais em 11% em relação ao ambicioso plano anterior (2015/2019), a Petrobras promete intensificar parcerias estratégicas na área de exploração e produção, refino, transporte, logística, distribuição e comercialização. Além disso, sairá de atividades como a petroquímica, biocombustíveis, fertilizantes e distribuição de GLP.
Dos investimentos de US$ 74 bilhões previstos para o próximo quinquênio, 82% serão aplicados no segmento de exploração e produção, que constitui o cerne do monopólio estatal fixado em outubro de 1953. Com pouca bala para investir, a Petrobras está disposta a fazer parcerias para tocar seus negócios. É aí que a porca torce o rabo.
A expectativa é de que os parceiros invistam outros US$ 40 bilhões nos próximos cinco anos. Como o setor privado brasileiro está à meia boca, tudo indica que a gentil oferta da Petrobras será atendida por investidores estrangeiros. Os candidatos mais notórios são os norte-americanos, que têm respaldo de seu governo para ampliar reservas de petróleo fora do território dos EUA. Surpreendentemente, porém, quem levou o primeiro naco do pré-sal foi a estatal petroleira da Noruega. Sem concorrência, pagou a ninharia de US$ 2,5 bilhões por uma área dentro do pré-sal, que já produz mais da metade do petróleo brasileiro e promete render mais ainda.
A meta de produção no Brasil de óleo e líquido de gás natural foi fixada em 2,8 milhões de barris por dia para 2021, considerando a entrada em operação de 19 sistemas de produção no período de 2010 a 2021. É nessa área que a companhia conquistou suas maiores performances.
O tempo médio para construir um poço marítimo no pré-sal da Bacia de Santos era, em 2010, de aproximadamente 152 dias. Em 2016, esse tempo baixou para 54 dias. Graças a esse tipo de avanço, o custo médio de extração está abaixo de US$ 8 por barril de óleo equivalente, muito inferior à média da indústria petroleira, que oscila em torno de US$ 15 por barril.
Por aí se vê que a Petrobras retomou o caminho das pedras: a extração de petróleo é desde 1857 a atividade mais lucrativa de uma petroleira. No pré-sal a produtividade chega a 25 mil barris por dia (bpd) por poço, volume muito acima do que era inicialmente projetado.
Confirmado o pré-sal como o novo filé do ramo petroleiro, não admira que todo mundo esteja de olho na nova mina de ouro do Brasil, 300 anos depois que Portugal bloqueou os acessos à província aurífera de Minas Gerais. Agora é no fundo do Atlântico que o Brasil joga seu futuro.
LEMBRETE DE OCASIÃO
Há oito meses, no auge do escândalo do Petrolão, as ações da Petrobras estavam cotadas a cerca de R$ 8. Este mês chegaram a R$ 14. É possível prever que dentro de dois anos estarão no patamar de R$ 30. Ou mais.