Terça, 23 Abril 2024

Afinal, o que será o amanhã?

 

As eleições municipais chegam com o processo muito mais animado no interior do que na Região Metropolitana. Talvez porque no interior as pessoas se conheçam melhor e criem vínculos pessoais e políticos ao longo de toda sua caminhada de vida. Como de perto ninguém é normal, isso cria algumas anomalias próprias de uma sociedade heterogênea.
 
Além de criar condições de logística e dinâmica econômica ao modelo de nossa época, as grandes cidades têm também esse papel: o de transformar indivíduos em massa. Tanto é que, nos grandes centros, o meio de os candidatos chegarem aos eleitores é a comunicação de massa. E chegam com um perfil que, quase sempre, não corresponde à realidade.
 
As primeiras cidades gregas tinham uma lógica: deixavam de crescer quando chegavam ao limite de todos os seus cidadãos se conhecerem. A partir daí, criava-se uma outra cidade. As grandes cidades modernas, pelo contrário, fundem-se em metrópolis e megalópolis. Quem, cidadão comum, consegue definir os limites dos municípios que compõem a Grande São Paulo, por exemplo?
 
Nas cidades do interior, o eleitor quer ver o candidato, tocá-lo. Existem apostas de que este ou aquele não vai neste ou naquele bairro. E a presença física do candidato, muitas vezes, é determinante para definir o voto do eleitor, mais do que, mesmo, as propostas de governo e de atuação política.
 
E a paixão se manifesta. Particularmente, acompanhei mais de perto a movimentação política em municípios ao Norte da Região Metropolitana da Grande Vitória. E posso contrastar duas cidades onde a paixão é latente: Ibiraçu e Barra de São Francisco.
 
Ibiraçu é quase uma “cidade grega”, assim como outras cidades pequenas, como Águia Branca. Quase todo mundo se conhece, até porque, quem não é parente, passa perto. Isso leva também à situação de, muitas vezes, se oporem, politicamente, pessoas muito próximas no sangue. Em Ibiraçu, há dois grupos políticos e uma clara divisão das pessoas entre um e outro. Comício, só um ou dois. O resto é visita casa a casa mesmo, é toque, sinestesia, contato pessoa, carinho, afeto.
 
Em Barra de São Francisco, talvez até pela tradição histórica da colonização da região e da disputa de divisas com Minas Gerais, no antigo Contestado, o sangue ferve nas veias. A cidade já é média, no contexto do Espírito Santo. Mas lá também a política está polarizada, o que alimenta as paixões.
 
Meios de comunicação são utilizados para comunicar com o povo, as mídias eletrônicas, como sites ligados a um e outro candidato, alimentam as rivalidades e há uma impressionante importância das redes sociais na troca de informações e, claro, de provocações. Mas o contato pessoal com o eleitor ainda funciona muito, o que obriga os candidatos a se desdobrarem, pois não é fácil percorrer todos os cantos da cidade e do município, que é, territorialmente, bem amplo.
 
Estes são alguns exemplos de como a democracia é importante e jamais pode ser desprezada. Jovens de hoje em dia não têm, em sua maioria, noção do preço que isso custou a muitos brasileiros dignos, que enfrentaram regimes de arbítrio.
 
Fatos como esses trazidos à tona no julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) somente servem para reforçar o conceito de que a democracia é o melhor caminho para que a humanidade viva politicamente. Se vivêssemos regime de excessão, essa exposição pública dos desvios de condutas de cidadãos públicos jamais seria possível e não aperfeiçoaríamos o exercício do voto.
 
O que será o amanhã? As urnas dirão neste domingo. Seja o que for, foi o povo que decidiu, ainda que, em alguns casos, a eleição vá ser decidida em turno extra, pela Justiça, também o que é muito saudável para a democracia. O que é necessário fazer é aperfeiçoar o ordenamento jurídico para que esses males sejam cortados pela raiz.
 
José Caldas da Costa é jornalista, escritor, licenciado em Geografia. Contatos:

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