Quem visita a página do prefeito Luciano Rezende (PPS) no Facebook conhece uma Vitória perfeita. É a “Vitória linda”. Na Vitória dinamarquesa de Luciano, que completa 466 anos nesta sexta-feira (8), tudo funciona, tudo é melhor. A impressão que se tem é que há muito pouco a ser melhorado, talvez apenas ajustado. Na foto de perfil da página, ele aparece ostentando troféus que elegem Vitória sempre entre as melhores cidades para se viver no País.
Mas antes de se impressionar com os rankings que colocam a capital capixaba sempre no topo de quase todas as listas sobre qualidade de vida, é preciso analisar com menos empolgação outros números que ajudam a avaliar a gestão do prefeito que está no seu segundo mandato.
Os números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do anuário das Finanças Capixabas 2017 mostram uma Vitória bem menos dinamarquesa que a propalada por Luciano.
É fato que Vitória tem os melhores indicadores de riqueza entre os 78 municípios do Estado. Pudera, arrecadação alta, população pequena para uma capital (363 mil, IBGE 2017) em um território diminuto: 96,5 km2. Mas os índices sociais não correspondem exatamente à cidade dos sonhos divulgada pelo prefeito.
Por exemplo, a receita per capita total (Anuário Finanças 2016) é de R$ 4,1 mil. Praticamente o dobro da Serra, e quase o triplo de Cariacica – três dos quatro maiores municípios da Grande Vitória em que os prefeitos estão no segundo mandato.
Vitória lidera quase todos os rankings em arrecadação (dados de 2016) de tributos: Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU); Imposto de Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) e Quota Parte Municipal de ICMS. Só não lidera arrecadação sobre os royalties do petróleo. A melhor arrecadação, consequentemente, assegura a liderança entre os municípios capixabas com o melhor índice da população economicamente ocupada: 69,5% (IBGE). Para se ter uma ideia, Serra tem 31,6% e Cariacica 16,3%.
Mas quando se avalia os indicadores sociais da cidade, como saúde e educação, os resultados tiram Vitória do topo do ranking. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) nos quatro primeiros anos do ensino fundamental (IBGE, 2015) é de 5,6; nos quatro anos finais do ensino fundamental é de 4,1. Respectivamente, Serra tem 5,3 e 3,8, mas com uma população de meio milhão de habitantes, território cinco vezes maior e receita meio milhão de reais menor. Domingos Martins, por exemplo, tem 6,9 e 5,4 nesses índices da educação.
O índice de mortalidade infantil também está longe de ser dinamarquês. Vitória (IBGE) apresenta 9,78 óbitos por mil nascidos vivos; Serra tem 9,58. Guarapari tem quase a metade: 5,12. Em Anchieta é ainda menor: 4,42.
O índice de internações por diarréia é de 0,3 por mil habitantes (IBGE) na Capital, o mesmo de Cariacica, com receita total per capita de 35%, ou seja, um terço da de Vitória.
Os investimentos globais com saúde e educação (Anuário de Finanças 2016) apontam que Vitória não entrega à população proporcionalmente o que arrecada. Na área de saúde, a despesa per capita de Vitória foi de R$ 674 – vigésima posição entre os 78 municípios. Presidente Kennedy, líder no ranking, investe R$ 4,5 mil, quase quatro vezes o valor per capita investido por Luciano Rezende. Anchieta e Itapemirim investem R$ 1,7 mil cada.
Na educação, o valor investido por aluno (R$ 7,4 mil) deixa Vitória na modesta décima quinta posição no ranking estadual. Kennedy, o município que mais investe, gastou por aluno em 2016 R$ 33 mil. Anchieta e Itapemirim gastaram R$ 11 mil cada; Marataízes, R$ 10,3 mil; Governador Lindenberg, R$ 9,9 mil.
Deixando os números de lado, há dois outros problemas graves na cidade que têm sido ignorados pelo prefeito Luciano Rezende: o fim do Porta a Porta e o déficit de moradia.
Em relação ao Porta a Porta, o presidente do Movimento Organizado de Valorização da Acessibilidade (Mova), José Olympio Rangel Barreto, explica, em entrevista a Século Diário (08/09/17), por que a entidade decidiu levar o prefeito Luciano Rezende à Justiça por ferir direitos das pessoas com deficiência.
A visão dinamarquesa da cidade não permite que o prefeito enxergue o problema de moradia de parte da população, que tem aumentado sensivelmente nos últimos meses com o agravamento da crise econômica.
Sem canal de diálogo com o poder público, o movimento lançou um manifesto esta semana em repúdio ao descaso do prefeito. O Coletivo Resistência Urbana denuncia a geografia da desigualdade social, condena a especulação e defende a ocupação de “tudo o que está abandonado” em Vitória.
O texto critica a dinâmica urbana da capital capixaba, que condena famílias pobres a viver de forma precária na Vitória que não está contemplada nos índices de excelência de Luciano Rezende. O prefeito precisa parar de se deslumbrar com rankings promocionais de publicações marketeiras e se preocupar com a Vitória real, que não é tão linda assim nos índices do IBGE e no Anuário de Finanças dos Municípios Capixabas ou tampouco na percepção da população que não está incluída na cidade que brilha no Facebook do prefeito.