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Aldemar de Oliveira Neves

Em 1964, logo após o triunfo do golpe civil militar, o professor Aldemar de Oliveira Neves, da Ufes, foi preso juntamente com outros “elementos subversivos”. Permaneceu preso por algum tempo e respondeu Inquérito Policial Militar na Auditoria Militar da Aeronáutica, no Rio de Janeiro. Depois de ser posto em liberdade, deveria retornar à sua vida normal, para seu consultório e para suas aulas na Universidade Federal do Espirito Santo, onde era professor de parasitologia.
Bem, não foi assim que aconteceu. Ele foi submetido a um processo para sua expulsão da Universidade, um processo que envergonha pela sua crueldade, mesquinharia e ilegalidade. Não levaram em consideração os exames que comprovavam seu estado de saúde. Nem tampouco as aberrações praticadas neste “processo”, onde até a punição retroativa foi proposta.
Essa aberração foi adiante e o professor Aldemar foi afastado da Universidade, vale a pena conhecer os artifícios e artimanhas propostas e executadas neste sinistro processo, onde ficam bem delimitadas as regras e os procedimentos utilizados pela ditadura por algumas mãos acadêmicas e certamente por informações prestadas por delatores. O que confirma que a ditadura foi civil militar e, que o poder público com suas instituições e as entidades privadas se “adaptaram” rapidamente e tomaram gosto, pelo autoritarismo e também assumem a visão e a versão daqueles que ditatorialmente assaltaram o poder se comportando de maneira subserviente e autoritária, e às vezes mais realistas que o próprio rei.
Aldemar de Oliveira Neves nasceu na cidade de São Mateus, onde foi prefeito na década de 30. Na juventude, juntamente com seu irmão Almir de Oliveira Neves, esteve próximo dos integralistas, assim como Don Helder Câmara e outros.
Um homem muito estudioso dos problemas sociais e preocupado com a erradicação de suas causas. Assume as ideias socialistas e ingressa no PCB. Manteve amizade e correspondência com o escritor comunista Jorge Amado, fez pesquisa arqueológica dos sambaquis, era um intransigente defensor de uma medicina próxima e para o povo. “As doenças tropicais do nosso povo, não podem ser esquecidas jamais”. 
Ademar de Oliveira Neves era da direção do PCB, um dos diretores do jornal Folha Capixaba, o único que foi fechado pela ditadura militar. Era um ativista e atuava na Frente de Mobilização Popular (FMP), que lutava pelas reformas de base, um defensor permanente das ideias socialistas. Era um comunista conhecido e respeitado pelos trabalhadores e mesmo pelos seus adversários políticos.
Quando estive preso no 3º Batalhão de Infantaria em Vila Velha. Durante interrogatório, o capitão Batalha me disse, mais de uma vez, que Aldemar já vinha sendo vigiado antes mesmo da “revolução triunfar”. Sabiam que muitas pessoas visitavam seu apartamento no Parque Moscoso,”inclusive você”, e disse uma data provável da minha visita.
Muitos anos depois da morte do professor Aldemar Neves, quando saí da prisão política, conversei com o professor Antônio Carlos Neves, o Toninho Neves, que era seu sobrinho, que gostaria de trabalhar para reparar aquela injustiça.
Busquei inicialmente informações na Ufes e no MEC e não consegui resultados satisfatórios.
Em 1994, na condição de vereador de Vitória e presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, procurei o Instituto Aldemar de Oliveira Neves, do PCB, coloquei meu mandato à disposição, o que daria início à busca de reparação com base na Lei da Anistia das injustiças cometidas contra esse capixaba que merecia e merece a admiração e respeito da sociedade pelo que ele fez pelo nosso Estado.
Peticionei ao reitor da Ufes, sugerindo uma homenagem ou um ato de reparação ou de reintegração do professor Aldemar de Oliveira Neves à  Universidade, mesmo após sua morte, e em seguida teve início à tramitação. O Conselho Universitário promoveu uma sessão solene restituindo ao professor o título de professor emérito. 
Foi uma solenidade emocionante. Do Rio de Janeiro veio seu filho Almir Neves, além da presença do outro filho e dos sobrinhos, professor Toninho Neves e da servidora da Ufes, Zety Neves, além de vários amigos e admiradores deste ilustre capixaba .
Porque manter nomes de violadores de direitos humanos como do ditador Marechal Humberto Castelo Branco a uma Rodovia ou a uma escola o nome de Costa Silva e mais aberrante ainda, o nome de Presidente Kennedy a um município capixaba. Devemos lembrar sempre que este presidente homenageado conspirou e financiou a preparação do golpe militar que derrubou o presidente João Goulart e implantou uma sanguinária ditadura civil-militar em nosso país.
Devemos sempre nos perguntar por que foram homenageados tantos violadores de diretos humanos? A quem interessa manter tais homenagens? 
Um levantamento urgente precisa ser feito pela Secretaria da Educação e pelo Sindiupes visando a substituir as homenagens indevidas dos espaços públicos por nome de pessoas que tenham prestado relevantes serviços à comunidade, seja esse serviço no campo da educação, da ciência, da cultural, do esporte ou da política. Da mesma maneira as demais secretarias e a Assembleia Legislativa devem proceder, bem como as prefeituras e câmaras municipais.
Seria um momento privilegiado para uma campanha conhecer todas aquelas pessoas que merecem ser homenageados e também de saber os nomes daquelas que indevidamente foram homenageados, assim estaríamos promovendo uma campanha de cidadania e de democracia em nosso Estado.
Quantas praças, monumentos, rodovias e escolas têm o nome de pessoas como Aldemar de Oliveira Neves, que lutou por democracia e liberdade em nosso Estado e em nosso país? A ditadura e seus seguidores prenderam, perseguiram e o demitiram da Ufes. E nós, o que fazemos em sua homenagem?

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