Mantendo a tônica do período eleitoral e pós-eleitoral, os oito primeiros dias do governo Paulo Hartung foram marcados por críticas à gestão de Casagrande. Frases como “O Estado perdeu o rumo, parou de crescer, perdeu a capacidade de investimentos” foram ditas e repetidas à exaustão nos últimos dias pelo governador e seus principais interlocutores.
Na entrevista que deu a Século Diário, no final de dezembro do ano passado, Casagrande garantiu que faria a defesa do seu governo. “Se alguém quiser atacar o produto do meu governo vai encontrar alguém aqui para fazer a defesa. Se alguém quiser governar de outra maneira, sem ética, sem diálogo, vai encontrar aqui alguém para contestar”.
Apesar da promessa, Casagrande permaneceu em silêncio diante dos ataques do governador Paulo Hartung. Nesta quinta (8), ele decidiu se manifestar na sua página no Facebook.
O socialista apareceu para reivindicar as conquistas do seu governo na área da segurança pública. A manifestação foi em resposta à reunião do ministro da Justiça José Eduardo Cardozo com Paulo Hartung e os demais governadores da Região Sudeste para tratar de ações integradas de combate à criminalidade.
Casagrande reagiu porque percebeu que Hartung está tentando reivindicar para si os resultados que começaram a ser colhidos pelo socialista no final do seu governo, com a redução dos índices de homicídios.
Inclusive, o ex-governador fez questão de confrontar os números do seu governo com os do antecessor para mostrar que os resultados positivos são mérito do seu trabalho. “(…) Construímos bases sólidas para o enfrentamento ao crime, e o resultado mais visível desse esforço é que saímos do escandaloso índice de mais de 53 mortes para cada grupo de 100 mil habitantes, por ano, para 39 mortes por 100 mil habitantes. É claro que ainda são números altos, mas demonstram que trilhamos o caminho certo e que esse rumo não deve ser abandonado”.
É justa a reação de Casagrande em querer defender seu governo. Mais que isso, seu posicionamento é uma maneira de evitar que Hartung passe uma borracha em suas conquistas, especialmente na segurança pública — área negligenciado por Hartung em seus dois mandatos.
Apesar do esforço de Casagrande para salvar seu legado, Hartung age ardilosamente para confundir a opinião pública. Embora tenha assistido de braços cruzados a morte de mais de 14 mil pessoas entre 2003 e 2010, Hartung tenta emplacar a tese de que seu governo iniciou o trabalho de redução dos homicídios e agora ele retorna para colher as sementes plantadas lá atrás.
Ora, quem compara os dois governos, pelo menos na área se segurança, sabe que Hartung sucateou as polícias, não repôs os efetivos, tampouco investiu em infraestrutura e sequer criou um único programa para enfrentar a criminalidade.
Hartung deveria ter dignidade em reconhecer que foi o trabalho feito por Casagrande que o credenciou a dialogar nessa quarta (7) com o ministro da Justiça em pé de igualdade com os demais governadores.
O governador sempre foi um crítico contumaz à omissão do governo federal no socorro aos estados, sobretudo nas áreas mais nevrálgicas: segurança, saúde e educação. Apesar do chororô, marca do seu governo, Hartung não revela que essas áreas nunca foram prioritárias na sua administração.
Quando um governo tem resultado para mostrar — caso das conquistas de Casagrande na área da segurança — fica mais fácil para barganhar contrapartidas e propor parcerias com o governo federal. Foi graças ao trabalho do socialista que Hartung não precisou ficar cabisbaixo ao lado dos outros governadores.
Empurrar a bola para dentro do gol depois que ela já cruzou a linha e sair comemorando, é bem o estilo de Paulo Hartung.
Esses primeiros movimentos do governador indicam que Casagrande terá muito trabalho para defender o seu governo.