Logo na primeira sessão como líder do governo na Assembleia Legislativa, bateu no deputado Élcio Álvares (DEM) uma crise de saudosismo dos anos de chumbo. O ex-governador biônico do Espírito Santo (1975 – 1979), nomeado pelo governo militar, mostrou que os anos se passaram, mas o ranço da ditadura ainda se faz presente.
Na sessão de estreia como líder do governo, nesta segunda-feira (11), Élcio pediu a palavra para dar um recado a alguns colegas que costumam fazer críticas sistemáticas ao Executivo, o que, diga-se de passagem, deveria ser uma prática nos legislativos.
Fazendo a linha do parlamentar experiente e legalista, Élcio advertiu os colegas sobre a importância dos colegas cumprirem o regimento da Casa ao pé da letra. O “sermão” serviu como um alerta do deputado para mostrar como a banda vai tocar daqui pra frente. Élcio pediu aos deputados que fizessem críticas ao governo nos horários reservadas às falas do parlamentares.
O líder do governo ficou irritado com o deputado Gilsinho Lopes (PR), que afirmou que a reforma da delegacia de Aracruz, entregue em janeiro deste ano, foi iniciativa de empresários e não do governo do Estado, como consta no relatório “1.000 dias de governo”.
O republicano denunciou que a delegacia foi incluída no material publicitário como uma realização do governador Renato Casagrande (PSB).
Élcio Álvares mostrou que está disposto a adotar a “linha dura”, como nos velhos tempos, para blindar o chefe do Executivo dos ataques, que, em ano eleitoral, tendem a aumentar por parte dos opositores do governo.
Como nos velhos tempos também, ele, no papel de líder do governo na Casa, ignorou solenemente a intervenção do deputado do PR e acabou não respondendo — não só ao deputado, mas principalmente à população — por que o governo teria incluída a obra, no valor de R$ 3,8 milhões, no seu pacote de realizações.
A questão tratada aqui não invalida a iniciativa do governo em buscar recursos de empresários para reforma da delegacia. Inclusive a Aracruz Celulose (Fibria), uma das financiadoras da obra, tem uma dívida ambiental e social com o município que vai muito além de uma simples reforma de delegacia. Mas essa é outra conversa.
Voltando ao caso de Élcio, alguém precisa lembrar o ex-governador biônico que o papel do deputado é fiscalizar o Executivo. Já o líder do governo na Casa deve conduzir essa interlocução pela via do diálogo, como recomenda a democracia, e não se apegar à burocracia para tentar calar os parlamentares que criticam o governo. Isso sim é retrocesso.