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Agosto quente

O inverno se desmoraliza a cada ano que passa. Agora, antes mesmo da metade de agosto de 2015, todo mundo passou a espreitar o céu, olhando desconfiado para trás e para os lados.
 
Algo estranho no ar inquieta as pessoas. O sintoma mais visível é a variação da temperatura que saltou da normalidade hibernal (15 graus) para um estado semifebril (35 graus).
 
Qualquer mortal seria capaz de definir tais mudanças como “anormais”, próprias dessa época de mudanças climáticas, mas o meteorologista Luiz Fernando Nachtigal, falando na Rádio Guaíba de Porto Alegre, anunciou a presença de “uma frente fria muito mal organizada” tentando subir do sul para o norte do país. 
 
Caracoles! Ele disse “mal organizada” mesmo! Como assim?
 
No primeiro momento, entendemos que o técnico – sim, os meteorologistas são técnicos de nível superior formados por faculdades de agronomia — se referia a uma frente fria de difícil leitura, dado o comportamento diferenciado do clima nesses últimos anos. 
 
Parecia uma frente fria, mas na realidade era uma frente quente, mormacenta, como se estivéssemos no verão. Daí ser impossível uma previsão precisa.
 
Por falta de parâmetros, atribuem-se tais distúrbios às mudanças climáticas em curso no planeta por causa do aquecimento crescente da superfície terrestre.  
 
Porém, dando tratos à bola e ligando os fatos, a tal “frente fria muito mal organizada” poderia ser tomada como uma metáfora alusiva à decisão do governador gaúcho José Ivo Sartori de parcelar os salários do funcionalismo, composto por 372 mil pessoas, 52% das quais são inativas (aposentadas e pensionistas).   
 
Em outras palavras, o homem do tempo estaria sugerindo aos ouvintes que o golpe salarial sulino era “uma frente fria muito mal organizada” que poderia subir para outros estados, como sinal das mudanças no clima econômico do país.
 
Por outro lado, numa parábola ainda mais mirabolante, o cara poderia estar querendo avisar de uma possível frente fria política oriunda de Brasília. Mil caracoles!  
 
Hoje em dia, um boletim meteorológico servir como desabafo é uma novidade mas não se deve esquecer o precedente de 14 de dezembro de 1968, quando o Jornal do Brasil, para driblar a censura, anunciou no despretensioso quadrinho meteorológico do alto da primeira página que na véspera (sexta-feira, 13) o país fora “varrido por grandes vendavais” — sem mais detalhes. Era um desabafo do editor-chefe Alberto Dines contra a edição do terrível Ato Institucional Nº 5, que instituiu a ditadura militar sem mais disfarces.
 
De fato, está difícil ler os sinais do tempo, mas as mudanças climáticas e outras estão nas ordens dos dias de diversas instituições.
 
Sente-se no ar o risco de temporais. Não é somente o Sr. Clima. Há gente se comportando de forma suspeita.
 
A presidente da República parece fora do eixo.
 
O presidente da Câmara dos Deputados parece estar surtado.
 
O presidente do Senado parecia na corda bamba, então se agarrou ao fio-terra Michel Temer, vice-presidente do país.
 
Os ex-presidentes Lula, FHC, Collor e Sarney parecem tomados por variados graus de perplexidade, como se estivessem naquela situação de vacas não reconhecerem seus bezerros” às vésperas da tempestade.
 
Enquanto isso, protegido de raios, trovões e panelaços, o Judiciário reassumiu a liderança dos salários no serviço público, como se os habitantes do(s) Palácio(s) da Justiça devessem pairar acima do Tempo e do Vento.  
 
Diante das crises econômica, meteorológica, moral e política, há quem torça para que chova canivete ou baioneta.
 
Nas redes sociais há um clamor por vingança emitido por jovens sem noção dos limites da liberdade de expressão numa democracia incipiente como a brasileira.
 
E o pior: a juventude está sendo usada como massa de manobra e bucha de canhão por uma malta de velhos oportunistas, muitos deles entrincheirados em veículos da mídia tradicional e seus reboques eletrônicos.
 
Eta frente fria sem-vergonha.
 
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LEMBRETE DE OCASIÃO
 
“Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma”.
 
Joseph Pulitzer, jornalista americano de origem húngara

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