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A cor da violência

Estudo publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) nesta quinta-feira (17) sobre a incidência de crimes de homicídios entre a população negra, confirma um dado já conhecido e preocupante para o Brasil. A 4ª edição do Boletim de Análise Político-Institucional (Bapi) mostrou que a probabilidade de um negro ser assassinato chega a ser oito pontos percentuais maior na comparação com um branco, mesmo quando se compara pessoas com escolaridade e condição socioeconômicas semelhantes. No Brasil, de cada três vítimas de homicídios, duas são negras. 
 
Se a probabilidade de um negro ser assassinado segue essa proporção no País, no Espírito Santo ela se torna ainda mais dramática. O Mapa da Violência 2012 – A cor dos homicídios no Brasil – já havia chamado atenção para a desproporção das mortes violentas entre negros e brancos. Entre 2002 e 2010, foram assassinatos 272 mil negros no Brasil, uma média de mais de 30 mil homicídios por ano. 
 
No Espírito Santo, que é vice-líder nacional da taxa geral de homicídios, segundo o Mapa da Violência 2012, essa discrepância fica ainda mais evidente.  Em 2010, a taxa de homicídios para negros foi de 65/100 mil, e de 17 para brancos – quase quatro vezes menor.
 
Entre as capitais, Vitória apresenta o terceiro maior índice de vitimização negra. Embora a população de negros (166 mil) e brancos (158 mil) seja equilibrada na Capital capixaba, a proporção de mortes violentas entre as duas raças é colossal. Em 2010, segundo o Mapa da Violência, a taxa foi de 114 para negros e 19 para brancos. Isso significa que a taxa de vitimização de negros em Vitória foi seis vezes maior que a de brancos.
 
O cenário é ainda mais impressionante quando o recorte é feito somente no segmento mais jovem da população. Os dados deixam claro que os negros, sobretudo os mais jovens (12 a 21 anos), são as principais vítimas da violência letal. A taxa de homicídios foi de 140/100 mil para negros e 29 para brancos. Não por acaso, o índice de assassinatos entre jovens negros do Espírito Santo é o segundo maior do País, ficando atrás apenas de Alagoas. 
 
Os dados do Ipea e do Mapa da Violência embutem uma informação preocupante. Os jovens negros e pobres são as principais vítimas da violência letal no Espírito Santo. Isso significa que o poder público tem falhado justamente no segmento mais vulnerável da população. 
 
As políticas públicas desenvolvidas para intervir nesse segmento da sociedade têm sido falhas, insuficientes ou equivocadas para mudar a realidade dessa população. Resultado dessa política pouco eficiente, além da cor da pele estampada nos atestados de óbitos, pode ser confirmado também nas unidades de adolescentes e nas prisões capixabas. Os negros que sobrevivem ao genocídio urbano, dificilmente escapam do sistema prisional, onde são a maioria.
 
Isso nos permite concluir que o poder público aceita passivamente que os homicídios têm cor no Espírito Santo.

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