Sábado, 20 Abril 2024

Aqui embaixo as leis são diferentes

 

 
 
 
 
José Caldas da Costa
 
 
Cada candidato ou militante nas eleições municipais deste ano deve superar o êxtase da vitória ou a tristeza da derrota e parar para compreender o extraordinário momento histórico que estamos vivendo, do qual se falará muito no futuro. Então, cada um de nós vai parar, meditar, recordar e dizer, com o peito estufado: eu estava lá.
 
“Nunca antes na história desse País” houve uma reação cívica, por meio do voto, com tanta veemência. Particularmente, penso que o julgamento do “mensalão” e a absoluta publicidade das sessões do Supremo Tribunal Federal (STF), com total liberdade de informação e interpretação por parte da mídia e do comum do povo, tem um peso muito grande na onda de mudança que varreu o País.
 
Um fenômeno particular que se pode verificar é a “sintonia” da campanha de Luciano Rezende, em Vitória, com a de Juninho, em Cariacica. Ambos concorreram pelo mesmo partido e o gingle de Luciano, leve, simples e objetivo, colou, impactando o município  vizinho, por causa da força da televisão. Teve, ainda, a virtude de surfar na onda que varreu País: a mudança. Somente um desastre derrota Luciano e Juninho no segundo turno.
 
Até mesmo o nem tão novo assim Rodney Miranda, em Vila Velha, tirou proveito do momento. É que, efetivamente, ele é o elemento novo no município, a despeito do que representa sua candidatura. O município mais antigo do Estado marca, no segundo turno, uma disputa não entre Rodney e Neucimar, mas entre Paulo Hartung e Magno Malta.
 
O risco do ex-governador é perder seu único trunfo para ter um escudo daqui para a frente, depois que a sociedade capixaba tomou conhecimento de que sua conduta no governo não foi, assim, tão certinha quando tentou fazer parecer o absurdo sistema de controle de informação e contra-informação que montou, de fazer inveja aos piores déspotas, escondido sob mantos que a sociedade ajuizada sempre haverá de desejar.
 
A classe média mais conservadora de Vila Velha, principalmente pessoas com mais idade, parece ter encontrado em Rodney, que caiu de pára-quedas no município, um pólo de convergência saudosista da linha dura, comportamento corroborado pelo perfil de Neucimar, que pratica um populismo de pouca substância política.
 
É natural que o PSDB, agora, fique com Rodney, por sua vocação hartunguista, mas o PSDB do B em Vila Velha, aquela ala que chegou com os Mauro, dificilmente terá a mesma direção, e isso já ficou patente nas primeiras manifestações pós-primeiro turno. A declaração de Max Filho, ressalvando ser sua posição pessoal, de que é impossível ficar com Neucimar, terá pouca repercussão sobre essa ala “tucana”, porque ficou provado nessas eleições que, na hora do voto, a soberania é do eleitor e há poucos líderes capazes no Estado de conduzir o cidadão como gado eleitoral.
 
As dificuldades de Neucimar, entretanto, são notórias. E Magno Malto não depende tanto do prefeito de Vila Velha para sua sobrevivência política como depende PH de Rodney, que usa e abusa da imagem imperial em sua propaganda política. Pode haver um índice de abstenções, votos nulos e brancos bem mais alto do que de costume em Vila Velha.
 
Vale uma digressão para mencionar um fenômeno fora da região metropolitana: a renovação em 100% dos vereadores da Câmara de Colatina, o município mais importante da região Noroeste do Estado. Eu não me lembro, pelo menos na história recente, de algo semelhante no Estado.
 
“Eu não sou ministro, eu não sou magnata/Eu sou do povo, eu sou um Zé Ninguém/ Aqui embaixo, as leis são diferentes”. Os versos de “Zé Ninguém”, do  grupo “Biquini Cavadão”, talvez expressem o atual momento político brasileiro. De um modo ou de outro, o eleitor reagiu e mandou dizer, pelas urnas, que não quer mais ser tutelado.
 
Com exceções, é óbvio, pois democracia é um sistema político que está sempre em movimento e em busca da perfeição. Ainda existe muita gente trocando votos por favores pessoais, mas, assim como Joaquim Barbosa, de forma independente, feriu de  morte, na forma da lei, aquele que foi o canal para conduzi-lo à Suprema Corte, pode chegar o momento em que o cidadão prisioneiro de práticas políticas ultrapassadas leve a sério o alerta: cuidado com quem te protege para que não se torne seu carcereiro.

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