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A doença da intolerância

Um senhor com ar cansado e barba por fazer não para de falar enquanto assiste a um jogo de futebol na TV do bar da esquina. Sem que ninguém lhe perguntasse, bate as palmas da mão na mesa e proclama: “Eu só odeio duas coisas na vida: o Grêmio e o PT”.
 
Depois, numa confidência claudicante, admite que os dois ódios – o futebolístico e o político-partidário — lhe foram inculcados pelo pai, dirigente empresarial já falecido que lhe deixou por herança um negócio sem futuro – motivo aparente de seu recurso visceral ao álcool.
 
Estava exposta ali, sem disfarces, na cara sinistra de um velho rancoroso, a intolerância gerada pela ignorância, a falta de cultura e o ódio de classe. O que fazer se a burrice é um mal endêmico contra o qual, aparentemente, não há remédio ou vacina?
 
Não se discute com um bêbado porque é perda de tempo; não se contesta um velho porque é arriscado ponderar algo diante de alguém contaminado por uma raiva sem razão.
 
A intolerância é uma espécie de doença psíquica que leva o paciente ao recurso degradante dos maus instintos.
 
O consumo de drogas triviais como a cerveja mascara a doença, que pode até ficar hilária ou virar motivo de chacota, mas agrava seu aspecto moral.
 
Os intolerantes contaminam os ambientes com suas feições distorcidas pelo sofrimento a que se submetem na ilusão de que têm mais direitos do que os outros.
 
A cara assustadora da intolerância está estampada no rosto dos que temem perder vantagens e privilégios.
 
A intolerância está presente nas manifestações de políticos que se julgam representantes do lado certo da História e não sabem dialogar com os outros lados.
 
A intolerância se manifesta também na arrogância dos representantes da cúpula do Agro que não admitem ceder direitos aos índios, aos sem terra e a todos que combatem a revanche escravista.
 
A intolerância está no exibicionismo de torcedores de futebol que saem às ruas e vão aos estádios com bandeiras para proclamar o não-direito dos adversários.
 
A intolerância está explícita nas manifestações dos militares que não se conformam com a exibição da prepotência dos políticos no exercício de suas prerrogativas e dos empresários na manipulação escandalosa dos recursos econômicos.
 
A intolerância está nos que legislam contra os pobres e a favor dos ricos.
 
A intolerância está na pregação dos pastores-ladrões que se aproveitam da fé dos humildes para transformá-los em rebanhos dóceis e facilmente exploráveis.
 
A intolerância está no racismo.
 
A intolerância está no machismo renitente.
 
A intolerância está no feminismo rancoroso.
 
A intolerância está em não reconhecer o outro, sua existência, suas ideias, opiniões e valores.
 
 
LEMBRETE DE OCASIÃO
 
“Em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, terreiros de umbanda estão sendo queimados por fanáticos religiosos”
 
Emir Silva, coordenador do Movimento Negro Unificado (sede no Rio), no dia 19/09/2017, em Porto Alegre

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