São tantos os pobres do mundo que um programa de governo para dar-lhes casa, comida, instrução e emprego…garantiria muitos e muitos anos de crescimento da economia, a principal demanda dos empresários e economistas. No entanto, isso não ocorre aos governantes habituados a fazer a vontade da minoria rica, esquecendo as necessidades da maioria pobre.
O governo do PT, que ousou apostar na ascensão dos pobres, acaba de ser expulso de campo por uma conspiração da Direita coordenada pela mídia plutocrática, federações empresariais, centrais sindicais e classe média. É uma força bem organizada que, entretanto, se fosse traduzida em votos, não chegaria a um segundo turno eleitoral. Daí se poder dizer que o movimento que tirou a presidenta Dilma do poder foi um golpe elitista e antidemocrático.
Todavia, como disse o ex-ministro Joaquim Barbosa, a destituição presidencial teve uma aparência de normalidade, pois começou com um pedido formal de impedimento constitucional, passou pelo rito processual na Câmara e por uma votação inesquecível no domingo 17 de abril, terminando no breve trâmite no Senado até a declaração formal de impedimento.
Trocando em miudos, o Congresso bicameral irmanado submeteu o presidencialismo de coalizão a um golpe parlamentar. “Molecagem”, disse o ex-ministro Ciro Gomes.
A tudo isso o Judiciário assistiu feito o impávido colosso do Hino Nacional. A única reação aconteceu depois do leite derramado e da xícara quebrada: Eduardo Cunha, o líder do processo de impedimento, foi afastado do cargo de presidente da Câmara e teve seu mandato suspenso. Tecnicamente, está na geladeira para evitar que permaneça na linha sucessória da Presidência da República.
A maioria do povo, aparentemente, não está nem aí nesse processo de mudança formal dos cargos de poder.
Tem razão o povo ao ficar com o pé atrás. A História mostra que ele não deve esperar grande coisa dos governantes. Se a presidenta Dilma batia uma martelada no prego e outra na ferradura, seu substituto temporário no Planalto montou um time para fazer nem uma coisa nem outra, antes pelo contrário. Fogo brando, banho-maria, eis o que se pode esperar. Com certeza os pobres deixarão de figurar como prioridade. Nesse aspecto, parece que o Brasil caminha para um retrocesso. A desigualdade continua.
Mesmo sabendo que não há mais espaço para manter ativo o sistema econômico baseado no aumento do consumo e dos gastos de energia, a tendência dos governantes é continuar a marcha da insensatez em prol de cidades poluídas por gás carbônico e outras substâncias químicas, de uma agricultura mantida por agrotóxicos, da devastação florestal e da perda da biodiversidade, tudo isso com 2 bilhões de pessoas passando fome na Terra. Dos 7,1 bilhões atuais, a população mundial passará a 9,7 bilhões em 2050, estima a ONU.
“A era do consumo sem consequências acabou”, declarou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, no discurso de abertura da cerimônia de assinatura do Acordo de Paris, pelo qual os países do mundo se comprometem a atuar para minimizar as mudanças climáticas. Chega de brincar de crescimento econômico predatório: estamos numa corrida contra o aumento das temperaturas globais, do degelo das calotas polares e da perda da biodiversidade.
Um dos legados da presidenta Dilma Rousseff em sua última passagem pela ONU, em abril, foi a fixação das metas ambientais do Brasil até 2030: reduzir em 43% a emissão de gases do efeito estufa; zerar o desmatamento na Amazônia; reflorestar 12 milhões de hectares de florestas e 15 milhões de hectares de pastagens degradadas; integrar 5 milhões de hectares na relação lavoura-pecuária-florestas; e adotar 45% de energias renováveis na matriz energética.
São medidas que atingem os interesses dos ricos e podem pesar fortemente sobre os pobres. Cabe pois aos futuros governos brasileiros atuar no sentido de atender as necessidades dos mais vulneráveis às mudanças climáticas. Os ricos cuidam de si. Uma verdadeira democracia deve cuidar antes de tudo dos interesses da maioria.
LEMBRETE DE OCASIÃO
“Ela não soube combater com sinceridade e a força que o cargo lhe dava o que vem gangrenando as instituições brasileiras: a corrupção. Não digo que ela compactuou com os segmentos corruptos do seu partido e base aliada, mas se omitiu, silenciou e não soube exercer o comando. Ela foi engolida por essa gente”.
Joaquim Barbosa, ex-ministro do STF, sobre a presidenta Dilma Rousseff, numa palestra no dia 12 de abril em São Paulo