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A KGB de Garcia

O dia 20 de junho de 2013 é uma data histórica para os capixabas. Mais de 100 mil pessoas tomaram as ruas de Vitória para descarregar no asfalto toda indignação contra o Brasil que não dá certo. A classe política, pelo conjunto da obra, foi o principal alvo dos protestos em todo o País. 
 
A marca impressionante daquela noite de quinta-feira desbancaria, em números proporcionais e absolutos, os vizinhos cariocas e paulistas. A Capital capixaba dava uma demostração maiúscula de mobilização. 
 
Ninguém poderia imaginar que um mês depois, no dia 19 de julho, mais uma manifestação da série de protestos que contagiaram os cidadãs da Grande Vitória começaria nas escadarias do Palácio Anchieta, sede política do governo capixaba, e acabaria nas celas do Centro de Detenção Provisória de Viana. 
 
Naquela sexta-feira fatídica,  a ordem do secretário de Segurança André Garcia à polícia era tolerância zero aos protestos. A estratégia era simples: sair prendendo quem estivesse pela frente. O “arrastão” da polícia resultou na detenção de mais de 100 pessoas. No final das contas, 11 adolescentes foram apreendidos e 36 pessoas presas. 
 
As prisões, todas arbitrárias – tanto é que a Justiça não tinha sustentação jurídica para mantê-las presas -, serviram de troféus para o secretário restabelecer a ordem e mostrar que estudante de classe média também vai preso. 
 
Jassildo Reis, assessor do Centro de Defesa de Direitos da Serra, um dos advogados que acompanharam a truculência da polícia no ato das prisões, conta que não havia elementos para prender ninguém. 
 
Reis também explica que as medidas cautelares aplicadas como pena alternativa à privação de liberdade são inconstitucionais. “Não se pode impedir o cidadão de participar de manifestação. Isso fere a Constituição”, adverte.
 
Se as prisões foram arbitrárias e as medidas cautelares inconstitucionais, isso o que menos importa para o secretário André Garcia. Incumbido pelo governo de fazer as vezes de principal interlocutor das manifestações, Garcia deu declarações inconsequentes à imprensa na tarde daquela sexta-feira no momento de qualificar a ação dos manifestantes, que entraram em confronto com a polícia no Centro da Capital, como aconteceu e continua se repetindo em outras capitais brasileiras. 
 
O advogado Jassildo Reis recorda das declarações que o secretário deu à Rádio CBN-Vitória na tarde do dia 19. Garcia encheu a boca precocemente – antes de a polícia ter ouvido um único manifestante – para dizer que, entre outros delitos, houve crime de formação de quadrilha. 
 
Aquela afirmação não era apenas palavras jogadas ao léu no momento de revolta do secretário, que se dizia indignado com o ataque dos manifestantes ao patrimônio público e privado. Na verdade, a tipificação do crime integrava a segunda parte do plano de Garcia. Depois do terrorismo causado pelas prisões arbitrárias, o secretário queria por a “inteligência” da polícia para trabalhar e dar um ponto final a esta história de manifestação, que vem aporrinhando a vida do secretário. 
 
O Núcleo de Repressão às Organizações Criminosas (Nuroc), divisão de elite da polícia que deveria investigar o crime organizado, agora está a serviço de Garcia para “enquadrar” os manifestantes. 
 
Os delegados do Nuroc, a partir de cruzamento de informações de fotos, imagens, monitoramento das redes sociais e sabe-se lá mais o que, fizeram uma lista dos “suspeitos”. 
 
Reis, que representou um dos “suspeitos”, conta que os delegados querem na verdade “apertar” os manifestantes para identificar os “cabeças do movimento”. Garcia, satisfeito com o efeito das prisões, já percebeu que os depoimentos no Nuroc, por si só, já garantem um bom “tratamento de choque” nos impertinentes manifestantes. 
 
Outro advogado, André Moreira, que representa dois manifestantes que serão ouvidos pelo Nuroc, definiu bem a estratégia terrorista da Secretária de Segurança. “Estão agindo igual à KGB”, comparou Moreira, fazendo alusão a um dos mais temíveis órgãos de espionagem da extinta União Soviética. 
 
Apesar de recorrer à estratégia da repressão para asfixiar o movimento, André Garcia insiste em repetir que o governo sempre esteve e vai continuar aberto ao diálogo. Faltou especificar o que ele entende por diálogo. No caso de Garcia, a interlocução unilateral, com perguntas e respostas, também é conhecida como inquérito policial. Detalhe, muitas vezes o desfecho desse “diálogo” termina atrás das grades. 

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