Quarta, 24 Abril 2024

A lógica do livre, leve e solto

Mesmo quem idólatra o ex-governador Paulo Hartung, há de concordar que o apego à ética nunca foi seu forte, principalmente quando os interesses gravitam em torno da política. 

 
Sua trajetória política evidencia que seus interesses pessoais sempre estiveram acima de ideologias partidárias. Tanto é que o ex-governador costuma trocar de partido como quem troca de meias. Se a conta não está errada, para menos, é claro, desde que surgiu na vida política Hartung já transitou por seis partidos: PCB, PMDB, PSDB, PPS, PSB e, por enquanto, não se sabe até quando, PMDB, novamente.
 
O mais inquietante nesse troca-troca todo é que as mudanças passaram longe da ética. Para abandonar um partido e se filiar a outro, ele sempre considerou simplesmente os seus interesses imediatos. Ideologia, ética, fidelidade? Isso por acaso é alguma piada? 
 
Nestas eleições Hartung voltou a deitar e rolar na hora de definir quais candidatos iria apoiar. A coloração partidária do candidato foi o que menos importou, assim como as alianças, acordos ou outros compromissos previamente firmados. Para definir o apoio, importava para Hartung, como sempre, as vantagens que levaria. 
 
Da boca pra fora, para justificar a infidelidade, dizia que a qualidade do candidato vinha na frente da legenda que o vinculava. Foram esses os argumentos que ele usou, por exemplo, para justificar o apoio ao candidato do PPS Edson Magalhães, que disputou a prefeitura de Guarapari. Hartung ignorou o fato de o PMDB estar coligado com o PSB do candidato Ricardo Conde. 
 
O candidato de Hartung acabou ganhando as eleições, mas não levou. O recurso do atual prefeito de Guarapari continua no Tribunal Superior Eleitoral aguardando julgamento. 
 
O apoio a Magalhães foi o mais escancarado, mas não foi o único. Ele também apoiou o petista Carlos Casteglione em Cachoeiro de Itapemirim, na contramão da aliança do PMDB, que apoiava Glauber Coelho, do PR. 
 
O mais curioso é que esse mau exemplo está sendo seguido por outros políticos, que também entenderam que os interesses pessoais devem prevalecer sobre questões partidárias, históricas ou ideológicas. É a reedição da repugnante “Lei de Gérson”, aquela que o craque da conquista do tricampeonato de 1970, que dá nome à lei, recomendava: “O importante é levar vantagem em tudo, certo?”
 
Certo. Pelo menos para os prefeitos reeleitos de Colatina e Cachoeiro de Itapemirim, respectivamente, Leonardo Deptulski e Carlos Casteglione. Apoiados pelo ex-governador na eleição que os reelegeram, os prefeitos petistas assinaram um pacto com Hartung. A ética e todos os seus coadjuvantes que deveriam regular a política como uma atividade limpa, não fizeram parte desse pacto.
 
Como paga pelo apoio que receberam, o ex-governador exigiu que a dupla petista anunciasse publicamente apoio ao candidato a prefeito de Vila Velha, Rodney Miranda (DEM).
 
Seguindo a lógica do ex-governador, que alegou estar “livre, leve e solto” para apoiar quem bem entendesse, Casteglione e Deptulski aderiram à “Lei de Gérson” e atropelaram todos os princípios éticos com os Partidos dos Trabalhadores. 
 
A manobra antiética dos dois prefeitos, porém, foi denunciado por três petistas históricos: a deputada federal Iriny Lopes, que disputou e perdeu a eleição para prefeita de Vitória no último domingo (7), o deputado estadual Cláudio Vereza e o subsecretário estadual de Direitos Humanos Perly Cipriano. Eles pediram, por meio de uma carta, punição aos dois oportunistas de plantão que se renderam à manobra de Hartung.
 
Vamos esperar para ver se a carta de indignação dos três petistas terá resultado ou se no PT também prevalecerá “Lei de Gérson”.

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