Estou convencido de que a cilada armada pelo Palácio Anchieta para tentar pegar o deputado Sérgio Majeski no contrapé falhou. Na prestação de contas do governador interino César Colnago, ficou claro que estava tudo preparado para sufocar a única voz legítima de oposição ao governador Paulo Hartung no Legislativo estadual. Aliás, algo que não se via há muito tempo na Assembleia.
Majeski ocupou um espaço que estava abandonado, passando a conquistar notoriedade nessa condição de líder informal da oposição ao governo PH. O embate na Assembleia envolvendo os dois tucanos deixou claro que o Palácio Anchieta viu na prestação de contas uma oportunidade única de defenestrar Majeski, ao vivo e em cores, perante seus colegas de parlamento e das câmeras da TV Assembleia.
Mas por que escalar justamente um tucano para bicar com outro? Primeiro porque PH mesmo não teria condições morais para encarar Majeski. O selo Lava Jato ficou colado na testa de PH junto com a alcunha “Baianinho”. Seria uma missão inglória para o governador. Segundo porque Colnago é uma liderança muito respeitada na Assembleia. Tem histórico, já foi presidente da Casa e sempre teve bom trânsito entre os deputados. A qualidade de ser tolerante com o contraditório e não ter perfil agressivo (parece estar sempre de bom humor) ajudaram a construir essa boa relação com o Poder Legislativo que conserva até hoje.
Pelas conveniências já registradas, entre Colnago e PH, o vice teria credenciais de sobra para subir no ringue em substituição ao chefe e encarar o líder oposicionista.
Essa reputação era essencial para enfrentar um deputado da linhagem de Majeski, que vem fazendo oposição séria e qualificada ao governo. A propósito, todos no Palácio Anchieta já tinham noção do tamanho do tucano na cena política.
Colnago foi para a prestação de contas preparado para o confronto com Majeski, mesmo que fosse para matar ou morrer para garantir as muralhas do Anchieta. Por isso ele foi pra cima do colega tucano para tentar desqualificar o trabalho de oposição legítima do deputado. Isso tudo dentro da Casa do parlamentar e com o apoio de uma claque, que mais parecia uma torcida organizada instruída a aplaudir Colnago e vaiar Majeski. Um comportamento, registre-se, inaceitável para secretários de Estado.
Apesar do requinte da produção, o objetivo não foi alcançado pelo governo. Majeski continua sendo um grande obstáculo para PH. Pior, talvez tenha saído ainda mais fortalecido do episódio como representante da oposição. Isso tudo num cenário que o deputado não prega mais sozinho no deserto. A comunidade dos insatisfeitos com o governo PH e as lideranças políticas que não comungam mais da sua doutrina têm crescido dia após dia.
O desafio persiste: o que PH vai fazer para se livrar de Majeski?
O deputado oposicionista está justamente no partido dos sonhos de PH. No início deste ano, a investida de PH para ingressar no PSDB deu água. Ficou patente que a maioria dos tucanos não quer a companhia do governador. A justificativa para fechar a porta para PH é a seguinte: aonde ele chega, chega para dominar ou desagregar.
O embate entre Colnago e Majeski obviamente terá repercussão interna no PSDB. Os tucanos bicudos ao deputado terão que aprender a lidar com ele, sobretudo no período eleitoral que se aproxima.
A pergunta que fica é de que tamanho estará Majeski na linha de largada da corrida eleitoral? É preciso registrar que hoje o deputado corre sem companhia na raia da oposição, o que pode lhe garantir certa vantagem. Ele ainda tem a seu favor um currículo político limpinho, limpinho, o que, em tempo de Lava Jato, Odebrecht, JBS e tudo o mais é uma enorme vantagem. Nessa linha de partida das eleições de 2018, que outros competidores podem abrir a boca sem receio para dizer que têm a ficha limpa?
Na chamada “Era PH”, como o ornato da expressão já supõe, Paulo Hartung deu as cartas na política capixaba a seu bel-prazer, sendo direto: deitou e rolou. Nem o mais visionário dos analistas políticos poderia prever que um professor, eleito com modestos 12.007 votos, neófito na política, pudesse fazer tremer o todo-poderoso do Espírito Santo.