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A maquiagem da gastança

Ano eleitoral é tempo de gastar, sabem disso os políticos. Por isso, não é sem motivo que o governador Paulo Hartung ordenou aos secretários e diretores de órgãos e empresas públicas e aplicarem, de imediato, os recursos economizados nos últimos três anos, que alcançam a cifra de R$ 1 bilhão.
 
As ordens de serviço circulam em todas as áreas. Elas funcionam como precioso combustível para levar o governador a recantos onde a oposição imperava. Mas agora ele é quem dá as cartas e, com a grana, pode refrear todo contraditório ao seu governo.
 
Economizou, como ele mesmo diz, externando a lógica da austeridade, cruel para a maioria, agora jogada de lado, porque é hora de gastança. No entanto, no caminho por ele trilhado, há muitas vítimas deixadas à margem.
 
A principal delas é a classe dos servidores públicos, em especial a dos professores, que carregam no peito a mágoa da promessa de campanha não cumprida: o reconhecimento não veio, nem virá tão cedo, é que afirmam os mestres, cansados de ver que o dinheiro não dá para pagar as contas. 
 
A época de gastança, boa para quem recebe o serviço esperado, é ruim para quem vive os efeitos da recessão imposta aos setores que mais tocam à população: saúde, segurança e educação.
 
Como indutor de crescimento, o Estado não se sustenta no conceito do arrocho fiscal no modelo da Ana Paula Vescovi, a ex-secretária da Fazenda do início da gestão Hartung, agora elevada à secretária do Tesouro Nacional, no comando do arrocho em nível maior.
 
Ela mesmo anunciou, em 2016, ainda no Espírito Santo, que a insuficiência de recursos e o surgimento de epidemias ameaçam o Sistema Único de Saúde (SUS), durante prestação de contas na Assembleia Legislativa.  O secretário de Saúde, Ricardo Oliveira, adotou, na época, o mesmo tom. Não havia recursos, a ordem era economizar. 
 
Essa é a política: esvaziar o Estado e deixar o mercado jogar solto de forma a privatizar serviços essenciais, com preços proibitivos e inalcançáveis para a maioria. E daí, deve perguntar com ironia quem assim age, com a resposta de que o estado de bem-estar não gera os lucros esperados.  
 
Não importa, essa é a lógica e, nela, Hartung avança no controle político pleno. Nutre-se da inabilidade dos principais adversários, no momento, a senadora Rose de Freitas (PMDB) e o ex-governador Renato Casagrande (PSB), que, como dois pixotes, não souberam tirar proveito da maré baixa vivida pelo governador, agora coisa passada. 
 
Casagrande bem que tentou atrair Marcus Vicente (PP), o deputado federal campeão da liberação de emendas parlamentares, recebidas pelos bons serviços prestados a Michel Temer, o presidente. Reuniu-se com ele, conversou, mas o parlamentar preferiu os braços de quem está no poder, para não fugir à regra, é bom ressaltar. 
 
A política de austeridade, geradora de bons dividendos políticos para quem controla a máquina administrativa, na realidade, é historicamente equivocada, na medida em que privilegia setores abastados em detrimento de áreas que não geram lucratividade quando geridas pelo Estado. 
 
E assim o barco anda, como agora, vestido com a roupagem da abundância, que tenta esconder a sua ausência em setores essenciais para a maioria da população. 

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